Extrema-direita portuguesa ataca população cigana antes das eleições
O partido de extrema-direita Chega atacou duramente os ciganos em Portugal, acusando-os de abusarem dos benefícios sociais concedidos pelo governo e de serem criminosos, às véspera das eleições legislativas antecipadas de domingo (30).
Muitos ciganos, conhecidos como romanis, temem o impacto das eleições em suas vidas, uma vez que as pesquisas apontam que o Chega pode se tornar a terceira força no próximo Parlamento.
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José Fernandes, dono de um restaurante e líder do Techari, um grupo que representa quase 4.000 ciganos em Loures, norte de Lisboa, disse que o Chega trouxe à tona o "racismo oculto" que sempre existiu em Portugal.
"Temo pelo futuro... as provocações, o ódio, as represálias contra nossos filhos nas escolas", desabafou José, de 58 anos.
Foi em Loures que o líder do Chega, o ex-comentarista esportivo André Ventura, ficou conhecido em 2017 ao acusar os ciganos de serem "viciados" na assistência social e de se acreditarem "acima da lei".
Na época, Ventura era candidato a prefeito de Loures pelo PSD, um dos dois partidos que dominam a política portuguesa desde a Revolução de 1974, que pôs fim a décadas de ditadura de direita.
Em 2019, fundou o Chega. A sigla alcançou 1,3% dos votos naquele ano e conquistou uma cadeira legislativa. Foi a primeira de uma formação de extrema-direita desde o fim da ditadura.
As sondagens sugerem que o Chega pode obter pelo menos 7% dos votos no domingo, o que lhe daria mais de uma dezena de assentos.
O partido gerou polêmica no ano seguinte com sua proposta de criação de um "plano de confinamento específico para as comunidades ciganas durante a pandemia da covid-19".
"O objetivo era deixar claro que há uma comunidade em Portugal que tem muita dificuldade em respeitar as regras de confinamento", disse Ventura à AFP, em um entrevista na qual defendeu sua linha dura contra os ciganos.
A comunidade tem "um problema crônico de dependência de benefícios sociais, crime e violência", acrescentou o líder de 39 anos.
Ventura afirmou que deixou o PSD e fundou o Chega para gerar um debate "politicamente dinâmico, às vezes politicamente incorreto".
Maria Cardoso, uma dona de casa cigana de Loures, cuja família de seis pessoas depende dos 512 euros (580 dólares) por mês da assistência social, diz que não acompanhou a campanha eleitoral, mas tem uma opinião sobre Ventura.
"Ele é racista. Não deveria discriminar os ciganos", comentou.
"Os ciganos querem se integrar, mas quem pode nos dar emprego não nos dá oportunidades", reclamou esta mulher de 48 anos que completou apenas o ensino básico.
Recentemente, ela não foi aceita como faxineira e, uma vez, foi demitida no dia seguinte ao início de um trabalho, quando seus chefes descobriram que era cigana.
A população cigana da Europa é estimada em mais de 10 milhões, e muitos sofrem de exclusão social e pobreza extrema, de acordo com o Conselho da Europa, o órgão continental de direitos humanos.
Existem cerca de 30.000 ciganos em Portugal, cuja população é de 10 milhões, de acordo com um estudo de 2014 do Alto Comissariado para as Migrações português, baseado em números das autoridades locais.
O número inclui apenas os ciganos "visíveis", que vivem em acampamentos ou habitações sociais, diz a socióloga Olga Magano, uma das autoras do estudo.
Segundo ela, existe "grande animosidade" em Portugal em relação aos ciganos.
O primeiro-ministro António Costa, cujo Partido Socialista é o favorito para vencer as eleições de domingo, mas sem maioria, criticou Ventura. Para Costa, "não há problema com a comunidade cigana", que está em Portugal "há séculos".
Portugal é um país acostumado à chegada de migrantes de suas ex-colônias, como Brasil e Angola. Por isso, a migração não é um tema atraente para a extrema-direita como acontece em outros países europeus, segundo analistas.
"Chega adaptou o clássico discurso xenófobo da extrema-direita ao contexto português", explicou o cientista político Alexandre Afonso, da Universidade de Leiden, na Holanda.
Ele considera os ciganos "o bode expiatório mais prático" da extrema-direita portuguesa.
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