Rússia aumenta controle da informação em pleno conflito na Ucrânia

09:30 | Mar. 04, 2022

Por: AFP

A Rússia abriu caminho nesta sexta-feira (4) para aprovar um texto com duras penas de prisão e multas para quem publicar "informações falsas" sobre o Exército, em mais uma medida de repressão interna em meio à invasão da Ucrânia.

Os deputados da câmara baixa do Parlamento russo (a Duma) aprovaram por unanimidade uma emenda que prevê penas de até 15 anos de prisão se forem divulgadas informações que busquem "desacreditar" as Forças Armadas.

Outra emenda contempla punições para quem pede "sanções contra a Rússia", justamente quando o país enfrenta grandes penalidades de países ocidentais pelo ataque à Ucrânia.

Esses textos se aplicam tanto à mídia quanto aos indivíduos. Se forem aprovadas pela câmara alta, reforçarão o arsenal das autoridades em sua guerra de informação, paralela à ofensiva na Ucrânia.

O presidente do comitê de política da informação da Duma, Alexander Khinshtein, citado pela agência de notícias Interfax, disse que a "lei se aplica a todos os cidadãos, não apenas aos da Rússia".

Para controlar ainda mais as informações que a população russa recebe sobre o conflito, as autoridades aumentaram a pressão sobre os poucos meios de comunicação independentes que continuaram trabalhando no país apesar do clima hostil.

Nesta sexta, o regulador russo Roskomnadzor anunciou ter limitado o acesso aos sites da edição em russo da BBC britânica e da emissora internacional alemã Deutsche Welle, bem como ao portal independente Meduza e à rádio Svoboda, antena russa da RFE/RL (Rádio Free Europe/Radio Liberty), um meio financiado pelo Congresso dos EUA.

Também foi difícil acessar, em alguns momentos, a rede social Facebook, cuja sede fica nos Estados Unidos.

Na quinta-feira, a emblemática estação de rádio Ekho Moskvy (Ecos de Moscou) anunciou sua dissolução devido ao assédio sofrido por sua cobertura da invasão da Ucrânia. A rede de televisão de oposição Dojd também anunciou a suspensão de suas atividades, depois de ter sido bloqueada pela Roskomnadzor por sua cobertura da invasão.

O site de notícias Znak anunciou que estava parando seu trabalho "por causa do grande número de restrições que surgiram recentemente sobre a operação da mídia na Rússia".

The Village, agenda cultural de referência em Moscou, decidiu fechar seu escritório na capital russa e transferi-la para Varsóvia (Polônia).

Essas restrições e fechamentos ocorrem em um ano particularmente difícil na Rússia para a mídia independente, a oposição política e a sociedade civil.

Inúmeras publicações e jornalistas foram rotulados de "agentes estrangeiros", categoria que os obriga a realizar procedimentos administrativos pesados, com o risco de serem processados judicialmente pela menor falta.

O principal opositor do Kremlin, Alexei Navalny, foi preso em seu retorno à Rússia, tendo sobrevivido a uma tentativa de envenenamento. Seu movimento foi desmantelado.

A Justiça russa decidiu em dezembro fechar a Memorial, uma ONG que era um pilar da defesa dos direitos humanos e guardiã da memória das milhões de vítimas dos crimes na União Soviética.

O veredicto foi confirmado após um recurso na segunda-feira. A ONG anunciou nesta sexta-feira que uma operação policial estava em andamento em seus escritórios em Moscou, levantando temores de seu fechamento efetivo.

Outra organização não governamental, a "Assistência Cívica", que ajuda os migrantes, também foi alvo de batidas policiais.

No momento, as razões para ambas as investigações são desconhecidas.

De acordo com um observatório de direitos humanos na Rússia, OVD-Info, mais de 8.000 pessoas foram presas no país (a maioria em Moscou e São Petersburgo) desde 24 de fevereiro por terem se manifestado contra a invasão da Ucrânia.

Embora a repressão afete sobretudo os russos, também há quem aponte para organizações estrangeiras.

O presidente da Duma, Vyacheslav Volodin, culpou nesta sexta-feira as redes sociais com sede nos Estados Unidos de serem "usadas como armas" para espalhar "ódio e mentiras". Algo que "devemos nos opor", explicou.

Valeri Fadeev, presidente do Conselho de Direitos Humanos do Kremlin, acusou a mídia estrangeira de espalhar notícias falsas sobre o conflito na Ucrânia.

"Lançamos um projeto (...) para combater a enorme quantidade de notícias falsas vindas da Ucrânia e de países ocidentais", disse ele.

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