Críticos da guerra se organizam na Rússia
17:14 | Fev. 26, 2022
A diretora da rede internacional de TV RT está furiosa. Como cidadãos russos podem ser contra a guerra de Vladimir Putin na Ucrânia? Para ela, é simples: eles não são mais russos.
Margarita Simonian, que costuma fazer comentários fervorosos no Twitter em defesa do presidente russo, a quem chama de líder, não faz rodeios: "Se agora têm vergonha de serem russos, não se preocupem, não são russos."
Milhares de pessoas se manifestaram contra a invasão russa à Ucrânia e a reação da polícia foi a mesma que com opositores do Kremlin: realizando centenas de prisões. Tanto é que o movimento se transferiu para a internet e começou a se fazer ouvir e a receber apoio de alguns famosos.
As bandeiras ucranianas são onipresentes nas fotos de perfil, assim como os emojis de choro. A hashtag #HeTBo?He (não à guerra) era popular no Twitter neste sábado.
Desde a última quinta-feira, data do início da invasão, celebridades russas de maior ou menor calibre expressaram seu horror, sua impotência, e pediram o fim imediato da guerra, que atinge o coração da Europa.
Funcionária do jornal "Kommersant", a jornalista Elena Tchernenko, disse que foi excluída do pool de colegas que acompanhavam o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, por ter iniciado uma petição contra a guerra.
Uma carta aberta das profissões artísticas e culturais foi apoiada hoje por mais de 2.000 pessoas do sindicato e desqualificou o argumento de Vladimir Putin de que a invasão foi uma operação de "manutenção da paz" para salvar russos no leste da Ucrânia: "Forçar a paz mediante o uso da força é um absurdo."
- Mais de 700 mil assinaturas -
Médicos e enfermeiros assinaram sua própria carta on-line. "Não importa como o uso de armas letais seja justificado, elas continuam sendo letais", escreveram.
Uma petição contra a guerra no site change.org recolheu mais de 750.000 assinaturas em dois dias. Celebridades também se fizeram ouvir.
O ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2021 e redator-chefe do jornal de oposição "Nóvaya Gazeta" expressou sua vergonha em um vídeo publicado na internet. "Estamos sofrendo. Nosso país, por ordem do presidente Putin, iniciou uma guerra contra a Ucrânia. E ninguém pode detê-lo. Por isso, além do nosso sofrimento, nós nos sentimos envergonhados", disse Dmitri Muratov.
Em reação simbólica, os fundadores do "Regimento dos Imortais", organização muito apreciada pelo Kremlin, porque se encarrega de preservar a memória dos mortos na Segunda Guerra Mundial, pediram a Putin que parasse com o ataque, classificando o uso da força como "desumano".
O museu de arte contemporânea Garage, localizado em Moscou e fundado pelo oligarca Roman Abramovich, ligado ao Kremlin, anunciou seu fechamento neste sábado, recusando-se a "manter a ilusão de normalidade".
Dois deputados comunistas que votaram a favor do reconhecimento pela Rússia da independência das regiões separatistas no leste da Ucrânia denunciaram a invasão. "Eu votei pela paz, não pela guerra (...) não pelo bombardeio a Kiev", assinalou o deputado Mikhaïl Matveïev. Dirigindo-se às personalidades e aos "milhares e milhares" de russos anônimos que denunciam a invasão, o presidente ucraniano agradeceu.
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