Refugiado afegão na Ucrânia foge para a Polônia após avanço russo
Além de ucranianos, entre os refugiados há centenas de pessoas de outras nacionalidades, estudantes ou trabalhadores que vivem no país: afegãos, congoleses, marroquinos, indianos, equatorianos ou nepaleses
00:07 | Mar. 01, 2022
Ajmal Rahmani saiu do Afeganistão há um ano pensando que encontraria paz na Ucrânia, mas agora foge novamente, desta vez para a Polônia, ao lado de milhares de refugiados, após o avanço das tropas russas.
"Eu fugi de uma guerra, venho para outro país e outra guerra começa. Muito azar", declarou o afegão de 40 anos, que entrou na Polônia com a mulher Mina, o filho Omar, de 11 anos, e a filha Marwa, de sete, que não se separa de um cachorro de pelúcia marrom.
A família aguarda ao lado de outros refugiados no posto de fronteira de Medyka pelos ônibus de transporte até o centro de abrigo na cidade vizinha de Przemysl.
Além de ucranianos, entre os refugiados há centenas de pessoas de outras nacionalidades, estudantes ou trabalhadores que vivem no país: afegãos, congoleses, marroquinos, indianos, equatorianos ou nepaleses.
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"Trabalhei 10 anos para a Otan no aeroporto internacional de Cabul", explica Rahmani, que nasceu na capital afegã.
Ele decidiu abandonar o país quatro meses antes da saída das tropas americanas porque sentia que sua vida estava em perigo.
"Recebia ligações telefônicas em que ameaçavam meus filhos de morte. Eu contei no trabalho, mas ninguém quis ouvir, ninguém queria ajudar ou conceder um visto".
Assim, ele se exilou na Ucrânia, o único país que o acolheu, e se estabeleceu na cidade costeira de Odessa (sudoeste), no Mar Negro.
"Eu tinha uma vida boa no Afeganistão, uma casa, carro, um bom salário. Vendi tudo, perdi tudo", afirma. "Decidi partir por meus filhos, minha família, pela educação deles".
Na semana passada, quando a Rússia invadiu a Ucrânia, ele teve que deixar tudo para trás novamente. A família percorreu os 1.100 quilômetros que separam Odessa da fronteira com a Polônia.
Os últimos 30 quilômetros foram percorridos em uma longa caminhada, consequência do gigantesco engarrafamento na rodovia.
"Quando chegamos, estava tanto frio", conta. "Peguei um cobertor para minha filha, mas pouco depois ela estava muito mal e a mãe começou a chorar".
Eles receberam ajuda de uma ambulância e a polícia de fronteira ucraniana permitiu a passagem da família.
"Tivemos sorte, havia mais de 50.000 pessoas na fronteira", afirma. "Todos estavam a pé, com os bebês, as malas, esperando sua vez. E, de repente, nos deixam passar na frente deles".
A polícia de fronteira da Polônia informou no domingo que mais de 213.000 pessoas entraram no país procedentes da Ucrânia desde o início da ofensiva russa.
Ajmal Rahmani e sua família, como todos os refugiados sem visto polonês, têm agora 15 dias para apresentar um pedido oficial e regularizar sua situação, explica Tomasz Pietrzak, advogado da ONG polonesa Ocalenie, que auxilia os refugiados. Um "prazo irrealista, dado o número crescente de refugiados", explica.
"A Polônia terá que modificar rapidamente esta legislação", considera Pietrzak.
Rahmani não esconde a preocupação com o futuro da família, mas as primeiras horas na Polônia o deixaram "animado".
"Nos receberam muito bem, as pessoas são muito amáveis, sorriem, deram doces para as criança. Uma boa dose de energia para o que está para acontecer".