EUA reforçam sanções e Rússia mantém ofensiva na Ucrânia
17:25 | Mar. 11, 2022
Os Estados Unidos aumentaram nesta sexta-feira (11) as sanções à Rússia pela invasão da Ucrânia, uma ofensiva que avança com suas tropas no oeste e centro e aperta o cerco à capital, Kiev.
Centenas de milhares de civis continuam presos sob bombardeios enquanto mais de 2,5 milhões fugiram do país, segundo estimativas da ONU.
A situação é particularmente grave na cidade portuária de Mariupol (sul), onde, segundo as autoridades locais, 1.500 pessoas morreram desde que a Rússia praticamente a isolou do mundo há doze dias.
O representante local do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Sasha Volkov, alertou que alguns moradores "começaram a brigar por comida" e que muitos ficaram sem água potável.
Países ocidentais impuseram pesadas sanções a Moscou e enviaram fundos e reforços militares para a Ucrânia, mas não conseguiram impedir o avanço da Rússia, que realizou vários bombardeios nas primeiras horas desta sexta-feira.
O presidente americano Joe Biden anunciou que os Estados Unidos, juntamente com seus aliados do G7 e a União Europeia (UE), decidiram excluir a Rússia do regime de reciprocidade no comércio mundial, o que abre caminho para a imposição de tarifas punitivas contra Moscou.
Os Estados Unidos e a UE proibiram a exportação de produtos de luxo para a Rússia.
"Putin deve pagar o preço, ele não pode iniciar uma guerra que ameace os fundamentos da paz e da estabilidade internacionais e depois pedir ajuda à comunidade internacional", disse Biden.
As primeiras negociações de alto nível entre os dois lados na quinta-feira não progrediram em direção a um cessar-fogo, mas o presidente russo Vladimir Putin reconheceu "passos positivos" nas negociações.
Esse comentário animou as bolsas dos Estados Unidos e da Europa.
Este otimismo, no entanto, não foi percebido em campo.
Três mísseis atingiram edifícios civis na cidade de Dnipro, no centro da Ucrânia, nesta sexta-feira, destruindo uma fábrica de calçados e matando um segurança.
Até agora, a cidade havia sofrido poucos ataques, tornando-se um centro de coordenação de ajuda humanitária e recepção de pessoas deslocadas.
"Hoje deveríamos receber pessoas que precisam de muito apoio... agora não podemos ajudar ninguém", disse Svetlana Kalenecheko, que vive e trabalha em uma clínica danificada pelo ataque.
Os bombardeios noturnos também atingiram as cidades de Chernihiv (norte), Sumy (nordeste) e Kharkiv (leste), fortemente atingidas pela ofensiva russa. Os ataques causaram danos a edifícios residenciais e infraestruturas de abastecimento de água e eletricidade.
Perto de Oskil, na região de Kharkiv, uma instalação para pessoas com deficiência foi alvo de bombardeios russos, porém não há relatos de vítimas fatais.
A Rússia anunciou que os aeroportos militares de Lutsk e Ivano-Frankivsk, perto da fronteira com a Polônia, estavam "fora de operação". As autoridades locais afirmam que quatro soldados ucranianos foram mortos.
O governo russo prometeu abrir diariamente corredores humanitários para os ucranianos fugirem dos combates e chegarem à Rússia, mas a Ucrânia se recusa a evacuar seus cidadãos para o país agressor e reivindica corredores dentro de suas fronteiras.
O exército ucraniano alertou em um relatório que "o inimigo está tentando eliminar as defesas das forças ucranianas" em vários locais a oeste e ao norte de Kiev com o objetivo de "bloquear a capital".
Esta fonte não excluiu "um movimento inimigo para o leste na direção de Brovary", nos portões de Kiev.
O prefeito da capital, o famoso ex-boxeador Vitali Klitchko, disse que metade da população foi embora e que a cidade, antes com quase 3 milhões de habitantes, "se transformou em uma fortaleza".
"Cada rua, cada prédio, cada posto de controle foi fortificado", disse ele.
Desde o início da ofensiva, em 24 de fevereiro, as forças invasoras cercaram pelo menos quatro grandes cidades ucranianas e enviaram veículos armados para o flanco nordeste de Kiev, onde subúrbios como Irpin ou Busha foram bombardeados por dias.
Soldados ucranianos descreveram intensos combates para controlar a principal rodovia que leva à capital.
O Ministério da Defesa britânico indicou que esta estratégia de cidades vizinhas "reduzirá o número de forças disponíveis para avançar e retardar o progresso russo".
Nesta sexta-feira, o Kremlin apontou que cidadãos da Síria e de outras partes do Oriente Médio podem ser autorizados a lutar ao lado das forças russas na Ucrânia.
O presidente ucraniano Volodimir Zelensky acusou a Rússia de contratar "assassinos da Síria, um país onde tudo foi destruído pelos ocupantes, algo que eles estão nos fazendo passar".
Em uma mensagem gravada do lado de fora do escritório presidencial em Kiev, Zelensky também pediu à União Europeia (UE) que "faça mais" para ajudar a Ucrânia.
Os países ocidentais até agora ofereceram apoio militar e humanitário à Ucrânia e estão considerando aumentar as sanções contra Moscou.
Em entrevista à AFP, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, enfatizou nesta sexta-feira que a Aliança tem "a responsabilidade de impedir que esse conflito se intensifique além das fronteiras da Ucrânia e se transforme em uma guerra aberta entre a Rússia e a Otan".
O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, disse nesta sexta-feira que propôs aos líderes do bloco, reunidos em uma cúpula na França, uma contribuição adicional de 500 milhões de euros (548 milhões de dólares) em ajuda militar para a Ucrânia.
A Meta, controladora do Facebook e do Instagram, anunciou na quinta-feira que abriria exceções às suas regras em relação a postagens hostis aos militares e ao governo russo.
A Rússia anunciou uma ação legal contra a empresa, pelo que considerou uma "chamada ao assassinato de russos".
O Alto Comissariado para os Direitos Humanos expressou nesta sexta-feira sua preocupação com a flexibilização das regras anunciada pela Meta.