Combates continuam em Kiev; Zelensky diz ter 'desmantelado' plano de Moscou
10:44 | Fev. 26, 2022
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, declarou neste sábado (26) que "desmantelou o plano" de invasão da Rússia e lançou um apelo pela defesa da capital Kiev, que se tornou o principal alvo das forças de Moscou.
No terceiro dia da ofensiva lançada pelo presidente russo, Vladimir Putin, pelo menos 198 civis ucranianos, incluindo três crianças, foram mortos, e 1.115 pessoas ficaram feridas na Ucrânia, de acordo com o ministro ucraniano da Saúde, Viktor Lyashko.
"Mantivemo-nos firmes e repelimos com sucesso os ataques dos inimigos. Os combates continuam em muitas cidades e regiões do país (...) mas é nosso Exército que controla Kiev e as principais cidades ao redor da capital", disse Zelensky, em um vídeo publicado no Facebook.
"Os ocupantes queriam bloquear o centro do nosso Estado e colocar marionetes, como em Donetsk. Conseguimos desmantelar o plano deles", acrescentou Zelensky, afirmando que o Exército russo "não obteve vantagem alguma".
Ele também acusou as tropas russas de atacarem zonas residenciais e de tentarem destruir instalações elétricas.
Em um apelo aos países ocidentais para que endureçam sua posição contra a Rússia, o presidente disse que a Ucrânia "tem o direito de obter sua adesão à União Europeia".
Ele também se dirigiu aos russos, convocando-os a pedirem a seu governo que "pare a guerra imediatamente".
Washington acusou Moscou de querer assumir o controle de Kiev para "decapitar o governo" ucraniano e, assim, instalar um poder que lhe seja favorável.
O Kremlin acusou a Ucrânia, por sua vez, de ter arruinado uma trégua, ao se negar a negociar.
"Em consonância com as negociações esperadas, ontem à tarde o presidente russo ordenou suspender o avanço das principais forças" das tropas de Moscou, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, acrescentando que, "como o lado ucraniano rejeitou as negociações, as forças russas retomaram o avanço esta tarde".
Zelensky assegurou que "armas e equipamentos de parceiros estão a caminho da Ucrânia", referindo-se a uma "coalizão antiguerra", após uma conversa com o presidente francês, Emmanuel Macron.
O Ministério holandês da Defesa informou que entregará 200 mísseis antiaéreos Stinger para a Ucrânia "o mais rápido possível". Já Praga anunciou que doará armas no valor de 7,6 milhões de euros para Kiev.
E o secretário de Estado americano, Antony Blinken, acaba de anunciar uma nova assistência militar à Ucrânia no valor de 350 milhões de dólares.
"Este pacote incluirá mais assistência defensiva letal para ajudar a abordar as ameaças blindadas, aéreas e de outro tipo que a Ucrânia enfrenta atualmente", declarou Blinken, em um comunicado.
Em Kiev, agora uma cidade-fantasma abandonada por seus habitantes, os combates entre as forças russas e ucranianas acontecem na Avenida Vitória, uma das principais artérias da capital.
Hoje, o prefeito da capital, Vitali Klitschko, afirmou que qualquer pessoa na rua entre 17h e 8h será tratada como um inimigo.
Soldados ucranianos em patrulha garantiram à AFP que as forças russas estavam em posição de tiro a poucos quilômetros de distância. Sob um céu azul, os destroços de um caminhão militar atingido por um míssil ainda fumegavam, enquanto detonações eram ouvidas ao longe.
O metrô de Kiev está parado e agora serve de "abrigo" antiaéreo para os moradores, anunciou o prefeito Klitschko no aplicativo de mensagens Telegram.
Um grande edifício residencial foi atingido por mísseis na manhã deste sábado, segundo as autoridades ucranianas, que não informaram sobre vítimas.
A noite foi "difícil", disse o prefeito, garantindo que "unidades de sabotagem" de Moscou estão na cidade, mas que ainda não há unidades regulares do Exército russo.
No Facebook, o Exército ucraniano informou que destruiu uma coluna de cinco veículos militares, incluindo um tanque, na Avenida da Vitória, em Kiev. Durante a noite, as autoridades relataram um ataque russo a uma central elétrica no bairro de Troieshchyna, no nordeste da capital.
