Busca por desaparecidos se prolonga em Petrópolis, tomada pela lama
A busca por desaparecidos após os deslizamentos mortais se prolongava nesta sexta-feira (18) na cidade de Petrópolis, que continuava em alerta para chuvas três dias depois do temporal histórico que deixou pelo menos 122 mortos.
As autoridades da cidade imperial, onde a sirenes voltaram a soar à tarde devido ao risco de chuvas fortes, continuavam trabalhando a toque de caixa para localizar vítimas entre os escombros e desobstruir ruas asfaltadas que ficaram completamente cobertas por lama.
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"Vimos uma intensa destruição, uma imagem quase de guerra", disse o presidente Jair Bolsonaro ao visitar brevemente a área devastada esta manhã, acompanhado de vários ministros, ao retornar de sua visita a Rússia e Hungria.
O presidente se defendeu das críticas geradas pela tragédia, provocada por chuvas torrenciais que se concentraram em uma região montanhosa com construções precárias.
"Nós não temos como nos precaver de tudo o que possa acontecer nesses 8,5 milhões de quilômetros quadrados (extensão territorial do Brasil). A população logicamente tem razão em criticar, mas aqui é uma região bastante acidentada. Infelizmente tivemos outras tragédias aqui. Vamos fazer a nossa parte", acrescentou.
Juntamente com a Prefeitura, grupos de voluntários articulavam campanhas de donativos para os sobreviventes da tragédia, mas que perderam tudo.
Depois de ajudar quem tinha ficado preso sob os escombros, "vimos que precisavam de um outro tipo de apoio", contou à AFP Daniel Vasconcellos, um jovem advogado que, em meio a uma avalanche de donativos, empenha-se em fazer chegar aos moradores os artigos de que realmente precisam, como roupas íntimas, água potável e mamadeiras.
"Às vezes você leva uma doação para um determinado lugar (onde não precisam) e a pessoa acaba jogando fora. O pessoal bate na porta e pergunta, 'O que é que você está precisando?'. Se não temos, vamos ao supermercado comprar", explica.
No Morro da Oficina, no bairro Alto da Serra, cerca de 80 casas foram soterradas pela força das enxurradas de lama que arrastaram carros, ônibus com passageiros e tudo mais pelo caminho.
"Pode ser que ainda tenha mais de 50 pessoas aqui embaixo, desde terça-feira já foram retirados 98" corpos, contou à AFP Roberto Amaral, coordenador do grupo especializado em desastres naturais do Corpo de Bombeiros Civis, enquanto efetivos e voluntários retiravam escombros e cavavam a lama com pás e enxadas em busca de algum sinal de vida.
"Gostaríamos de terminar o quanto antes, mas aqui temos que trabalhar até que saia o último", acrescentou.
As cifras da tragédia são a cada dia mais dramáticas.
Por enquanto há 122 mortos confirmados, 24 resgatados com vida e 849 deslocados, enquanto os números de desaparecidos são confusos por causa dos poucos corpos identificados, que a Agência Brasil contabilizou em 57 nesta sexta-feira.
A Polícia Civil registrava 218 desaparecidos, mas não deixou claro se esta lista poderia incluir nomes de mortos ainda sem identificar ou de pessoas que já foram localizadas por seus familiares.
"Todo o mundo está com muito medo. Qualquer barulho você se assusta. Toda a cidade está assim. É apavorante", disse à AFP Antenor Alves de Alcântara, um aposentado de 67 anos, que se mudou com seus familiares para a colina mais próxima.
"É bom o presidente nos visitar, mas não vai mudar nada", acrescentou.
O papa Francisco expressou "suas condolências" e compartilhou "a dor de todos os enlutados, ou despojados de seus haveres", em um telegrama em português enviado ao bispo de Petrópolis, Gregório Paixão Neto.
O governo federal anunciou o desbloqueio de uma ajuda de 2,3 milhões de reais, enquanto o Ministério do Desenvolvimento Regional informou que vai facilitar novas quantias nos próximos dias.
Especialistas afirmam que a tragédia é consequência de uma combinação de fatores, entre eles uma chuva em seis horas maior que a média histórica de todo mês de fevereiro, a topografia da região e a existência de grandes bairros com casas precárias, muitas delas construídas de forma ilegal, em áreas de risco íngremes.
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