Exército russo aperta o cerco ao redor de Kiev
08:43 | Fev. 25, 2022
As forças russas apertaram o cerco à região de Kiev nesta sexta-feira (25), com combates dentro e ao redor da capital ucraniana, no segundo dia de uma invasão que o exército ucraniano faz "todo o possível" para repelir.
Um dia depois de Vladimir Putin lançar um ataque em larga escala à vizinha Ucrânia, que já deixou dezenas de mortos e mais de 100.000 deslocados, os primeiros combates na capital foram relatados.
Tiroteios e explosões foram ouvidas no distrito de Obolon, enquanto várias detonações ocorreram no centro da cidade, segundo a AFP.
O exército ucraniano informou sobre o disparo de mísseis visando Kiev e anunciou que destruiu dois projéteis em voo.
De acordo com o prefeito da cidade, Vitali Klitschko, esses disparos feriram três pessoas, uma delas com gravidade, em uma área residencial ao sudeste da capital.
As forças ucranianas também relataram combates contra unidades blindadas russas em duas localidades ao norte de Kiev, Dymer (45 km) e Ivankiv (80 km). Enquanto isso, as tropas russas se aproximavam da capital - deserta esta manhã, mas que normalmente tem quase três milhões de habitantes - pelo nordeste e leste, segundo o exército ucraniano.
"Esta noite, eles começaram a bombardear bairros civis. Isso nos lembra (a ofensiva nazista) de 1941", declarou o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky em um vídeo nas redes sociais, pronunciando esta frase em russo, para chamar a atenção dos cidadãos russos.
Ele elogiou o "heroísmo" dos ucranianos diante de uma invasão que, segundo ele, já deixou 137 mortos e 316 feridos do lado ucraniano, e garantiu que seus soldados estão fazendo "todo o possível" para defender o país.
"A Rússia terá que falar conosco mais cedo ou mais tarde", acrescentou. "Quanto mais cedo essa conversa começar, menores serão as perdas para a própria Rússia".
O ministério da Defesa ucraniano pediu aos civis que peguem em armas. "Pedimos aos cidadãos que nos informem sobre os movimentos do inimigo, façam coquetéis molotov, neutralizem o ocupante!", escreveu em sua mensagem.
Durante a noite, após o estabelecimento do toque de recolher em Kiev e enquanto Zelensky decretava a mobilização geral, fontes militares ocidentais indicaram que as forças russas já haviam adquirido uma "superioridade aérea total" na Ucrânia.
O objetivo é "decapitar o governo" da Ucrânia e substituí-lo por um favorável a Moscou, segundo essas fontes.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, disse que seu país quer "libertar" os ucranianos da "opressão", parecendo confirmar o objetivo de uma derrubada do poder.
Pouco depois, ele declarou que a Rússia está pronta para negociações com as autoridades ucranianas, se a Ucrânia "entregar as armas".
"Estamos prontos para negociações, a qualquer momento, assim que as Forças Armadas ucranianas ouvirem nosso chamado e entregarem suas armas", disse o chanceler.
"O presidente (Vladimir) Putin tomou a decisão por esta operação militar especial para desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia para que, livres dessa opressão, os ucranianos possam escolher livremente seu futuro", afirmou.
Zelensky, por sua vez, lamentou que a Ucrânia foi "deixada sozinha" diante das forças russas. A Otan, cujos líderes se reúnem nesta sexta-feira por videoconferência, disse que não enviaria tropas.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, também reiterou na quinta-feira que não enviaria soldados para a Ucrânia, mas que não cederia "uma polegada do território da Otan". O Pentágono enviará mais 7.000 soldados para a Alemanha.
A França acelerará o envio de soldados no âmbito da Otan para a Romênia, país que faz fronteira com a Ucrânia, anunciou o presidente Emmanuel Macron, que, ao mesmo tempo, deseja "deixar o caminho aberto" para o diálogo com Moscou.
"A guerra é total", disse o ministro das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian. "O presidente Putin escolheu (...) tirar a Ucrânia do mapa dos Estados (...) A segurança do presidente Zelensky é um elemento central" e Paris pode "ajudá-lo se necessário", comentou.
Ele disse estar "preocupado com o futuro", especialmente da Moldávia e da Geórgia. As duas ex-repúblicas soviéticas incluem territórios separatistas pró-russos.
Putin ameaçou os ocidentais com uma resposta "imediata" se tentarem "interferir".
Por enquanto, o campo ocidental está focado em endurecer as sanções contra a Rússia, dificultando o acesso de suas principais instituições financeiras aos mercados financeiros internacionais e restringindo drasticamente seu acesso à tecnologia.
Biden prometeu fazer de Putin "um pária no cenário internacional".
"Os líderes russos enfrentarão um isolamento sem precedentes", afirmou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Os 27 Estados da UE, no entanto, não foram tão longe a ponto de excluir a Rússia do sistema bancário internacional Swift, como Kiev pediu.
"A pressão sobre a Rússia deve aumentar. Foi o que eu disse à presidente da Comissão Europeia", escreveu Zelensky no Twitter.
Depois da queda drástica na quinta-feira, as Bolsas mundiais se recuperavam nesta sexta-feira. O ambiente, porém, permanece muito incerto.
Os preços das commodities seguem altos, com o barril de Brent acima de US$ 100, embora o WTI tenha retornado para cerca de US$ 95.
A Rússia e a Ucrânia são países essenciais para o fornecimento de petróleo, gás, trigo e outras matérias-primas cruciais.
Cerca de 100.000 pessoas já fugiram de suas casas na Ucrânia e milhares deixaram o país, segundo o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados.
A UE disse estar "totalmente preparada" para recebê-los. Uma reunião dos ministros do Interior da UE está marcada para este fim de semana para discutir o "impacto humanitário e de segurança" da crise e "medidas de retaliação", segundo uma autoridade francesa.
Centenas de refugiados já chegaram à Polônia. Quase de 200 pessoas passaram a noite na estação polonesa de Przemysl (sudeste), transformada em abrigo.
Entre eles, Konstantin, que não sabe quando ou se voltará à Ucrânia: "O problema na Ucrânia é enorme e provavelmente levará meses, talvez anos para resolvê-lo".
A ofensiva russa começou na madrugada de quinta-feira, depois que Vladimir Putin reconheceu na segunda-feira a independência dos territórios separatistas ucranianos no Donbas.
Para justificar a invasão, reiterou suas acusações de "genocídio" orquestrado por Kiev nas "repúblicas" separatistas pró-russas do Donbas, citou um pedido de ajuda dos separatistas e denunciou a política "agressiva" da Otan.
Mais de 150.000 soldados russos, no entanto, estavam concentrados nas fronteiras ucranianas há meses.
Protestos contra a guerra foram organizados na quinta-feira em Moscou, São Petersburgo e outras cidades russas. Mais de 1.700 pessoas foram presas em todo o país, segundo uma ONG, depois que as autoridades russas proibiram tais manifestações.
Outros protestos foram organizados em várias cidades ao redor do mundo.
Os Estados Unidos e a Albânia pediram uma votação no Conselho de Segurança da ONU nesta sexta às 20h00 GMT (17H00 de Brasília) sobre um projeto de resolução que condena a invasão da Ucrânia e pede à Rússia que retire suas tropas imediatamente.
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