Até agora, o Ministério russo da Defesa não mencionou a ofensiva em Kiev, citando apenas disparos de mísseis de cruzeiro contra infraestruturas militares, avanços no leste - onde o Exército apoia os separatistas nos territórios de Donetsk e Lugansk - e no sul, onde as forças russas entraram na quinta-feira, pela península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014.
Unidades russas foram identificadas em Borodianki (70 km a noroeste de Kiev); em Butcha, na periferia noroeste da capital; e em Vyshgorod, no norte, informou o Exército ucraniano no Facebook.
As forças russas "continuam seu ataque para bloquear Kiev do nordeste (do país), mas foram contidas pelas Forças Armadas ucranianas", declarou.
Em todo país, dezenas de soldados ucranianos perderam a vida nos combates, de acordo com o Exército ucraniano, que também afirma infligir pesadas perdas ao Exército russo. Moscou não fornece informações sobre suas baixas.
Na estrada entre Kramatorsk e Dnipro, duas cidades no leste da Ucrânia, jornalistas da AFP observaram a presença de um grande número de comboios militares ucranianos. Postos de controle militares foram montados nos pontos de entrada e saída de cada grande cidade nesta área.
A Polônia diz que 100.000 ucranianos cruzaram a fronteira polonesa desde quinta-feira. Nove centros de recepção foram criados.
"Saímos de casa muito, muito rápido, porque estávamos com medo de um ataque maciço", contou Dania à AFP, entre os refugiados.
No total, mais de 116.000 ucranianos fugiram para os países vizinhos - como Hungria, Moldávia, Eslováquia e Romênia - um número "crescente", tuitou neste sábado o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).
Na sexta-feira, a Rússia vetou no Conselho de Segurança da ONU, do qual é membro permanente, uma resolução criticando sua "agressão contra a Ucrânia" e pedindo a retirada imediata de suas tropas. O texto foi apoiado por 11 dos 15 países que o integram.
Putin parece determinado a continuar sua ofensiva, até expulsar do poder em Kiev aqueles que ele descreve como "viciados em drogas" e "neonazistas". Ele também incentivou o Exército ucraniano a dar um golpe militar.
Segundo Moscou, trata-se de uma "operação militar especial" de "manutenção da paz" para "desmilitarizar" e "desnazificar" um país acusado de um suposto genocídio das populações de língua russa do leste deste território.
A agência russa reguladora do setor de Comunicações (Roskomnadzor) ordenou que a mídia nacional remova de seu conteúdo qualquer referência a civis mortos pelo Exército russo na Ucrânia, bem como os termos "invasão", "ofensiva", ou "declaração de guerra".
Nos últimos dias, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) repetiu que não enviará tropas para este país, mas seus países-membros decidiram mobilizar tropas adicionais na Europa, em particular nos países do leste. Ontem, os representantes dos membros da Aliança Atlântica se reuniram por videoconferência para tratar da crise.
O presidente ucraniano pediu neste sábado que Berlim e Budapeste aprovem a exclusão da Rússia do sistema bancário internacional SWIFT, uma sanção considerada como uma "arma nuclear econômica" e examinada pela União Europeia (UE).
O chefe da diplomacia ucraniana, Dmytro Kouleba, já havia pedido ao Ocidente que "isolasse completamente a Rússia" e "destruísse sua economia".
Por enquanto, o campo ocidental está concentrado em endurecer as sanções à Rússia, depois de ter restringido seu acesso aos mercados financeiros e à tecnologia.
Com Washington na liderança, potências ocidentais deram um novo passo na sexta-feira ao impor - um fato raro e simbólico - sanções ao próprio Putin e a seu ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov.
E, também na sexta-feira, um navio comercial, suspeito de pertencer a uma empresa russa alvo de sanções da UE, foi interceptado no Canal da Mancha, informaram as autoridades francesas.
A Rússia anunciou, por sua vez, o fechamento de seu espaço aéreo para aviões procedentes de Bulgária, Polônia e República Checa, em retaliação por medida semelhante adotada por esses países.
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