Muhammad Ali: 80 anos da lenda do boxe e ícone do orgulho racial

Profissionalmente, foram 61 combates, dos quais 19 foram defendendo o título mundial. Foi uma das grandes vozes pelos direitos civis, seu talento e inteligência extrapolaram os ringues.

09:40 | Jan. 17, 2022

Por: Sérgio Falcão
Muhammad Ali nocauteia no primeiro round Sonny Liston. A luta foi em 1965, pelo título mundial. (foto: Imagem reproduzida do perfil @MuhammadAli no twitter.)

Considerado um dos maiores lutadores de boxe de todos os tempos, Muhammad Ali rompeu as fronteiras do esporte e tornou-se símbolo de resistência à Guerra do Vietnã, luta por direitos humanos, combate ao racismo e paz. Nascido Cassius Marcellus Clay Júnior, em 17 de janeiro de 1942, a lenda faria hoje 80 anos. Mas vamos chamá-lo pelo nome que ele escolheu, afinal: “Cassius Clay é o nome de um escravo. Não foi escolhido por mim. Eu não o queria. Eu sou Muhammad Ali, um homem livre.”

O que fez do pugilista o desportista do século XX e ícone do orgulho racial para os afro-americanos não foi somente o desempenho espetacular no esporte, deve-se em grande parte a sua postura política e social fora dos ringues. Em um tempo onde não era comum e muito menos permitido esse tipo de conduta aos desportistas, pricipalmente ele sendo negro, Ali inverteu a lógica e, para começar, se negou a servir ao exército dos Estados Unidos (EUA) na Guerra do Vietnã. Como justificativa, a frase que ficou na história:

“Por que eles deveriam me pedir para colocar um uniforme, ir a dez mil milhas de casa e atirar bombas e balas nas pessoas marrons no Vietnã enquanto as pessoas chamadas de 'nigger' em Louisville são tratadas como cachorros e negadas de direitos humanos básicos”, declarou Muhammad Ali.

 

 

As consequências dessa negativa vieram rapidamente, foi condenado a cinco anos de prisão, perdeu os cinturões de campeão mundial - na época ele era o atual vencedor dos pesos pesados e já havia defendido o título por nove vezes - e foi suspenso das lutas durante três anos. Em 1971, a prisão foi revogada por unanimidade na Suprema Corte. 

O período de suspensão veio exatamente quando seu desempenho estava em ascensão. Porém, nos três anos em que esteve afastado dos ringues, Muhammad Ali tornou-se uma das principais lideranças contra o racismo nos Estados Unidos, na verdade sua popularidade só aumentou e ele passou a viajar o país e o mundo defendendo as questões raciais, os pobres, muçulmanos e denunciando um sistema racista e excludente.

A voz de Ali só ecoou e acabou virando um ícone de orgulho racial e da geração da contracultura durante o Movimento dos Direitos Civis dos anos de 1960. Ele se tornou um porta-voz da igualdade racial, e é nesse período que começou a aproximação com Malcom X, um dos maiores líderes do movimento negro norte-americano. Na época, a segregação racial norte-americana dividia a sociedade, principalmente nos estados sulistas do país.

Em 1998, Ali foi nomeado Mensageiro da Paz da Organização das Nações Unidas (ONU) e viajou o mundo apoiando crianças e civis vítimas de conflitos e promovendo a reconciliação entre pessoas e nações. Antes disso, em 1970, esteve na ONU em campanha contra o apartheid e a injustiça racial.

 


O melhor

 

Os números de Ali são impressionantes, com uma carreira que iniciou ainda aos 12 anos, ele teve sua primeira vitória logo após seis meses de treino, como atleta amador subiu ao ringue 108 vezes e ganhou 100 lutas, ou seja, um rendimento de 93%. Profissionalmente, foram 61 combates, dos quais 19 foram defendendo o título mundial. Ali foi campeão por 56 vezes , sendo 37 por nocaute, e teve apenas cinco derrotas. Ele foi o primeiro lutador de boxe a se tornar tri-campeão mundial dos pesos-pesados.

 

 

A Central de Jornalismo de Dados do O POVO - DATADOC levantou todas as lutas oficiais de Muhammad Ali e mostramos aqui a trajetória de vitórias e derrotas dessa lenda do esporte mundial. Conheça abaixo os países das lutas, os principais adversários , e os momentos de ápice do lutador que só conheceu a primeira derrota como profissional em seu 32º combate, ou seja, passou mais de dez anos invicto.

