Intensa busca por desaparecidos em Petrópolis após chuvas que deixam ao menos 110 mortos

18:27 | Fev. 17, 2022

Por: AFP

Equipes de resgate e voluntários procuravam desesperadamente, nesta quinta-feira (17), pessoas desaparecidas após as chuvas torrenciais que deixaram ao menos 110 mortos na cidade de Petrópolis, enquanto o tempo é cada vez mais curto e há risco de novos deslizamentos de terra e tempestades.

Os moradores continuam retirando lama e procurando os desaparecidos do temporal de terça-feira (15), que deixou um rastro de destruição nesta cidade da região serrana do Rio de Janeiro, depois da chuva mais intensa em 90 anos.

No Alto da Serra, um dos bairros mais atingidos, a atividade era frenética.

"Infelizmente vai ser difícil encontrar alguém com vida. Como está tudo aqui, é praticamente impossível, mas pelo menos (temos) que entregar os corpos para que a família possa enterrá-los e ter sossego", declarou à AFP Luciano Gonçalves, um voluntário de 26 anos, coberto de lama e com uma enxada na mão, enquanto revira o barro.

Outro vizinho, Anderson Mota Barreiros, de 37 anos, cavava às pressas em busca de sua irmã, entre lamentos pela falta de ajuda.

Segundo as autoridades, cerca de 500 bombeiros, com a ajuda de centenas de voluntários, cães, escavadeiras, caminhões, botes e uma dezena de aeronaves são utilizados nas tarefas de resgate.

Outros, que perderam seus familiares nos quase 300 deslizamentos de terra, permaneciam sentados em frente a suas casas com o olhar perdido em meio a tanta destruição.

Até o momento, são 110 mortos confirmados e 24 resgatados, enquanto os números de desaparecidos sob a lama são confusos, devido aos poucos corpos identificados, que por enquanto são 33.

A Polícia Civil afirma que até esta quinta-feira havia 134 registros de desaparecimentos. O Ministério Público disse à AFP que em seu serviço de localização de pessoas estão cadastrados 35 casos.

Até agora, cerca de 700 deslocados foram transferidos para abrigos improvisados, a grande maioria em escolas públicas.

Após sua viagem à Rússia e Hungria, o presidente Jair Bolsonaro visitará na manhã desta sexta-feira a área afetada desta cidade turística, onde as famílias já começam a enterrar seus mortos.

A situação ameaça piorar nas próximas horas. O governo federal alertou para um risco "muito alto" de novos deslizamentos na região serrana do Rio, "especialmente em Petrópolis", devido à previsão de mais chuvas para os próximos dias, assim com para a ameaça de novas "inundações".

De acordo com a Defesa Civil, "há previsão de fortes chuvas para a tarde e a noite" de hoje, o que pode complicar ainda mais os esforços de resgate.

Segundo especialistas, a tragédia é consequência de uma combinação de fatores, entre eles, uma chuva de seis horas que supera a média histórica de todo o mês de fevereiro, a topografia da região e a existência de grandes comunidades de casas precárias, muitas delas construídas ilegalmente, em íngremes áreas de risco.

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, afirmou que a "pior chuva desde 1932" uniu uma "tragédia histórica" a um "déficit que realmente existe" em infraestrutura e habitação.

Para Estael Sias, meteorologista da agência Metsul, os mais pobres são os que mais pagam por essa combinação de desastres climáticos e desenvolvimento urbano descontrolado.

"Aqueles que acabam tendo que morar nessas regiões de risco são os mais vulneráveis, os que estão mais expostos a esse tipo de situação. E isso sem contar que estamos vivendo uma crise econômica, produto da pandemia que piorou tudo, porque a quantidade de pessoas que saíram de áreas que não eram de risco para se instalar em áreas de risco certamente aumentou", explicou.

Nos últimos três meses, o Brasil tem passado por episódios de chuvas intensas, sobretudo, nos estados da Bahia e de Minas Gerais, que deixaram dezenas de mortos e causaram inúmeros danos em centenas de municípios.

Os cientistas afirmam que, em função da mudança climática, fenômenos meteorológicos extremos serão cada vez mais frequentes.

Em janeiro de 2011, mais de 900 pessoas morreram na região serrana do estado do Rio devido às fortes chuvas que causaram grandes danos em várias cidades, incluindo Petrópolis.

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