Nova rodada de negociações entre Rússia e Ucrânia em meio a bombardeios em Kiev e Donetsk
11:10 | Mar. 14, 2022
Uma nova rodada de negociações entre Rússia e Ucrânia começou nesta segunda-feira (14) por videoconferência, enquanto os combates são cada vez mais intensos, com 17 mortos em um bombardeio na região separatistas pró-russa de Donetsk e duas vítimas civis em ataques contra Kiev.
Nos últimos dias, os combates se tornaram mais violentos nas proximidades da capital ucraniana, quase totalmente cercada.
O Kremlin afirmou que o exército russo não descarta "tomar o controle total das principais cidades que já estão cercadas". Isto implicaria uma ofensiva militar de grande envergadura, diante de uma resistência que se mostra feroz.
Durante a madrugada desta segunda, um edifício de oito andares do bairro de Obolon, na zona norte de Kiev, "foi alvo de um disparo de artilharia", que provocou uma morte e deixou 12 feridos, segundo as equipes de emergência ucranianas. Mais tarde, um bombardeio em outro bairro, perto da fábrica de aviões Antonov, deixou outra vítima fatal.
Na periferia ao noroeste de Kiev, cenário de combates violentos há vários dias, morreu no domingo o documentarista americano Brent Renaud, o primeiro jornalistas estrangeiros falecido no conflito, vítima de tiros de origem ainda desconhecida.
A capital "é uma cidade em estado de sítio", afirmou no domingo um conselheiro do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
Em Donetsk, os separatistas pró-Rússia, apoiados por Moscou e que controlam o centro industrial desde 2014, anunciaram que um bombardeio do exército ucraniano deixou pelo menos 17 mortos no centro da cidade. Eles publicaram fotos que mostram corpos ensanguentados em uma rua repleta de escombros.
Mais a oeste, em outra grande cidade industrial, Dnipro, até agora considerada um refúgio para os civis procedentes de Kharkiv ou Zaporizhzhia, as sirenes de alarme foram ouvidas durante cinco horas, pela primeira vez desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro.
Nenhum projétil caiu na cidade, mas "não há nenhum lugar seguro", declarou à AFP Yilena, de 38 anos, que veio de Zaporizhzhia.
No sul da Ucrânia, a Rússia apertou o cerco, segundo o ministério britânico da Defesa, que tuitou que as forças navais russas estabeleceram um "bloqueio à distancia da costa ucraniana do Mar Negro".
A situação permanece dramática no porto estratégico de Mariupol. Cercado, sem energia elétrica nem alimentos, a cidade aguarda a ajuda humanitária. De acordo com as autoridades municipais, 2.187 habitantes morreram desde 24 de fevereiro.
Quase 160 veículos conseguiram deixar Mariupol, por um corredor humanitário, nesta segunda-feira.
Os combates também chegaram ao oeste do país, que até agora estava relativamente tranquilo, com bombardeios no sábado contra a base militar de Yavoriv, perto da Polônia - país membro da Otan e da União Europeia - e de Lviv, cidade refúgio para milhares de deslocados.
Moscou afirma que dezenas de "mercenários estrangeiros" morreram. As autoridades ucranianas afirmam que todas as vítimas fatais eram civis.
O presidente ucraniano voltou a pedir que a Otan estabeleça uma zona de exclusão aérea em seu território, o que a aliança militar rejeita para não se ver envolvida na guerra.
"Se não fecharem o nosso céu é questão de tempo para que os mísseis russos caiam em seu território, território da Otan, as casas de cidadãos da Otan", declarou o presidente em um vídeo.
Neste contexto foram retomadas as negociações, desta vez por videoconferência, entre as delegações da Rússia e da Ucrânia.
Pouco antes do início, Mikhailo Podolyak, negociador e conselheiro de Zelensky, afirmou que a Ucrânia seguiria exigindo um "cessar-fogo imediato e a retirada de todas as tropas russas".
"Apenas depois disso poderemos falar de nossas relações e de nossas divergências políticas", escreveu no Twitter.
As negociações anteriores entre russos e ucranianos fracassaram, mas desta vez as duas partes parecem mais otimistas.
Do lado russo, Leonid Slutsky, da equipe de negociações, admitiu "avanços significativos", em uma entrevista no domingo ao canal estatal RT.
As conversas vão continuar na terça-feira.
Para Zelensky, sua delegação tem uma meta clara: Fazer tudo para assegurar uma reunião de presidentes, "uma reunião que tenho certeza as pessoas estão esperando".
O presidente falará ao Congresso dos EUA na quarta-feira. "Estamos ansiosos pelo privilégio de receber o discurso do presidente Zelensky na Câmara e no Senado e transmitir nosso apoio ao povo da Ucrânia enquanto defendem corajosamente a democracia", disseram a presidente da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, e seu colega do Senado, Chuck Schumer, em uma carta conjunta aos legisladores.
Enquanto prosseguem as negociações, persiste o temor de propagação do conflito e as ações diplomáticas são intensas.
Funcionários de alto escalão dos Estados Unidos e da China se reúnem em Roma nesta segunda-feira. A Casa Branca está preocupada com uma possível ajuda de Pequim a Moscou.
E grandes manobras militares da Otan, o exercício "Cold Response 2022", planejadas há muito tempo, começaram nesta segunda-feira na Noruega, com o objetivo de testar a capacidade dos países membros de ajudar quando um deles é atacado. Quase 30.000 soldados, 200 aviões e 50 navios de 27 nações serão mobilizados no Ártico.
Os países ocidentais voltaram a expressar apoio à Ucrânia no domingo. O chefe da diplomacia americana Antony Blinken, garantiu ao chanceler ucraniano, Dmytro Kuleba, "a solidariedade inquebrantável dos Estados Unidos à Ucrânia", segundo o porta-voz Ned Price.
Washington e seus aliados europeus enviaram fundos e ajuda militar para ex-república soviética. Também adotaram sanções econômicas sem precedentes contra a Rússia.
Mas o governo dos Estados Unidos descartou uma intervenção direta e o presidente Joe Biden advertiu que se a Otan entrar em combate contra a Rússia será "a Terceira Guerra Mundial".
Biden conversou no domingo com o presidente francês, Emmanuel Macron, e ambos "destacaram seu compromisso de responsabilizar a Rússia por suas ações e apoiar o governo e o povo da Ucrânia", informou a Casa Branca.
Diante das sanções que congelam 300 bilhões de dólares de reservas da Rússia no exterior, Moscou acusa os países ocidentais de tentar provocar um "default artificial".
"As declarações de que a Rússia não pode cumprir as suas obrigações em relação à sua dívida pública não correspondem à realidade", insistiu o ministério das Finanças, antes de acrescentar que "o congelamento de contas em moeda estrangeira do Banco da Rússia e do governo pode ser visto como o desejo de alguns países estrangeiros de organizar um default artificial".
As sanções deixam a Rússia em dificuldades no momento de enfrentar vários pagamentos da dívida em outras divisas e que vencem em março e abril, o que provoca recordações do humilhante calote de 1998.
Outro efeito da disputa entre russos e ocidentais foi o impacto na rede social Instagram, que pertence ao grupo americano Meta, que estava inacessível nesta segunda-feira na Rússia.
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