Putin anuncia invasão do leste da Ucrânia pelo Exército da Rússia
Embaixador da Rússia na ONU diz que ocupar a Ucrânia "não está nos planos". Governo de Vladimir Putin defendeu a independência de duas regiões separatistas ucranianas após aproximação da ex-nação soviética com a Otan
00:00 | Fev. 24, 2022
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou início de uma invasão no leste da Ucrânia. "Tomei a decisão por uma operação militar", afirmou ele em uma mensagem televisionada inesperada pouco antes das 3 da manhã, meia-noite no horário de Brasília.
Leia mais
Putin disse que a Rússia não se sente segura com a presente situação ucraniana. Na mensagem, o mandatário russo pediu aos militares ucranianos que "deponham as armas".
Ele promete retaliação a quem interferir na operação russa na Ucrânia.
Mais cedo, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, em pronunciamento à nação, disse que a Rússia havia aprovado ofensiva contra a Ucrânia. Ele relatou que Putin não havia respondido a convite dele para uma reunião.
Leia mais
Segundo agências internacionais, explosões foram ouvidas até na capital da Ucrânia, Kiev. Pelo menos duas fortes explosões foram ouvidas por jornalistas da AFP no centro da cidade nesta quinta-feira, 24, logo após o anúncio do presidente russo, Vladimir Putin, de uma operação militar contra a Ucrânia.
Na cidade portuária de Mariupol, a principal cidade controlada por Kiev perto da linha de frente no leste do país, também foram ouvidas fortes explosões, confirmaram jornalistas da AFP.
A mensagem de Putin veio horas depois que o Kremlin afirmou ter recebido um pedido de ajuda de separatistas pró-Rússia para "contra-atacar" o exército ucraniano.
Ao longo do dia, a Ucrânia mobilizou seus reservistas de 18 a 60 anos, aprovou um estado de emergência e anunciou que havia sido vítima de um novo ataque cibernético em massa.
"Quase 200 mil soldados russos" estão posicionados na fronteira com a Ucrânia, disse o presidente ucraniano Volodimir Zelensky nesta quarta em um discurso à nação, acrescentando que ele solicitou sem sucesso uma reunião com seu par russo. Zelensky alertou que a situação pode levar a "uma grande guerra na Europa".
O presidente russo, Vladimir Putin, está "tão pronto quanto possível" para uma invasão em grande escala da Ucrânia, com "quase 100% do conjunto de forças que calculamos que ele poderia mobilizar" para invadir o país, disse um alto funcionário da Defesa dos Estados Unidos sob condição de anonimato.
"Presidente Putin, evite que suas tropas ataquem a Ucrânia. Dê uma chance à paz, muitas pessoas já morreram", implorou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, em uma sessão de emergência do Conselho de Segurança da ONU.
Estado de emergência
Na quarta-feira, o Parlamento ucraniano aprovou por ampla maioria o estado de emergência proposto por Zelensky e pelo secretário de Segurança e Defesa, Oleksii Danilov.
"A Ucrânia precisa de garantias de segurança claras e concretas, imediatamente", tanto dos países ocidentais quanto da Rússia, afirmou Zelensky em coletiva de imprensa.
"Estamos unidos na convicção de que o futuro da segurança europeia está sendo decidido neste momento em nossa casa, na Ucrânia", acrescentou.
Horas depois, a Rússia alegou que os líderes das regiões separatistas do leste da Ucrânia pediram "ajuda" para "combater a agressão" dos militares ucranianos.
A agência estatal russa Tass publicou as cartas a esse respeito na terça-feira, 22 de fevereiro, dia em que os parlamentares russos autorizaram Putin a enviar tropas para a Ucrânia se necessário.
A Rússia começou a evacuar seu pessoal diplomático da Ucrânia, indicou a embaixada à AFP nesta quarta-feira. Por sua vez, os Estados Unidos já haviam decidido na semana passada transferir sua embaixada de Kiev para Lviv, no oeste do país. E em um comunicado nesta quarta, a França exortou seus cidadãos a deixar o país "sem demora".
Pouco antes, o líder russo havia insistido que os interesses russos "não são negociáveis", mas mencionou a possibilidade de um "diálogo direto e honesto com o Ocidente".
Na segunda-feira, chegou a questionar a própria legitimidade da existência da Ucrânia, acusando-a de ser um instrumento nas mãos da política de agressão anti-Rússia da Otan.
Sanções à Rússia
A nível internacional, a União Europeia anunciou nesta quarta-feira, por seu papel no reconhecimento das regiões separatistas da Ucrânia, sanções contra o ministro da Defesa e os chefes militares russos, o chefe de gabinete do Kremlin, o ministro do Desenvolvimento Econômico e a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores.
As sanções publicadas no Diário Oficial da UE consistem no congelamento de bens e na proibição de vistos contra os afetados.
Por sua vez, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou nesta quarta sanções contra a empresa encarregada de operar o gasoduto Nord Stream II, que liga a Rússia à Alemanha.
A medida foi anunciada depois que a Alemanha anunciou na terça-feira que suspenderia esse controverso gasoduto.
No dia anterior, os EUA já haviam tornado públicas as medidas contra os bancos e oligarcas russos, denunciando o "início de uma invasão russa" na Ucrânia.
A Rússia prometeu uma resposta "forte" e "dolorosa" às sanções americanas.
As medidas permanecem modestas em comparação com as anunciadas no caso de uma invasão, e Moscou tem quase 640 bilhões de dólares em reservas cambiais e 183 bilhões de dólares em um fundo soberano para lidar com elas.
Putin mantém suspense sobre suas intenções militares. Após reconhecer, na segunda-feira, a independência das "repúblicas" separatistas de Donetsk e Lugansk, a câmara alta russa deu sinal verde à mobilização das forças russas na Ucrânia.
Onda de refugiados na Europa
Essas decisões estabelecem as bases para uma intervenção em larga escala, mas até agora não há informações sobre movimentos significativos de tropas.
Kiev vem há oito anos lutando contra os separatistas no leste do país, um conflito que já deixou mais de 14 mil mortos. Muitos temem que a crise possa culminar no pior conflito na Europa desde 1945, quando terminou a Segunda Guerra Mundial.
Uma ofensiva russa pode desencadear uma "nova crise de refugiados" com até 5 milhões de pessoas deslocadas, alertou nesta quarta a embaixadora americana na ONU em Nova York.
No front, a retomada dos combates entre o exército e os separatistas nos últimos dias continua nesta quarta-feira. Um soldado ucraniano morreu em um bombardeio e outro ficou ferido, segundo o exército.
Por sua vez, os separatistas de Lugansk relataram nesta quarta a morte de um combatente. Um civil também foi morto em um bombardeio durante a noite, segundo a mesma fonte.