Ucrânia mobiliza tropas e Rússia mantém exigências

A Ucrânia anunciou nesta quarta-feira (23) um plano para mobilizar os reservistas e pediu a seus cidadãos que saiam da Rússia, no momento em que o medo de uma invasão iminente por parte de Moscou aumenta, depois que Vladimir Putin reiterou que não vai ceder em suas exigências, apesar das sanções ocidentais.

Os anúncios representam o capítulo mais recente na escalada de tensões entre Ucrânia e Rússia, a maior crise geopolítica na Europa desde o fim da Guerra Fria.

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Há várias semanas, a Rússia mantém 150.000 soldados na fronteira com a Ucrânia e na segunda-feira reconheceu a independência de dois territórios separatistas: as autoproclamadas 'repúblicas' de Donetsk e Lugansk. O anúncio intensificou as acusações de que o país prepara um ataque em grande escala contra o vizinho.

Diante da ameaça, a Ucrânia organiza a mobilização de reservistas do exército com idades entre 18 e 60 anos e recomendou a seus cidadãos que saiam da Rússia rapidamente.

Além disso, o conselho de segurança ucraniano pediu ao Parlamento a instauração do estado de emergência.

Na terça-feira, o presidente ucraniano Volodimir Zelensky, que pediu armas e garantias sobre sua adesão à União Europeia, também mencionou a possibilidade de romper relações diplomáticas com Moscou.

Na Rússia, Putin, apesar da série de sanções anunciadas pelos países ocidentais, prometeu que não cederá em suas exigências.

"Os interesses e a segurança de nossos cidadãos não são negociáveis para nós", declarou.

O presidente fez um breve discurso exibido na televisão por ocasião do Dia do Defensor da Pátria, no qual afirmou que está "aberto a um diálogo direto" com os países ocidentais, mas sempre exigindo que a Ucrânia nunca seja admitida como Estado-membro da Otan.

O medo de uma escalada militar às portas da União Europeia (UE) é cada vez maior desde que Putin reconheceu, na segunda-feira, a independência dos dois territórios separatistas do leste da Ucrânia e o Parlamento russo aprovou em seguida os acordos sobre a declaração, que incluem diversos compromissos com os rebeldes ucranianos pró-Rússia.

O texto prevê o envio de uma força de "manutenção da paz" aos territórios que integram a Ucrânia, o que autoriza uma possível operação militar.

Embora Putin não tenha revelado detalhes sobre seus planos, nem uma data sobre o possível envio de tropas, uma intervenção russa já tem o caminho legal preparado.

Para o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, as últimas decisões de Putin significam "o início de uma invasão", mas ele afirmou que ainda "é possível evitar o pior".

Na terça-feira, os países ocidentais aprovaram as primeiras sanções após o reconhecimento da independência dos separatistas. O conflito entre os insurgentes e as autoridades ucranianas já dura oito anos e provocou mais de 14.000 mortes.

A medida mais contundente foi a decisão da Alemanha de suspender a autorização do gigantesco gasoduto Nord Stream II, que transportará gás russo ao país europeu.

O governo dos Estados Unidos também reagiu com uma "primeira série" de sanções que pretendem impedir que Moscou obtenha fundos ocidentais para pagar sua dívida.

União Europeia, Japão, Austrália, Canadá e Reino Unido também divulgaram sanções.

As medidas punitivas são direcionadas principalmente contra bancos russos e alguns deputados. No momento, as sanções são cautelosas e menores que as anunciadas em caso de invasão.

A ministra britânica das Relações Exteriores, Liz Truss, declarou que considera "muito provável" que Putin decida invadir a Ucrânia.

Mas o calendário parece ser estabelecido por Putin, que mantém a comunidade internacional em suspense ao cercar de mistério suas intenções: invadir a Ucrânia, ampliar a área sob o controle dos separatistas ou negociar um novo status quo na região.

Na terça-feira, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, criticou a Rússia e afirmou que os princípios da "Carta das Nações Unidas não são um menu a la carte" e que o país deve "aplicar todos", em referência à crise na Ucrânia.

O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, respondeu que Guterres estava cedendo à "pressão dos ocidentais".

Na linha de frente, os combates continuam entre o exército da Ucrânia e os separatistas.

"Começaram a atirar com mais força", declarou à AFP Dmitri Maksimenko, que trabalha no setor de mineração na pequena cidade de Krasnogórivka, perto da frente de batalha.

Ele disse que ficou "chocado" com a notícia de que a Rússia reconheceu a independência dos separatistas. "Não sei o que vai acontecer, mas honestamente tenho um pouco de medo", admitiu.

Os separatistas de Lugansk anunciaram na quarta-feira a morte a morte de um combatente, atingido pelo tiro de um franco-atirador ucraniano, segundo os insurgentes.

Os rebeldes também anunciaram a morte de um civil em um bombardeio.

burs-bl-an/fp

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