Presidente ucraniano pede para defender Kiev com unhas e dentes do ataque russo
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, convocou seus compatriotas, na madrugada deste sábado (26, noite de sexta-feira no Brasil), a defender Kiev, a capital, de um ataque iminente das tropas russas que invadiram o país.
"Não podemos perder a capital. Falo com nossos defensores, homens e mulheres em todas as frentes: hoje à noite, o inimigo vai usar todas as suas forças para romper nossas defesas da maneira mais vil, dura e desumana. Vão tentar um ataque", afirmou Zelensky em um vídeo postado no site presidencial.
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As tropas invasoras lançadas na quinta-feira pelo presidente russo, Vladimir Putin, chegaram a um bairro ao norte de Kiev na manhã desta sexta-feira. O avanço, porém, pareceu desacelerar durante o dia.
O secretário-geral da Otan, o norueguês Jens Stoltenberg, elogiou a mobilização das forças ucranianas, "que lutam com coragem e mantêm sua capacidade de causar perdas às forças invasoras russas".
A ofensiva russa provocou a fuga de mais de 50.000 ucranianos do país, assim como 100.000 deslocados internos - segundo a ONU - e mais de 100 mortos, de acordo com Kiev.
Vladimir Putin exortou o exército ucraniano a "tomar o poder" e chamou o governo Zelensky de "gangue de viciados em drogas e neonazistas".
Zelensky respondeu com a divulgação de um vídeo gravado em frente ao palácio presidencial. "Estamos todos aqui, nossos militares estão aqui, os cidadãos, a sociedade, estamos todos aqui, defendendo a nossa independência, o nosso Estado", proclamou, ao lado de seus principais colaboradores.
O Ministério da Defesa ucraniano chamou a população a resistir.
"Pedimos aos cidadãos que nos informem dos movimentos de tropas, que fabriquem coquetéis Molotov e neutralizem o inimigo", pediu.
Enquanto isso, os países ocidentais adotaram uma série de sanções contra entidades, empresas e autoridades russas, entre elas Putin, em resposta à invasão.
Zelensky contou que conversou com o presidente americano, Joe Biden, sobre o "reforço das sanções, de uma assistência de defesa concreta e de uma coalizão antiaérea", além de manifestar seu "agradecimento" pelo "forte" apoio americano.
Contudo, a diplomacia segue travada.
No Conselho de Segurança da ONU, a Rússia vetou uma resolução promovida pelos Estados Unidos e pela Albânia para deplorar a "agressão" contra a Ucrânia.
A porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, disse que as relações entre Moscou e as potências ocidentais estão se aproximando de um "ponto de não retorno".
"Não foi nossa opção. Queríamos o diálogo, mas os anglo-saxões fecharam essas opções uma atrás da outra e começaram a agir de forma diferente", acusou.
Segundo Zakharova, as sanções contra Putin e seu ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, mostram a "impotência" dos países ocidentais.
Putin disse estar disposto a enviar uma delegação a Minsk, capital de Belarus, para negociar com a Ucrânia.
O porta-voz da diplomacia americana, Ned Price, descreveu esta proposta como uma "diplomacia realizada sob a mira de armas, quando bombas, morteiros e artilharia de Moscou atingem civis ucranianos".
A Otan anunciou que ativará seus planos de defesa para reforçar seu flanco oriental.
A Rússia exige que a Ucrânia abandone sua ambição de aderir à Otan e pede que a aliança militar liderada pelos EUA reduza a sua presença no Leste Europeu.
Após a ofensiva, a União Europeia (UE) desbloqueou um pacote de sanções "maciças" nos setores de energia e financeiro.
O próprio Putin e seu chanceler, Sergei Lavrov, foram incluídos hoje na lista de personalidades sancionadas, com ativos congelados, por União Europeia, Reino Unido e Canadá, enquanto os Estados Unidos anunciaram que tomariam medidas semelhantes.
Zelensky pediu ao Ocidente que expulsasse a Rússia do sistema de transferências bancárias Swift, mas alguns países da União Europeia, como Alemanha e Hungria, manifestaram suas dúvidas, pelo temor de que essa medida pudesse provocar problemas na entrega de gás russo.
Outra retaliação veio da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que rejeitou o processo de adesão da Rússia e fechou seu escritório em Moscou.
A resposta à invasão também chegou ao esporte e ao mundo da cultura. A Uefa retirou São Petersburgo como sede da final da Liga dos Campeões, que será disputada agora em Paris. Além disso, a organização da Fórmula 1 cancelou a realização do Grande Prêmio da Rússia, que fazia parte do calendário de 2022 da categoria.
O Eurovision, popular concurso musical disputado por representantes de diferentes países do continente, anunciou que fecharia suas portas a concorrentes do país invasor.
O Papa Francisco, por sua vez, reuniu-se com o embaixador russo no Vaticano para manifestar "sua preocupação". Em um tuíte, publicado em vários idiomas, entre eles o russo, afirmou que "toda guerra é uma rendição vergonhosa".
Ao amanhecer desta sexta-feira, era possível ouvir disparos e explosões no bairro residencial de Oblon, norte de Kiev, provocados pelo que parecia um regimento avançado das forças russas.
Jornalistas da AFP viram um corpo na calçada e ambulâncias socorrendo uma pessoa que teve o carro "atropelado" por um veículo blindado.
Durante o dia, as sirenes e explosões não deixaram de soar em Kiev, cidade que, após a fuga de muitos moradores, apresenta um aspecto fantasmagórico. Veículos blindados e soldados patrulhavam os cruzamentos em torno do distrito onde ficam os edifícios do governo.
As forças ucranianas informaram nesta sexta-feira que combatiam unidades russas em Dymer e Ivankiv, localidades situadas 40 e 80 quilômetros ao norte de Kiev, respectivamente. Os russos estariam avançando também pelo nordeste e leste, segundo a mesma fonte.
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