Um best-seller na França pretende provar a existência de Deus através da ciência
13:37 | Jan. 18, 2022
Um livro que tenta provar a existência de Deus a partir do estado atual da ciência e, em particular, da observação do Universo, tornou-se best-seller na França.
Os cientistas, no entanto, estão céticos em relação a este grosso volume de 600 páginas, "Dieu, la science, les preuves" ("Deus, a ciência, as provas", em tradução livre), coescrito por um engenheiro, Michel-Yves Bolloré, irmão de um magnata industrial, e um consultor e empresário com licença em Teologia, Olivier Bonnassies.
Três meses após seu lançamento, o livro já vendeu mais de 100.000 cópias. Michel-Yves Bolloré é católico praticante e irmão de Vincent Bolloré, um dos mais poderosos industriais franceses.
O coautor garantiu à AFP que trabalhou durante três anos em "um livro que não existia até agora".
O trabalho visa explicar "de forma acessível" como as descobertas astronômicas do século 20 voltaram a evidenciar a existência de uma inteligência suprema, que tudo orquestrava.
Por quase quatro séculos, com o surgimento de Galileu, depois Newton e Darwin, "a ciência demonstrou que não era necessário um Criador para explicar o Universo. A ponto de o materialismo triunfar no início do século XX".
Mas agora a sociedade vive um grande movimento "pendular", com a descoberta do Big Bang, a expansão do Universo, sua morte térmica... Teorias que, segundo Michel-Yves Bolloré, questionam a tese de um Universo imutável, uma vez que "tem um começo e um fim".
Os autores concluem, portanto, a existência de um "Criador Supremo" que deu o primeiro impulso.
"É a noção de prova que causa controvérsia", admite Thierry Magnin, físico e padre.
"Temos o direito de pensar que existe um 'grande relojoeiro', mas não temos o direito de dizer que isso é em si uma 'prova'", disse à AFP. "Articular ciência e religião não é o mesmo que confundi-las."
"Afirmar que a existência de Deus pode ser comprovada cientificamente é ser um tanto ingênuo", acrescenta o filósofo da ciência Etienne Klein, no semanário L'Express.
Na opinião do teólogo e físico François Euvé, o livro funciona porque responde a "uma necessidade de pontos de referência, num período de incerteza sobre o futuro do mundo".
Para ele, "não cabe" à ciência responder a essa necessidade de certeza.
A segunda parte do livro é dedicada às provas tradicionais das religiões monoteístas: a Bíblia, a noção do povo eleito dos judeus, milagres como o de Fátima.
O Prêmio Nobel de Física americano Robert Wilson assina o prefácio do livro, algo que, segundo o semanário L'Express, ele não teria feito se tivesse lido aquela segunda parte.
"Não tenho nenhuma evidência escrita para mostrar que (Wilson) se arrepende", responde Bolloré.
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