Ucrânia diz controlar Kharkiv, enquanto número de refugidos se multiplica
No quarto dia da ofensiva russa, as forças ucranianas têm o controle total de Kharkiv, uma cidade do nordeste de 1,4 milhão de habitantes na fronteira russa
10:49 | Fev. 27, 2022
As forças ucranianas afirmaram, neste domingo (27), que repeliram um avanço russo em Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia onde ocorrem combates de rua, enquanto o número de refugiados se aproxima de 400 mil, à medida que a pressão internacional sobre a Rússia aumenta.
No quarto dia da ofensiva russa, as forças ucranianas têm o controle total de Kharkiv, uma cidade do nordeste de 1,4 milhão de habitantes na fronteira russa, afirma o governador Oleg Sinegubov.
"Kharkiv está sob nosso controle total", escreveu Sinegubov nas redes sociais, garantindo que uma "eliminação dos inimigos na cidade" estava em andamento.
Pela manhã, um jornalista da AFP relatou combates nas ruas e viu tanques russos, abandonados, ou em chamas.
Enquanto isso, vários países - entre eles Alemanha, Itália, países escandinavos e Bélgica - anunciaram neste domingo o fechamento de seu espaço aéreo para aviões russos.
No dia anterior, o Ocidente excluiu os bancos russos do sistema bancário SWIFT, uma decisão à qual o Japão aderiu hoje, anunciando também que entregaria mais armas à Ucrânia.
A Ucrânia recorreu ao Tribunal Internacional de Justiça em Haia para ordenar que Moscou cesse as hostilidades, de acordo com o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky.
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"Vassylkiv, Kiev, Cherniguiv, Sumi, Kharkiv e muitas outras cidades vivem em condições que não víamos em nossas terras (...) desde a Segunda Guerra Mundial", lançou Zelensky, acusando a Rússia de considerar as áreas habitadas "como um alvo legítimo".
Ele elogiou a formação de uma "coalizão antiguerra" internacional para apoiar a Ucrânia e convocou os estrangeiros a irem lutar "contra os criminosos de guerra russos" na "Legião Internacional" que está sendo formada pela Ucrânia.
Desde quinta-feira, cerca de 368.000 refugiados fugiram dos combates na Ucrânia para os países vizinhos, e seu número "continua a aumentar", anunciou o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).
A Polônia já recebeu cerca de 156.000, e a Alemanha tornou os trens gratuitos para todos os ucranianos procedentes deste país.
O papa Francisco pediu a abertura "urgente" de corredores humanitários e exortou "que as armas sejam silenciadas" na Ucrânia.
Elogiado hoje pelo presidente Vladimir Putin por seu "heroísmo", o Exército russo recebeu ordens, no sábado, para expandir sua ofensiva, alegando que Kiev recusou negociações.
Em seu sermão dominical, o patriarca ortodoxo russo Kirill chamou os opositores de Moscou na Ucrânia de "forças do mal".
O Kremlin, que diz querer acabar com um suposto "genocídio" de russos na Ucrânia, acusou Kiev de não "aproveitar a oportunidade" para negociações, após uma nova oferta para conversar em Belarus, por onde a Rússia invadiu seu vizinho.
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Putin acusa a Ucrânia de 'não aproveitar a oportunidade' de manter diálogo (Kremlin)
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Putin acusa a Ucrânia de 'não aproveitar a oportunidade' de manter diálogo (Kremlin)alf/pop/thm/me/mr
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Zelensky diz ter telefonado ao presidente bielorrusso, aliado de Moscou
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Forças ucranianas controlam Kharkiv e 'eliminam' tropas russas (governo)
Zelensky respondeu que estava pronto para negociar, mas não neste país que serve como base de retaguarda para o Exército russo, antes de anunciar que havia discutido com o presidente bielorrusso, Alexander Lukatchenko.
Em Kiev, sob toque de recolher até as 8h (3h de Brasília) de segunda-feira (28), a manhã foi calma, após confrontos durante a noite "com grupos subversivos", segundo o gabinete do prefeito.
Soldados patrulhavam nervosamente as ruas com suas armas em punho e aviões voavam sobre suas cabeças.
