Alemanha entra em 'nova era' na política externa e de defesa

O chanceler Olaf Scholz anunciou, neste domingo (27), uma "nova era" nas políticas externa e de defesa alemãs, no momento em que a maior economia da Europa se vê forçada, após a invasão da Ucrânia pela Rússia, a abandonar décadas de relutância a aumentar seu perfil militar.

Oprimida pela culpa durante o Pós-Guerra, a Alemanha sempre se moveu de maneira discreta e silenciosa no plano mundial em relação aos conflitos.

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Em uma sessão parlamentar de emergência realizada neste domingo, Scholz enfatizou: "Com a invasão da Ucrânia, agora nos encontramos em uma nova era".

Apenas algumas horas depois de a Alemanha revogar, repentinamente, sua proibição de exportar armas letais para zonas de conflito, anunciando grandes remessas para a Ucrânia, Scholz revelou que, em 2022, serão destinados 100 bilhões de euros (quase US$ 113 bilhões) para investimentos em suas Forças Armadas.

Ele ressaltou, contudo, que um investimento desta envergadura para a "Bundeswehr" deverá estar devidamente endossado na Constituição alemã. Segundo ele, a maior economia da Europa investirá mais de 2% de seu Produto Interno Bruto (PIB) em defesa.

Esse compromisso supera os 2% reivindicados pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), deixando para trás anos de investimentos vistos como insuficientes pelos aliados da Alemanha.

As duras críticas lançadas pelo então presidente americano, Donald Trump, à então chanceler Angela Merkel pelo descumprimento alemão das metas da OTAN dificultou anos da relação transatlântica.

Scholz observou, porém, que a decisão do presidente Vladimir Putin deixou bem claro que "a Alemanha deverá investir muito mais na segurança do país".

"O objetivo é desenvolver um Exército poderoso, avançado e que nos proteja de uma maneira confiável", frisou.

Essa mudança de atitude é ainda mais notável, se for levada em consideração a composição do atual governo alemão.

Após 16 anos de governo da coalizão liderada pelos conservadores, com Merkel no comando, os socialdemocratas de centro-esquerda (SPD) de Scholz lideram o país agora, ao lado de seus parceiros minoritários: os Verdes e o partido liberal FDP.

Enquanto os Verdes sempre mantiveram uma postura contrária à exportação de armas, o SPD foi acusado de ter uma postura muito leniente em relação à Rússia, e o FDP é, com frequência, criticado por privilegiar os interesses econômicos em detrimento dos sociais e de outra natureza.

Apesar do posicionamento histórico da sigla, a atual ministra das Relações Exteriores, a "verde" Annalena Baerbock, declarou que, "neste momento, a Alemanha estaria deixando para trás uma moderação especial e única em matéria de política externa e de segurança".

"As regras que impomos a nós mesmos tampouco devem nos afastar de nossas responsabilidades. Se este é um mundo diferente, então nossa política também deve ser diferente", ressaltou.

Assim, a Alemanha entregará à Ucrânia 1.000 armas antitanque e 500 mísseis terra-ar do tipo "Stinger", retirados das reservas da "Bundeswehr", rompendo, desta forma, sua autoproibição de exportar armamento letal para zonas de conflito.

Também ajudará as tropas da OTAN no flanco leste da Europa, o que inclui enviar mais soldados para a Eslováquia, afirmou Scholz, que também disse estar disposto a se integrar à defesa do espaço aéreo aliado, mobilizando mísseis específicos.

Durante anos vítima de certa "negligência" financeira, a "Bundeswehr" mostrou suas carências a pedido do comandante-em-chefe do Exército de Terra, tenente-general Alfons Mais, no dia em que Putin ordenou que suas tropas entrassem na Ucrânia.

"As possibilidades que podemos oferecer aos políticos que apoiem (a OTAN) são muito limitadas", escreveu ele, em uma dura confissão na rede social Linkedin.

A Bundeswehr "está quase vazia", acrescentou.

hmn/age/eg/tt

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