Guerra na Ucrânia testa relação "sem limites" da China com a Rússia
O presidente chinês, Xi Jinping, e o colega russo, Vladimir Putin, brindaram a amizade "sem limites" em um encontro em fevereiro, mas um mês depois, a relação passa por um teste com a guerra na Ucrânia.
Com a crescente indignação e as sanções internacionais contra a Rússia, Pequim tenta evitar ser novamente afetada por sua associação com Moscou, enquanto preservar os vínculos estreitos.
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Ex-rivais na Guerra Fria, China e Rússia se aproximaram desde que Xi Jinping chegou ao poder há quase uma década, motivados pelo desejo compartilhado de confrontar o poderio dos Estados Unidos.
Mas a China parece ter sido pega de surpresa pela ofensiva militar russa, a forte resistência ucraniana e pela reação internacional contra a ação do Kremlin.
A China, que exige respeito a sua integridade territorial em disputas com os vizinhos, teve que fazer um malabarismo retórico sobre a Ucrânia para não irritar a Rússia.
Pequim apoiou as preocupações de segurança de Moscou a respeito de Kiev e a expansão da Otan, e se negou a condenar Moscou.
O governo chinês corre o risco de aparecer como um facilitador de Putin, o que poderia irritar os aliados comerciais ocidentais e colocar em perigo os vínculos desenvolvidos durante anos com Rússia e Ucrânia.
A situação paralisou a China, de acordo com Richard Ghiasy, analista do 'Hague Centre for Strategic Studies'.
"Os interesses de segurança quase sempre superam os interesses econômicos nos cálculos chineses, e isso não fará com que adote uma postura mais pró-Ucrânia, afirmou à AFP.
A Rússia é "um gigante, um vizinho com armas nucleares e rico em recursos que a China não quer irritar", segundo Ghiasy.
A posição difícil de Pequim foi agravada pela saída de 6.000 de seus cidadãos da Ucrânia, que deixam o país por estrada e trem com destino a países vizinhos ao lado de outros deslocados.
Vários governos recomendaram que seus cidadãos deixassem a Ucrânia, mas a China se recusou a fazer tal anúncio.
Pequim pediu "calma" a seus cidadãos e que permanecessem em suas casas, apesar do avanço das tropas russas no território ucraniano. O país teve que cancelar uma operação de retirada aérea depois que a Ucrânia fechou seu espaço aéreo para aviões civis.
Em um exemplo que reflete como interpretou a situação de maneira equivocada, a embaixada na Ucrânia inicialmente pediu a seus cidadãos que exibissem a bandeira chinesa em seu veículos como medida de proteção, mas depois teve que fazer uma retratação ao perceber a reação hostil de alguns ucranianos.
"A posição política adotada pelo governo chinês dificultou as coisas para os cidadãos chineses no país", disse Manoj Kewalramani, professor de estudos chineses no instituto Takshashila, da Índia.
"Se acontecerem baixas chinesas na Ucrânia, então a neutralidade pró-Rússia do governo chinês que vemos hoje será mais difícil de manter", acrescentou.
Sem muita margem de manobra, a China adotou o papel de mediador.
Xi Jinping pediu na semana passada a Putin para resolver a crise com um "mecanismo sustentável de segurança europeia por meio da negociação". O ministro chinês das Relações Exteriores disse ao colega ucraniano que Pequim "lamenta" o conflito e espera que as duas partes encontrem uma solução diplomática.
Mas neste papel de mediação, a China não usará sua influência para fazer Putin mudar de atitude, afirma Steve Tsang, diretor do Instituto da China da da London's School of Oriental and African Studies.
"Trata-se de neutralidade para o exterior, mas na realidade está do lado russo", explica Tsang.
Uma solução negociada seria o cenário menos negativo para a China, segundo analistas.
O pior cenário, disse Tsang, seria que o endurecimento das sanções contra a Rússia, ou o fracasso de seus objetivos militares na Ucrânia, provocasse uma revolta que derrubasse Putin e levasse a um governo pró-Ocidente em Moscou.
"Duvido que Xi queira ver uma escalada maior na guerra ucraniana", afirma Tsang.
"Mas gostaria de ver Putin conseguir o que deseja sem provocar tanto dano colateral (...) a China e seus vínculos com o restante do mundo", conclui.
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