Coreia do Sul escolhe presidente entre antifeminista e liberal envolvido em escândalos
Nos últimos anos, a política sul-coreana observou um "aprofundamento da divisão", com eleições mais centradas em rivalidades partidárias que em propostas
11:07 | Mar. 06, 2022
A Coreia do Sul definirá seu novo presidente na próxima quarta-feira, 9, entre um candidato conservador antifeminista e um liberal perseguido por escândalos.
O ex-procurador Yoon Suk-yeol, do Partido Poder Popular, e o ex-governador Lee Jae-myung, do Partido Democrático (atualmente na presidência) aparecem empatados nas pesquisas.
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A campanhas não são baseadas nas promessas eleitorais ou na política adotada a respeito da Coreia do Norte, e sim no que a imprensa chama de "ciclo de vingança" da política sul-coreana.
"Esta eleição é a batalha entre duas forças opostas, os progressistas e os conservadores", explica a analista política Park Sang-byoung.
Os presidentes sul-coreanos podem ter apenas um mandato de cinco anos. E todos os ex-presidentes vivos foram investigados e detidos por corrupção depois que deixaram o cargo.
O atual presidente, Moon Jae-in, chegou ao poder depois que sua antecessora, Park Geun-hye, foi destituída por um escândalo de tráfico de influência que resultou na prisão de um herdeiro do grupo Samsung.
Agora os conservadores próximos a Park querem vingança.
De modo irônico, seu candidato Yoon era procurador-chefe do atual governo e processou Park quando ela foi destituída, uma experiência que aumentou sua popularidade e o levou a entrar para a política.
Nos últimos anos, a política sul-coreana observou um "aprofundamento da divisão", com eleições mais centradas em rivalidades partidárias que em proposta, comenta o analista político Yoo Jung-hoon.
"Muitos conservadores continuam ressentidos com a destituição de Park Geun-hye", explica.
Yoon propôs aos eleitores irritados a possibilidade de "vingança" pela saída de Park, com a ameaça de investigar Moon por "irregularidades" que ele não especificou.
Seus comentários foram refutados pela Casa Azul, a sede presidencial, e o candidato do partido governista Lee disse que mostram que o rival não está qualificado para governar.
Mas, de acordo com os analistas, esta é política habitual em Seul.
"O governo de Moon processou muitos ex-funcionários públicos sob a alegação de erradicar a corrupção", destaca Shin Yul, professor de Ciência Política da Universidade de Myongji.
"Espero que o mesmo padrão seja aplicado ao governo de Yoon caso irregularidades sejam detectadas", comenta.
A esposa de Yoon inadvertidamente apresentou em janeiro um indício da campanha, ao afirmar que inimigos e críticos serão processados se o marido vencer a eleição porque esta é "a natureza do poder", de acordo com comentários gravados divulgados após uma disputa legal.
As pesquisas mostram que as preocupações dos eleitores são o aumento do custo de moradia em Seul, a estagnação econômica e o persistente desemprego entre os jovens. Mesmo assim, a campanha se concentrou em ataques pessoais.
Lee, ex-prefeito e ex-governador provincial, apresentou uma série de propostas, de uma renda básica universal até uniformes escolares gratuitos, mas que foram ofuscadas pela cobertura da imprensa de seus escândalos.
Ele é investigado por uma suposta operação imobiliária, sobretudo após o suicídio de duas testemunhas importantes.
Também teve que começar a campanha com um pedido de desculpas por um telefonema a um parente repleto de palavrões, sua esposa foi acusada de desviar dinheiro público e ele é perseguido por boatos de vínculos com a máfia.
Mas seu rival Yoon também cometeu uma série de gafes, a mais recente quando teve que apagar uma mensagem no Twitter sobre a a Ucrânia na qual incluiu a imagem de uma tangerina com um rosto irritado, uma referência bizarra à Revolução Laranja daquele país.
Mas a proposta mais polêmica de Yoon é a de acabar com o ministério da Igualdade de Gênero por afirmar que, apesar dos dados que mostram o contrário, as mulheres sul-coreanas "não enfrentam discriminação sistêmica de gênero".
Yoon também é mais duro que Lee com a Coreia do Norte e ameaçou ordenar um ataque preventivo se considerar necessário.
Apesar de ter executado sete testes de armamento em janeiro, a Coreia do Norte não é um tema crucial nas eleições, segundo os analistas.
"Os lançamentos do Norte têm impacto mínimo nas eleições porque acabou a concorrência sul-coreana com o Norte pela supremacia", destaca o analista Yoo Jung-hoon.