As acusações infundadas de Putin contra a Ucrânia, de genocídio a bombas atômicas
10:00 | Fev. 23, 2022
Vladimir Putin intensificou nesta semana a retórica incendiária contra a Ucrânia e seus governantes, um regime neonazista em suas palavras, que ele acusa sem provas de cometer um genocídio na região leste e de querer produzir a bomba atômica.
Seu discurso à nação de segunda-feira foi bem recebido pelos deputados russos e seus partidários, mas provocou indignação em outros lugares. A presidência francesa chamou de "guinada ideológica".
A seguir, algumas acusações de Putin:
Esta acusação é cada vez mais repetida desde dezembro, enquanto 150.000 soldados russos armados estão mobilizados na fronteira ucraniana, de acordo com cálculos ocidentais.
Putin afirmou que a Ucrânia está executando uma política de extermínio das pessoas que falam russo no leste do país.
No discurso de segunda-feira, Putin acusou a Ucrânia, um país sem legitimidade histórica de acordo come ele, de ter um regime "neonazista", patrocinado pelo Ocidente, para exterminar os habitantes de língua russa da região de Donbas.
"O chamado mundo civilizado, do qual nossos colegas ocidentais são os únicos representantes, prefere fazer vista grossa, como se estes horrores não existissem, diante do genocídio sofrido por quatro milhões de pessoas", afirmou, antes de acusar Kiev de proibir o idioma russo.
A guerra no leste da Ucrânia, uma região de língua russa, provocou 14.000 mortes, incluindo muitos civis.
No que diz respeito ao idioma, a Ucrânia não proibiu o russo, que continua sendo muito falado, mas aprovou uma lei que impõe o ucraniano no espaço público e nos meios de comunicação, um texto criticado por várias ONGs internacionais.
O governo ucraniano recorda que o país foi 'russificado' à força durante a época soviética e que há oito anos sofre a agressão militar russa, incluindo a anexação da península da Crimeia em 2014.
O ministro da Defesa da Rússia, Serguei Shoigu, afirmou pela primeira vez na segunda-feira que Kiev deseja adquirir uma bomba atômica.
O presidente russo retomou as acusações em seu discurso e as detalhou no dia seguinte em uma entrevista coletiva.
De acordo com Putin, por sua herança soviética, "a única coisa que falta é um sistema de enriquecimento de urânio. Mas esta é uma questão técnica, e para a Ucrânia não é um problema sem solução".
Putin afirma que a Ucrânia pode desenvolver armas nucleares táticas e aumentar o alcance de seus mísseis a 500 km, distância que deixaria Moscou na zona de destruição. "Para nós, esta é uma ameaça estratégica", afirmou.
A Ucrânia nunca mencionou suas ambições nucleares. Mas seu presidente disse que um acordo de 1994 - o Memorando de Budapeste, que previa que a Rússia respeitasse a integridade territorial da Ucrânia em troca de Kiev renunciar a seu arsenal nuclear soviético - parecia ultrapassado.
A Rússia reconheceu esta semana a independência dos separatistas pró-Moscou, que o Kremlin apoia há oito anos.
Há várias semanas, Vladimir Putin repete que deseja obter "garantias de segurança", ou seja, o fim da ampliação da Otan, especialmente que a Ucrânia nunca entrará para a organização, e a retirada das forças da Aliança do leste da Europa.
De acordo com o presidente russo, a Ucrânia quer recuperar a península da Crimeia. E se Kiev aderir à Otan, tentará fazer isto, o que levaria Moscou e o Ocidente a uma guerra entre potências nucleares.
O presidente russo também acusou a Otan e os Estados Unidos de utilizarem os exercícios militares frequentes na Ucrânia como "cobertura para a rápida instalação de unidades militares da Aliança no território ucraniano".
alf/pop/blb/pc/zm/fp