Ofensiva russa na Ucrânia se intensifica apesar de retomada das negociações
17:11 | Mar. 15, 2022
A ofensiva russa na Ucrânia se intensificou nesta terça-feira (15), com uma série de bombardeios em Kiev, apesar da retomada das negociações e de uma significativa concessão do presidente ucraniano, que disse estar disposto a desistir de ingressar na Otan.
Quatro pessoas morreram no bombardeio de um edifício de 15 andares no distrito de Sviatoshyn, na zona oeste da capital, informaram os serviços de emergência ucranianos.
"Às 4h20, tudo tremeu com força. Levantei, minha filha correu e perguntou: 'Você está viva?'. Mas, em um dos quartos, não conseguimos tirar meu genro e meu neto, então quebramos as portas e eles conseguiram sair", contou à AFP Lyubov Gura, de 73 anos, que morava no 11º andar.
Outro prédio de nove andares foi atingido no bairro de Podil, a noroeste, mais próximo do centro da cidade, e uma pessoa ficou ferida.
No dia anterior, no extremo noroeste da capital, Pierre Zakrzewski, cinegrafista da Fox News, foi morto, e seu colega Benjamin Hall ficou ferido, indicou nesta terça a rede de televisão americana.
O prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, anunciou um toque de recolher de 35 horas a partir das 20h00 (15h00 de Brasília) desta terça-feira, uma decisão motivada pelo momento especialmente perigoso - metade da população da capital fugiu desde o início da invasão russa.
Desde a sexta-feira, os combates se espalharam para o oeste. Um ataque na segunda-feira contra uma torre de televisão perto de Rivne, noroeste, deixou 19 mortos.
Na grande cidade de Dnipro, no leste, relativamente intocada até então, o aeroporto foi bombardeado nesta terça, causando uma "destruição em massa", segundo seu prefeito, que a princípio não mencionou vítimas.
No sul, os russos continuam tentando tomar Mariupol, uma estratégica cidade portuária no mar de Azov, que está sitiada há dias.
Porém, de acordo com o Estado-Maior ucraniano, eles perderam 150 soldados na ofensiva e "retiraram-se". Esta informação não pôde ser confirmada por fontes independentes.
No entanto, cerca de 2.000 veículos conseguiram sair da cidade, informaram as autoridades, e outros 2.000 carros estão esperando para ir embora. Mas quase 300.000 pessoas ainda estão presas sem água, eletricidade, aquecimento e alimentos.
Em quase três semanas de conflito, mais de três milhões de pessoas fugiram da Ucrânia, principalmente para a Polônia, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM). Entre eles, 1,4 milhão de crianças, ou seja, "quase uma criança por segundo", ressaltou o Unicef.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, denunciou que desde o início da invasão 97 crianças morreram em bombardeios russos contra "escolas, hospitais e lares".
A capital recebeu nesta terça-feira os primeiros-ministros da Polônia, República Tcheca e Eslovênia, que viajaram de trem para uma reunião com Zelensky e o primeiro-ministro Denys Shmygal, segundo uma publicação no Facebook do chefe de governo polonês, Mateusz Morawiecki.
O objetivo da visita é "reafirmar o apoio inequívoco do conjunto da União Europeia (UE) à soberania e independência da Ucrânia", afirma o texto.
A visita coincide com a retomada das negociações russo-ucranianas, interrompidas no dia anterior.
"As negociações estão em andamento", disse Mykhailo Podoliyak, negociador-chefe da delegação ucraniana, no Twitter. Entre os temas a serem abordados estão "um cessar-fogo e a retirada das tropas russas" do território ucraniano, acrescentou.
As conversas acontecem por videoconferência após três rodadas presenciais em Belarus e uma reunião na quinta-feira passada na Turquia entre os ministros das Relações Exteriores da Rússia e da Ucrânia.
O Kremlin considerou prematuro fazer qualquer "prognóstico", depois que um assessor da presidência ucraniana apontou a possibilidade de um acordo de paz antes do "final de maio".
Mas nesta terça-feira a situação parecia ter um desenvolvimento importante após uma declaração do presidente Zelensky, que afirmou que era preciso admitir que a Ucrânia nunca entraria na Otan.
"Durante anos ouvimos que as portas estavam abertas, mas também ouvimos que não podíamos nos unir. Essa é a verdade e deve ser reconhecida", disse ele em videoconferência com chefes militares.
Putin justificou em parte a invasão da Ucrânia por temores de que esta ex-república soviética se juntasse à aliança militar ocidental.
Na Rússia, um tribunal condenou a mulher que invadiu um programa de notícias governista para denunciar a ofensiva na Ucrânia a pagar uma multa.
Marina Ovsiannikova foi declarada culpada de uma "infração administrativa" e terá que pagar 30.000 rublos (cerca de 275 dólares), mas não foi presa.
"Não à guerra. Não acreditem na propaganda. Aqui estão mentindo para vocês", dizia o cartaz que a mulher exibiu no set de uma rede de televisão.
O uso da palavra "guerra" na mídia russa ou por particulares para descrever a intervenção na Ucrânia é passível de processo e fortes penalidades. As autoridades russas definem a ofensiva como uma "operação militar especial".
Enquanto isso, o Ocidente segue apertando suas sanções contra a Rússia, com uma quarta série de medidas da União Europeia, que inclui bloqueios ao acesso a bens de luxo e instituições financeiras internacionais.
O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos anunciou ainda novas sanções contra o presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, e sua esposa, por corrupção e violações de direitos humanos.
A Rússia, por sua vez, adotou pela primeira vez nesta terça contra-sanções, contra o presidente americano Joe Biden, o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau e vários membros de seus governos.
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