Breve história do conflito na Irlanda do Norte 50 anos após o 'Domingo Sangrento'

10:24 | Jan. 30, 2022

Por: AFP

A Irlanda do Norte sofreu com três décadas de violência entre as comunidades católica-republicana e protestante-unionista que acabaram com o Acordo de Sexta-Feira Santa assinado há 23 anos.

A maioria protestante da província britânica defendia a permanência como parte do Reino Unido, enquanto a católica queria a reunificação com a República da Irlanda.

A seguir um resumo do conflito, conhecido como "The Troubles", no qual morreram mais de 3.500 pessoas.

A violência explode em 1968 quando a polícia reprime com força uma manifestação republicana pacífica em Londonderry, a única cidade da província de maioria católica.

A situação sai de controle: protestos e confrontos passam a acontecer com frequência com a polícia e com a comunidade protestante.

Londonderry e Belfast se unem à violência; o exército é mobilizado nas ruas da província.

Em 1970, o Exército Provisório Republicano Irlandês (IRA), um grupo armado, inicia uma campanha de atentados contra os militares.

No outro lado respondem os grupos paramilitares protestantes, o que acaba por criar um muro entre as duas comunidades.

A tensão aumenta após a violenta repressão de uma manifestação em 30 de janeiro de 1972 em Londonderry. O "Domingo Sangrento" ("Bloody Sunday"), como a data se tornou conhecida pela história, deixou 14 manifestantes mortos, vítimas de tiros de paraquedistas britânicos.

Em março de 1972, o Parlamento da Irlanda do Norte é dissolvido e Londres retoma o controle direto da administração da província.

Em 1974, o IRA amplia a campanha de atentados com bombas em território britânico, com artefatos em pubs de Guildford, Woolwich e Birmingham. Os ataques matam 30 pessoas.

Além disso, a organização tem como alvos figuras conhecidas e em 1979 mata Lord Louis Mountbatten, primo da rainha Elizabeth II, ao explodir a embarcação da vítima.

No mesmo dia, o IRA executa uma emboscada contra o exército e mata 18 soldados britânicos.

Em 1981 acontece um ponto de inflexão, quando o detento Bobby Sands e nove colegas do IRA morrem em uma greve de fome em uma penitenciária de Belfast, um protesto iniciado para solicitar o status de presos políticos.

As mortes provocam um movimento de simpatia em todo o mundo a respeito da causa republicana.

Em 1982, o braço político do IRA, o partido Sinn Fein, consegue as primeiras cadeiras na Assembleia norte-irlandesa. No ano seguinte, Gerry Adams assume a liderança do partido.

O IRA prossegue com as ações violentas e, em 1984, ataca o centro do poder com uma bomba contra o Grand Hotel de Brighton, onde a primeira-ministra Margaret Thatcher e vários ministros estavam hospedados para o congresso do Partido Conservador. Cinco pessoas morreram.

Em 1992 e 1993, dois grandes atentados contra o distrito financeiro da City de Londres deixaram quatro mortos e provocaram graves danos.

O primeiro-ministro conservador Edward Heath tentou em 1973 estabelecer um governo de coalizão entre católicos e protestantes.

Thatcher assina um novo acordo anglo-irlandês em 1985, com uma grade concessão: admite que a República da Irlanda deve ter voz nos assuntos norte-irlandeses.

Em meados da década de 1990, os esforços de paz são paralisados novamente e o IRA encerra o cessar-fogo. Em 1996, o grupo coloca bombas em Londres e Manchester que matam duas pessoas e causam grandes danos.

Em julho de 1997, depois que o trabalhista Tony Blair se torna primeiro-ministro e o IRA decreta um novo cessar-fogo, o Sinn Fein é convidado à mesa de negociações.

Após longas negociações, em 10 de abril de 1998 o Acordo de Sexta-Feira Santa é assinado entre Londres, Dublin e os partidos políticos norte-irlandeses, com a bênção do IRA.

A Irlanda do Norte recupera a autonomia, com um governo de coalizão entre protestantes e católicos.

Quatro meses depois do acordo, um grupo dissidente do IRA, o IRA Autêntico, comete o maior massacre do conflito ao detonar uma bomba em um dia de mercado na cidade norte-irlandesa de Omagh: 29 pessoas morreram na ação, incluindo mulheres e crianças.

O atentado não derrubou o acordo de paz. Os norte-irlandeses expressaram sua repulsa ao ataque e reforçaram o acordo.

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