Putin ameaça existência da Ucrânia como Estado após endurecimento de sanções
07:42 | Mar. 06, 2022
O presidente russo, Vladimir Putin, ameaçou a existência da Ucrânia como um Estado no momento em que a invasão contra o país enfrenta uma intensa resistência e a economia de Moscou está cada vez mais asfixiada pela onda de sanções internacionais.
Em sintonia com a série de sanções impostas pelos países ocidentais e seus aliados desde que Putin ordenou a invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro, os grupos de cartões de crédito Visa e Mastercard anunciaram a suspensão de suas operações na Rússia.
A escalada de sanções pretende isolar Moscou, que também enfrenta um boicote diplomático, esportivo e cultural.
No sábado, Putin fez uma dura ameaça contra as autoridades ucranianas e afirmou que "se continuarem fazendo o que estão fazendo", estas deixarão o futuro da Ucrânia como "Estado" em risco.
"E se isto acontecer, eles serão plenamente responsáveis", acrescentou o presidente russo.
Desde a invasão, o custo humanitário e econômico da guerra só aumenta e 1,5 milhão de pessoas já fugiram da Ucrânia, segundo a ONU. As autoridades informaram que centenas de civis morreram nos ataques.
O exército ucraniano informou que seus "principais esforços estão concentrados em defender a cidade de Mariupol".
Mariupol - um porto estratégico no Mar de Azov - está há vários dias sob intenso cerco russo, sem energia elétrica, água e alimentos. Várias tentativas de retirar os civis foram suspensas por violações do cessar-fogo anunciados.
As autoridades de Mariupol anunciaram neste domingo que estabeleceram com os russos um cessar-fogo para iniciar a retirada da população civil a partir de meio-dia (7H00 de Brasília).
A queda deste porto representaria um ponto de virada na guerra porque permitiria à Rússia unir as tropas que avançam a partir da península da Crimeia - anexada por Moscou em 2014 - com as forças que entram no país a partir da região de Donbass, no leste.
Os militares ucranianos anunciaram uma "batalha intensa" com as tropas russas pelo controle da cidade de Mykolaiv, no sul do país, e de Chernihiv, ao norte, perto da fronteira. Soldados também combatem em Donetsk (leste).
A Ucrânia pressiona o Ocidente para aumentar a ajuda militar ao país país, incluindo a entrega de aviões de combate. O presidente Volodymyr Zelensky implorou aos vizinhos do leste europeu que forneça aviões russos e disse que seus cidadãos são capazes de pilotar as aeronaves.
Putin também ampliou as advertências contra a Otan.
Se uma zona de exclusão aérea for imposta, haverá "consequências colossais e catastróficas não apenas na Europa, mas em todo o mundo", alertou, acrescentando que qualquer movimento neste sentido será considerado pela Rússia como "participação no conflito armado".
O presidente também criticou as sanções como "uma forma de guerra contra a Rússia".
"As sanções contra a Rússia são como uma declaração de guerra, mas graças a Deus ainda não estamos neste ponto", disse Putin, que negou o boato de que o Kremlin estaria planejando impor a lei marcial.
Visa e Mastercard anunciaram a suspensão das operações na Rússia e se uniram à longa lista de multinacionais que bloquearam os negócios com a Rússia desde a invasão, como Intel, Airbnb, Hermes ou Chanel.
A guerra já teve consequências econômicas não apenas para a Rússia. O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou que seus impactos seriam "ainda mais devastadores" em caso de intensificação do conflito.
A principal consequência imediata foi o aumento do preço do petróleo, por temores de problemas de abastecimento, pois a Rússia é o terceiro maior exportador de petróleo bruto do mundo.
Como parte da frenética atividade da diplomacia, Zelensky anunciou neste domingo que conversou por telefone com o presidente americano Joe Biden.
"A agenda incluiu temas de segurança, apoio financeiro para a Ucrânia e a continuidade das sanções contra a Rússia", escreveu Zelensky no Twitter.
Horas antes, o presidente ucraniano falou por videoconferência com os congressistas americanos e pediu mais ajuda para seu país, assim como um embargo contra a compra de petróleo russo.
Os legisladores dos Estados Unidos prometeram mais 10 bilhões de dólares em ajuda, mas a Casa Branca descartou no momento a proibição das importações de petróleo russo por temer que isto provoque aumento nos preços, o que afetaria os americanos.
Países ocidentais enviaram armas, munições e recursos à Ucrânia. Na semana passada, Washington autorizou uma entrega recorde de material militar de 350 milhões de dólares para o país do leste europeu.
As tropas russas se aproximam cada vez mais de Kiev, com ataques cada vez mais indiscriminados e fatais para os civis.
Os bairros operários nos arredores de Kiev, como Bucha e Irpin, já estão na linha de fogo, e os últimos ataques aéreos convenceram muitos moradores de que chegou o momento de fugir.
"Eles estão bombardeando áreas residenciais, escolas, igrejas, prédios, tudo", lamentou a contadora Natalia Didenko.
Ao norte do país, em Chernihiv, uma cidade próxima da fronteira com Belarus e Rússia, dezenas de civis morreram.
"Havia corpos no chão por toda parte. Eles estavam esperando para entrar na farmácia aqui e estão todos mortos", disse à AFP um homem que pediu para ser identificado apenas pelo primeiro nome, Serguei, em meio ao barulho das sirenes de alerta.
Correspondentes da AFP observaram cenas de devastação no local, apesar de Moscou insistir que não ataca áreas civis.
Zelensky disse no sábado que as forças ucranianas estavam resistindo em Kharkiv - a segunda maior cidade do país - e que infligiram um número de baixas aos russos que eles não poderiam imaginar "nem em seus piores pesadelos".
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