China, o Eldorado do gás russo?
Atingida por duras sanções ocidentais, a Rússia está apostando na forte demanda por petróleo e gás da China para liberar suas reservas.
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As necessidades energéticas da China, que compartilha mais de 4.000 km de fronteira com a Rússia, aumentaram enormemente, acompanhando seu crescimento econômico.
No ano passado, a China foi o segundo maior consumidor de petróleo do mundo, atrás dos Estados Unidos, e o terceiro maior consumidor de gás, cuja demanda continua crescendo.
Em 2030, as necessidades de gás do gigante asiático serão 40% maiores do que em 2020, alerta a Agência Internacional de Energia (AIE).
O gás russo representa apenas 5% do consumo chinês.
Embora os volumes de gás consumidos pela China continuem aumentando, ainda são muito inferiores às importações europeias, principal destino do gás russo.
No ano passado, a União Europeia (UE) importou 155 bilhões de metros cúbicos de gás russo, segundo a AIE, ou seja, cerca de 10 vezes mais que a China.
Além disso, a Rússia fornece à China 16% de seu petróleo, uma média de 1,59 milhão de barris por dia no ano passado, segundo o banco ANZ.
Para se abastecer de gás russo, a China tem duas opções: através de gasodutos ou com terminais de gaseificação por onde o gás natural liquefeito (GNL) é transportado, geralmente por via marítima.
O primeiro gasoduto Rússia-China entrou em serviço em 2019. Batizado de "Power of Siberia" (Poder da Sibéria), o tubo conecta, por mais de 2.000 km, depósitos no leste da Sibéria com a fronteira chinesa.
A seção chinesa, que no futuro deverá facilitar o fornecimento de gás para Xangai, está dividida em três partes. Uma delas ainda será construída.
O conjunto estará totalmente operacional em 2025.
"Power of Siberia" será capaz de fornecer 38 bilhões de m3 por ano.
Além disso, está contemplada a construção de um segundo gasoduto, "Power of China 2", que deverá cruzar a Mongólia. Se o trabalho for realizado, a infraestrutura fornecerá 50 bilhões de metros cúbicos de gases adicionais à China, segundo a televisão pública CCTV.
O gasoduto russo-chinês é acompanhado por um enorme contrato de fornecimento de gás de 400 bilhões de dólares por 30 anos, assinado pela Gazprom e pela CNPC chinesa em maio de 2014, após uma década de negociações.
Coincidência ou não, alguns meses antes, Moscou havia invadido a península ucraniana da Crimeia.
Essa decisão do presidente russo Vladimir Putin desencadeou uma enxurrada de sanções ocidentais e esfriou as relações entre a Rússia e os europeus.
Três semanas antes de invadir a Ucrânia, o presidente russo disse a Pequim que estava preparando um novo contrato para fornecer 10 bilhões de metros cúbicos de gás natural à China.
Além da Rússia, a China tentou diversificar suas fontes de abastecimento nos últimos anos.
Seu maior fornecedor de gás é, de longe, o Turcomenistão, à frente do Cazaquistão, Uzbequistão e Mianmar.
Apesar das tensões com Canberra, a Austrália é o país que mais vende gás natural liquefeito à China (39% da quota de mercado), à frente dos Estados Unidos (11%), Catar, Malásia e Indonésia, segundo dados oficiais.
No ano passado, a China também se aproximou dos Estados Unidos, apesar das relações tumultuadas, em um cenário de interrupções nas cadeias de suprimentos globais.
A gigante petrolífera chinesa Sinopec assinou um acordo no final de 2021 de 20 anos com a americana Venture Global para fornecer GNL.
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