"Não posso dizer que não estou com medo", admitiu Flora Stepanova, de 41 anos, respirando fundo em um parque, "mas é melhor do que ficar sentada na frente da televisão e assistir âs notícias o tempo todo, porque enlouquece".
Cerca de 30 quilômetros a sudoeste de Kiev, os combates continuavam pelo controle da base aérea de Vassylkiv, impedindo que os bombeiros atuassem ao amanhecer para apagar um grande incêndio em um depósito de petróleo atingido à noite perto desta cidade, segundo o chefe da administração da região de Kiev, Oleksy Kuleba.
De acordo com o Estado-Maior ucraniano, o Exército russo "não alcançou" seu "objetivo principal (que) é bloquear Kiev" e recorre à "sabotagem" com "grupos de reconhecimento que destroem a infraestrutura civil".
O Ministério russo da Defesa afirmou, por sua vez, ter cercado duas grandes cidades do sul, Kherson e Berdiansk, que têm 290.000 e 110.000 habitantes, respectivamente.
"A cidade de Genichesk e o aeródromo de Chernobayevka, perto de Kherson, também foram controlados", disse um comunicado.
Ele também falou dos separatistas pró-russos no leste, apoiados pelos militares russos, que teriam avançado, segundo Moscou, 52 quilômetros desde o início da ofensiva. No total, o Exército russo afirma ter destruído 975 instalações militares ucranianas.
Até agora, o Ministério da Defesa da Rússia não mencionou uma ofensiva em Kiev, citando disparos de mísseis de cruzeiro contra infraestruturas militares, avanços no leste - onde o Exército apoia os territórios separatistas de Donetsk e Lugansk - e no sul da Ucrânia, onde as forças russas entraram na quinta-feira pela península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014.
No sábado, a ONU contabilizou pelo menos 64 mortos entre civis e centenas de milhares de pessoas sem água, ou eletricidade.
De acordo com o Ministério da Saúde da Ucrânia, pelo menos 198 civis, incluindo três crianças, foram mortos, e 1.115 pessoas ficaram feridas desde quinta-feira. Dezenas de militares ucranianos perderam a vida nos combates.
O Exército ucraniano informou que matou mais de 4.300 soldados russos. Kiev lançou um site que permite que parentes de soldados russos mortos saibam de sua perda, enquanto Moscou mantém silêncio sobre suas baixas.
Os ocidentais se reservam "o direito de impor" novas sanções a Moscou, alertou o chanceler alemão, Olaf Scholz, dizendo que ainda está aberto a discussões.
"O mundo depois não será mais o mesmo que o mundo anterior", insistiu.
A ministra britânica das Relações Exteriores, Liz Truss, também anunciou novas sanções contra os oligarcas russos, acreditando que o conflito pode durar "vários anos".
Em seu novo pacote de sanções adotado ontem, o Ocidente excluiu muitos bancos russos da plataforma SWIFT, uma engrenagem essencial nas finanças globais. Também prometeram mais armas para a Ucrânia.
Rompendo sua política tradicional de se recusar a exportar armas letais para zonas de conflito, a Alemanha vai fornecer mil lançadores de foguetes antitanque e 500 mísseis terra-ar.
Washington prometeu nova ajuda militar de US$ 350 milhões. Holanda, Bélgica, Austrália e República Tcheca fornecerão armas letais, e a França, uma "entrega adicional de equipamentos de defesa".
A Grécia, que acusa a Rússia de ter matado ucranianos da minoria grega, Portugal e Romênia prometeram equipamentos militares neste domingo.
E, no mundo dos esportes, a Federação Internacional de Judô anunciou a "suspensão" do status de Putin como presidente honorário. Além disso, a Federação Tcheca de Futebol se recusará a enfrentar a Rússia na repescagem para o Mundial do Catar-2022, assim como Polônia e Suécia.
O gigante americano da Internet Google "suspendeu" a capacidade de os veículos financiados pelo Estado russo gerarem receita em suas plataformas.
Uma reunião dos ministros europeus do Interiores está sendo realizada para se preparar para um possível afluxo de refugiados, seguida de uma reunião de ministros das Relações Exteriores da União Europeia.