Sobreviver com salário mínimo, o grande tema da campanha eleitoral em Portugal

"Não vivemos, sobrevivemos", afirma uma funcionária de um hospital que, assim como quase 25% da população ativa de Portugal, ganha um salário mínimo, o que se tornou um dos grandes temas da campanha eleitoral para as legislativas de domingo.

"Aprendemos a viver com o indispensável! É frustrante e triste", desabafa Fernanda Moreira, de 40 anos, que trabalha em um hospital do sul de Lisboa.

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Essa mãe de família, cujo marido ganha apenas um pouco mais que ela, recebe um salário mínimo desde o início de sua vida profissional, há mais de 20 anos.

Seu salário aumentou somente em função dos reajustes concedidos ao salário mínimo pelo governo.

Assim como ela, cerca de 900.000 trabalhadores em Portugal vivem com um salário mínimo, que este ano passou para 822 euros (US$ 930) em 12 meses, contra 589 euros (US$ 670) quando os socialistas chegaram ao poder em 2015, aliando-se à esquerda radical para tirar a direita do governo e encerrar sua política de rigor orçamentário.

"Os defensores da austeridade afirmavam que o congelamento dos salários era o único caminho para ser um país competitivo, mas essa não é a nossa receita", afirmou a ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho, em entrevista à AFPTV.

"Nunca foi visto um aumento do salário mínimo tão grande", disse Amélia Casquinha Fernandes, funcionária de limpeza de 60 anos no aeroporto de Lisboa, e que recebe um salário mínimo. "Os socialistas respeitaram sua promessa", celebra.

Se ganhar as eleições de domingo, o primeiro-ministro António Costa se comprometeu a continuar aumentando o salário mínimo todo ano, até chegar a 1.000 euros (US$ 1130) em 12 meses em 2026.

Mas a esquerda radical, que apoiava o governo minoritário de Costa, pediu mais esforços a favor do poder aquisitivo, já que o salário mínimo de Portugal é um dos menores da UE.

Sendo assim, ao considerar insuficiente um novo aumento de 47 euros este ano, o Partido Comunista votou junto ao Bloco de Esquerda - mas também com toda a oposição de direita - a rejeição ao orçamento de 2022, provocando eleições antecipadas.

O número de trabalhadores que ganham o salário mínimo dobrou em 10 anos e "Portugal está se transformando em um país de salários mínimos", se preocupa Eugénio Rosa, economista próximo ao Partido Comunista.

Os analistas também se preocupam com a diferença entre o salário mínimo e salário médio, que é de 1.160 euros em 12 meses e não para de cair.

"As empresas aumentaram os salários mínimos porque foram obrigadas por lei, mas deixaram de lado os outros trabalhadores" explica à AFP João Duque, professor do Instituto Superior de Economia de Lisboa.

Essa estratégia, embora tenha levado o desemprego a 6%, seu índice pré-pandemia, também contribuiu para o desenvolvimento de uma "economia de salários baixos" em torno de atividades como hotelaria, turismo e construção.

João Duque também aponta que isso "favorece a emigração dos mais qualificados para países onde serão melhor pagos e a imigração de uma mão de obra menos qualificada".

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