Igreja italiana também precisa investigar pedofilia no clero, diz assessor do Vaticano
14:09 | Fev. 01, 2022
Diante dos relatórios sobre pedofilia envolvendo sacerdotes publicados em diversos países, a Igreja Católica da Itália também "precisa" de uma investigação independente, garante em entrevista à AFP um dos principais assessores do Vaticano para o tema.
"A violência sexual contra menores é uma realidade em todas as sociedades e regiões do mundo", inclusive na Itália, assegurou o jesuíta Hans Zollner, membro da Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores e diretor do Instituto de Antropologia para a Prevenção de Abuso.
Segundo o sacerdote alemão, que é um dos conselheiros mais próximos do papa Francisco, "entre 3% e 5% dos sacerdotes de todo o mundo foram acusados de abusos nos últimos 75 anos".
"Acreditamos que essas cifras podem se aplicar à Itália. O mais provável é que existam sacerdotes que cometeram abusos e continuaram suas vidas sem qualquer preocupação", comenta Zollner, ao falar sobre a ausência de um relatório independente sobre o fenômeno.
Apesar de ter perdido prestígio nos últimos anos, a Igreja Católica mantém uma influência considerável na Itália, onde 66% dos 61 milhões de habitantes se declaram católicos, segundo uma pesquisa publicada em 2019.
"Alguns líderes religiosos e laicos consideram que o problema dos abusos sexuais a menores se limita à Europa Central ou à América do Norte, mas não é assim", ressalta Zollner.
A rede L'Abuso, a principal associação de vítimas da Itália, identificou nos últimos 15 anos mais de 300 sacerdotes envolvidos ou condenados entre os 50.000 que residem no país.
No entanto, é impossível obter "números precisos" pela falta de "um relatório independente", como ocorreu na França, com as revelações da Comissão Jean-Marc Sauvé, ou na Alemanha, com o documento publicado recentemente que chega a questionar o papa emérito Bento XVI por sua gestão de quatro casos de pedofilia quando era arcebispo de Munique.
Zollner ressalta que, apesar de os relatórios independentes estarem se multiplicando por todo o mundo, "a sociedade italiana ainda parece muito fechada a abordar esse tema". "Ninguém tem realmente interesse em abrir essa 'Caixa de Pandora' e encarar a situação de frente", enfatiza o sacerdote alemão.
Apesar disso, nos últimos meses foram registrados "sinais" de uma mudança de mentalidade.
O influente cardeal Gualtiero Bassetti, presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI), confirmou no último sábado (29) ao jornal Corriere della Sera que "já faz algum tempo que está pensando em abrir una investigação profunda e séria" sobre o fenômeno na Itália.
A CEI disponibilizou células locais para receber denúncias em nível de diocese, mas esta resposta é considerada insuficiente pelas vítimas, que querem uma comissão independente e mais celeridade.
"É difícil negar que houve abusos, apesar de existirem aqueles que consideram que, antes de mais nada, se trata de um atentado contra a Igreja ou que há exagero" sobre o fenômeno, afirma Zollner.
"Obviamente, é necessário realizar investigações em todos os países [...] Devemos fazer o possível para que as vítimas tenham justiça pelo que aconteceu no passado e para prevenir os abusos do presente", conclui o assessor do papa Francisco.
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