 

 

Dentre os inúmeros adversários de Muhammad Ali, foi com Joe Frazier que ele protagonizou a “luta do século”, em 1971. Após 15 rounds Ali conheceu sua primeira derrota como profissional por decisão dos juízes. Embora tenha perdido neste primeiro encontro, ele venceu Frazier em outros dois combates , sendo um por decisão unânime dos juízes e outro por nocaute técnico.

Outra luta lendária de Ali aconteceu em 1974, contra o jovem campeão mundial dos pesos pesados George Foreman. Na época Muhammad subia ao ringue para a sua 46ª luta com o objetivo de recuperar o cinturão, e acabou vencendo por nocaute no oitavo round. Conhecida como de “The Rumble in the Jungle” (Batalha na Selva), a luta aconteceu em Kinshasa, no Zaire - atual República Democrática do Congo - o evento foi produzido pelo mitológico Don King.

 

 

Ao longo de toda a sua carreira, teve cinco derrotas, uma delas foi em 1978, quando perdeu o título para Leon Spinks. Mas na revanche, em setembro do mesmo ano, recuperou o cinturão, tornando-se o primeiro pugilista a ser campeão mundial três vezes na categoria pesos pesados. Embora tenha anunciado a aposentadoria em 1979, ele ainda voltou aos ringues em 1980 e 1981, mas perdeu ambas as lutas, uma contra Larry Holmes e a segunda contra Trevor Berbick.

 

 

Muhammad Ali no Brasil

 

A passagem pelo Brasil aconteceu em 1971, por ocasião do tour do boxeador pela América Latina para eventos e luta de exibição. Era setembro e Ali ainda sentia as consequências financeiras do afastamento forçado dos ringues - por conta da punição por não servir na Guerra do Vietnã - então recorria a eventos pelo mundo para recuperar as finanças em baixa.

O melhor lutador brasileiro dos pesos pesados, à época, era Luís Faustino Pires, que declinou da luta com receio de se machucar e não conseguir participar da eliminatória pelo título mundial, que faria em poucos meses. A solução do evento foi Ali disputar cinco rounds com seu sparring, Alonzo Johnson e mais cinco rounds com o argentino Alberto Lowell Jr. Definitivamente, um evento-espetáculo.

Um dos episódios da temporada no Brasil é contada no livro “Muhammad Ali: o boxe como arte e promoção pessoal”, do jornalista Alberto Helena Jr. A obra relata a chegada do atleta a uma farmácia paulistana, localizada na Avenida São João, para fazer um curativo. Na ocasião, o farmacêutico fez Ali aguardar, e não deu a menor importância a figura do maior atleta do século. Da experiência no Brasil, Muhammad declarou: “Gosto do Brasil, gosto dessa gente que parece não se preocupar com nada”.

 

Vida e obra

 

Nascido na cidade de Louisville, no estado de Kentucky (EUA), Ali é filho de Cassius Marcellus Clay e Odessa O'Grady Clay, pintor de cartazes e empregada doméstica, respectivamente. O mundo do boxe surgiu para ele aos 12 anos, quando o chefe de polícia da cidade e também treinador de boxe Joe E. Martin, o surpreendeu lutando quando tentaram roubar sua bicicleta.

Em 1960, aos 18 anos, tornou-se campeão olímpico de boxe, em Roma, na categoria meio-pesado. Após tornar-se vencedor do mundial em 1964, na vitória contra o então campeão Sonny Liston, declarou conversão ao islamismo e passou a adotar o nome Muhammad Ali. Ainda na década de 60, ele passou a frequentar reuniões do movimento “Nação do Islã” e se aproximar do seu líder, Elijah Muhammad.


Em 1996, nas Olimpíadas de Atlanta (EUA), Muhammad Ali foi homenageado para acender a pira olímpica no estádio de abertura do evento e emocionou o mundo, mais uma vez. Acompanhe abaixo uma linha do tempo com a cobertura do O POVO sobre os principais acontecimentos da trajetória do pugilista.  

 

 

Casado por quatro vezes , teve nove filhos. Em 1984, foi diagnosticado com Mal de Parkinson, as sequelas da doença o fragilizaram gradativamente ao longo dos anos, vindo a falecer aos 74 anos, em 3 de junho de 2016, em Phoenix, Arizona.
Mohammad Ali foi uma das grandes vozes pelos direitos civis, seu talento e inteligência extrapolaram os ringues. Entrevistas e matérias jornalísticas não cessaram após sua morte refletindo a importância do seu legado.

 

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