Guerra Rússia e Ucrânia: no 3º dia, Kiev resiste a cerco do exército russo
Presidente ucraniano convoca compatriotas a resistirem a avanço russo em direção a Kiev. Capital do país está sob toque de recolher diante do cerco das tropas de Putin. Alemanha anuncia envio de ajuda militar. Pressão internacional se eleva contra Rússia no terceiro dia de conflito armado entre os dois países
20:27 | Fev. 26, 2022
No terceiro dia de invasão e segundo de conflito armado, Vladimir Putin, presidente da Rússia, tenta tomar Kiev, mas a capital da Ucrânia resiste às investidas do exército russo.
Em vídeo gravado e divulgado ontem, o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, exortou a população a revidar aos ataques. “Estou aqui, não vamos baixar nenhuma arma. Protegeremos nosso país, porque nossas armas são nossas de verdade”, disse.
Segundo informações divulgadas por órgãos internacionais e governos ocidentais, os russos estão a menos de 30 km da capital, que se mantém sob toque de recolher, e já há focos de batalha nos arredores dos principais pontos da cidade.
Até agora, conforme dados do Ministério da Saúde da Ucrânia, 198 pessoas morreram desde o início da invasão russa, incluindo três crianças, e outras 1.115 pessoas ficaram feridas, entre as quais 33 crianças.
De acordo com o governo ucraniano, o Kremlin vem amargando baixas severas na guerra. Os militares sob a chefia de Zelenski afirmam que Putin já perdeu 3.500 soldados, 14 aviões, 8 helicópteros, 102 tanques, 536 veículos armados BBM, 15 metralhadoras pesadas e um míssil BUK em seu ataque ao País.
As tropas ucranianas também negam que os russos tenham conseguido obter controle do espaço aéreo do país até agora, como era um dos objetivos iniciais das ações.
“Estamos retendo com sucesso os ataques inimigos. Sabemos que estamos defendendo nossa terra e o futuro de nossos filhos. Kiev e as áreas-chave são controladas pelo nosso exército. Os ocupantes queriam montar seu fantoche em nossa capital. Eles não conseguiram. Em nossas ruas, havia uma luta acontecendo”, relatou o presidente da Ucrânia, em vídeo.
Ajuda de países à Ucrânia no conflito contra a Rússia
Desde o início da ação militar, o chefe de estado tem recorrido frequentemente às redes sociais, seja para negar boatos de fuga, seja para estimular compatriotas à resistência, seja para cobrar ajuda de países europeus.
Apenas ontem, 72 horas depois da invasão, a Alemanha acenou com auxílio militar à Ucrânia. Oficialmente, o governo alemão comunicou envio de mil mísseis antitanque e 500 sistemas antiaéreos portáteis Stinger para a Ucrânia.
“A invasão russa marca um ponto de virada. É nosso dever fazer o nosso melhor para apoiar a Ucrânia na sua autodefesa contra o Exército invasor de Putin”, argumentou o chanceler alemão Olaf Scholz pelo Twitter.
O país também autorizou que a Holanda remeta 400 sistemas de RPG e 50 sistemas antitanque Panzerfaust-3 para as forças ucranianas.
Além da resistência que Kiev tem oferecido aos russos, Putin tem enfrentado pressão internacional cada vez maior, nos três dias de guerra. Líderes da União Europeia informaram ontem que decidirão em reunião neste domingo se devem pavimentar a remessa de ajuda militar para os contingentes de Zelenski.
Paralelamente, a Alemanha avalia pedir que o acesso da Rússia aos canais internacionais e sistemas de pagamento sejam bloqueados, de modo a intensificar as sanções impostas ao governo de Putin desde que violou a integridade da nação vizinha. As medidas se somam às restrições econômicas já adotadas pelos Estados Unidos contra o governo russo.
Nesse sábado, o exército de Putin recebeu ordens para expandir sua ofensiva contra a Ucrânia, apesar de crescente protesto internacional em sentido contrário, alegando que Kiev rejeitou as negociações. “Todas as unidades receberam a ordem de ampliar a ofensiva em todas as direções, de acordo com o plano de ataque”, declarou o Ministério russo da Defesa, em um comunicado.
Ontem, os ataques se concentraram na região noroeste da capital. Os dados dos números de militares russos são incertos, mas especula-se que o país tenha desembarcado tropas principalmente por meio de dois pontos, mais ao norte, enquanto mantém avanços também pelo leste.
A fim de repelir as forças inimigas, a Ucrânia decidiu fechar as suas fronteiras com a Polônia e com a própria Rússia, de maneira a exercer maior controle dos seus limites em meio ao conflito.
“Teremos muito trabalho a fazer para reconstruir nossa Ucrânia. Todos que podem defendê-lo no Exterior, o fazem diretamente de forma unida. Todo mundo que está defendendo a Ucrânia é um herói”, acrescentou em vídeo Zelenski, que se considera o alvo número um do exército de Putin. (com agências)
Rússia amplia censura e prisões
O Serviço Federal de Supervisão de Meios de Comunicação na Rússia (Roskomnadzor) proibiu veículos não alinhados ao Kremlin de se referirem à invasão da Ucrânia como guerra, invasão ou ataque.
Oficialmente, a expressão usada pelos russos é “operação militar especial no Donbass”, ação cujo objetivo seria unicamente o de desmilitarizar a nação vizinha num ato de autodefesa.
Putin, no entanto, violou a autonomia da Ucrânia ao invadi-la e sugerir a deposição do seu presidente democraticamente eleito, Volodmir Zelenski, pelas forças militares ucranianas, com as quais, segundo ele, seria mais fácil estabelecer diálogo depois de encerrado o conflito.
A determinação do serviço russo, claramente uma censura, foi dirigida aos jornais Eco de Moscou, InoSMI, Mediazona, New Times, TV Rain, Svobodnaya Pressa, Krym.Realii, Novaya Gazeta, Zhurnalist e Lenizdat.
Além do gesto de mordaça, o governo russo também deteve dezenas de manifestantes que têm ido às ruas de Moscou e outras cidades em protesto contra a guerra iniciada por Putin na madrugada da última quarta-feira.
As ações têm a intenção de sufocar dissidências e reduzir a repercussão internacional da invasão militar, que chegou ontem a seu terceiro dia, com o cerco da cidade de Kiev, capital da Ucrânia.