'Israelização' do Golã sírio anexado provoca esperança e medo
Na colina de Katzrin, em meio a uma paragem idílica, escavadeiras preparam o terreno para construir um novo bairro para famílias de classe média. O objetivo? Povoar de israelenses a colina anexada do Golã, onde milhares de sírios continuam residindo.
Em uma decisão "sem precedentes", da qual se vangloria o primeiro-ministro Naftali Bennett, o governo israelense aprovou um plano em 26 de dezembro para dobrar em cinco anos o número de colonos no Golã ocupado.
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Esta região, situada no noroeste de Israel, foi tomada da Síria em 1967 e anexada há 40 anos. É um território estratégico por seus recursos hídricos.
Aprovado pelo governo, o orçamento de um bilhão de shequels (cerca de 316 milhões de dólares) permitirá construir 10.000 novas moradias nas Colinas de Golã anexadas, um terço das quais serão erguidas na de Katzrin.
No total, chegarão 23.000 habitantes israelenses adicionais a esta região do Golã.
"Após anos de guerra civil na Síria, todo mundo sabe que o Golã é tranquilo e verde", disse Bennett, enquanto evocava um lugar "incrível" para viver, "com ar fresco, espaço e boa qualidade de vida".
Chegou o "momento" de Israel povoar ainda mais as Colinas de Golã, cuja soberania foi reconhecida em 2019 pelos Estados Unidos, assegurou.
Embora Israel e Síria continuem oficialmente em guerra, este território ocupado ficou em grande parte esquecido, pois a linha do cessar-fogo tem estado tranquila desde o armistício de 1974.
Mas a situação na região ficou tensa com o conflito sírio, iniciado em 2011.
"Em 20 ou 30 anos, a população de Katzrin passará de cerca de 9.000 pessoas hoje para 50.000 ou 60.000", assegura, com um sorriso, o prefeito de Katzrin, Dimi Apartzev, enquanto elogia o plano do governo de Bennet, que prevê transformar a demografia do Golã.
A colônia, situada entre vinhedos e colinas verdes, espera atrair israelenses em busca de tranquilidade e moradia barata no lugar dos colonos ideológicos, ou seja, que querem viver na região por razões políticas.
Cerca de 250.000 colonos israelenses vivem atualmente nas Colinas de Golã, juntamente com 23.000 drusos, sírios com status de residência em Israel.
"Hoje, pela primeira vez, o número de colonos é superior ao número de residentes" no Golã, observa Nazih Brek, um urbanista do Centro al-Marsad para os direitos humanos, um instituto que documenta a ocupação do Golã sírio.
"Historicamente, Israel usou as colinas e a presença civil para ampliar sua ocupação militar. Ambas estão interconectadas", explica à AFP no povoado druso de Majdal Shams, 40 km ao norte de Katzrin, separada do assentamento por amplas pastagens, algumas das quais são áreas militares onde os soldados israelenses treinam.
O projeto de desenvolver colônias no Golã não terá impacto direto nos residentes sírios "porque o confisco de terras foi concluído tão rápido quanto a ocupação israelense" das Colinas de Golã sírias, disse Brek.
Mas poderia, sim, ter repercussões na identidade da minoria drusa.
Para Hany Zahwah, jovem universitário que mora no povoado druso de Buqata, entre Majdal Shams e Katzrin, sua geração enfrenta uma crise de identidade com a "israelização" do Golã anexado.
Ao longo dos últimos anos, Hany viu vários de seus amigos optarem pela nacionalidade israelense, o que contraria a tradição das últimas décadas de manter uma forte identidade síria, às custas de ter unicamente o status de residente em Israel e não de cidadão.
Segundo Hany, Israel também tem "usado a carta religiosa", enfatizando na religião drusa por considerar no mesmo nível os drusos residentes em Israel e os do Golã anexado, a fim de "neutralizar" a identidade síria destes últimos.
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