Voluntários improvisam rede de apoio para ajudar vítimas das chuvas em Petrópolis

Como se fosse uma operação de guerra, centenas de voluntários auto-organizados trabalhavam a todo vapor nesta sexta-feira (18) para atender as vítimas do histórico temporal que atingiu a cidade de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, onde faltam itens básicos como mamadeiras, leite e roupas íntimas.

As chuvas torrenciais de terça-feira, que provocaram inundações e deslizamentos de terra que deixaram pelo menos 136 mortos, transformaram a pitoresca cidade montanhosa no que muitas autoridades, incluindo o presidente Jair Bolsonaro, descrevem como uma "zona de guerra".

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Equipes de resgate estão cobertas de lama até os joelhos em busca de vítimas, enquanto famílias angustiadas choram por seus entes queridos perdidos sob os escombros, e restos de carros destruídos pelas enchentes continuam espalhados pela cidade.

Muitos moradores, como o advogado Daniel Vasconcellos, responderam à emergência criando da noite para o dia organizações de caridade, semelhantes às operações logísticas de tempos de guerra.

Ao ver que a ajuda do governo e das ONGs não estava atendendo adequadamente às necessidades de seus vizinhos, Vasconcellos e seu sócio Bernardo da Silva Oliveira transformaram seu escritório no bairro Chácara Flora em um centro de ajuda em massa.

Em frente ao local, uma longa corrente humana transporta pacotes de água engarrafada de mão em mão, em alta velocidade.

Lá dentro, o chão está repleto de roupas, alimentos, produtos de higiene, fraldas e inúmeros produtos destinados àqueles que perderam tudo.

"Quando aconteceram os deslizamentos de terra, nós e muitos outros corremos para ajudar as pessoas presas na lama e nos escombros", conta Vasconcellos, de 28 anos.

Porém, depois que as equipes de resgate e o exército chegaram, "vimos que elas precisavam de um outro tipo de apoio", diz à AFP.

As doações começaram a chegar de todo o Brasil à medida que as notícias da tragédia se espalhavam. Mas ele e Oliveira viram que havia uma lacuna entre o que as pessoas recebiam e o que elas precisavam.

"Os pontos de apoio estão cheios, mas as vezes não chega àquela galera que está aguardando um parente que está soterrado, que não quer sair de lá de perto", explica Vasconcellos.

Nascidos no bairro, eles sabiam o que era preciso: motocicletas.

Nas comunidades carentes dos morros ao redor de Petrópolis, cenários dos mais letais deslizamentos, "tem alguns lugares que carro não entra, só moto", afirma Oliveira, de 29 anos. "O pessoal leva até lá em cima."

Eles começaram com duas motos, usando as redes sociais para divulgar os esforços e coletar doações de familiares e amigos.

Mas a operação logo virou uma bola de neve. Conforme crescia, buscavam aprimorar o trabalho, adequando as doações às necessidades das pessoas.

A princípio, com os cortes de água e eletricidade, a necessidade mais urgente dos habitantes era água engarrafada. Agora, precisam de roupas, fraldas para bebês e escovas de dentes.

"Às vezes você leva a doação para um determinado lugar e a pessoa acaba jogando fora", diz Vasconcellos. "O pessoal bate na porta e pergunta 'o que é que você está precisando?'. Se não temos, vamos ao supermercado para comprar."

As maiores necessidades no momento? Mamadeiras, leite e roupas íntimas, dizem.

O padre Moisés Fragoso de Sousa comanda mais uma operação logística massiva na Igreja de Santo Antônio, que fica em frente ao Morro da Oficina, bairro onde ocorreu o deslizamento mais letal.

A praça junto à igreja é um formigueiro de gente, com cerca de 100 voluntários correndo para separar e entregar doações para a comunidade, enquanto 200 deslocados estão abrigados no interior.

"No início, foi uma estrutura muito improvisada, mas desde logo começamos a nos organizar mais", afirma o padre de 35 anos. "A questão do voluntariado tem sido uma realidade muito forte aqui. Tem sido a maior mão de obra dessa tragédia."

jhb/msi/mel/ic

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