Homem negro é absolvido após 43 anos preso injustamente nos EUA

Kevin Strickland foi condenado em 1979 pelo relato de uma única testemunha, que depois alegou ter sido pressionada por policiais para incriminá-lo; apesar de inocentado, ele não receberá compensação pelo tempo preso injustamente

03:41 | Nov. 24, 2021

Por: AFP
Kevin Strickland ficou preso injustamente por 43 anos (foto: Midwest Innocence Project)

Um afro-americano de 62 anos foi absolvido e libertado nesta terça-feira (23) por um tribunal do estado do Missouri, nos Estados Unidos, após passar 43 anos atrás das grades por um erro judicial. Kevin Strickland havia sido condenado em 1979 à prisão perpétua por um júri popular composto exclusivamente por brancos por um triplo assassinato ocorrido no ano anterior em Kansas City, a cidade mais populosa do estado.

Strickland sempre alegou firmemente sua inocência e, no início deste ano, o escritório do procurador do condado de Jackson, que inclui Kansas City, decidiu que ele havia sido condenado por erro. Depois de revisar o caso, o juiz James Welsh ordenou nesta terça-feira (23) a libertação imediata de Strickland.

A exoneração de Strickland o torna um dos presos que passou mais tempo atrás das grades nos Estados Unidos após ser condenado injustamente. Segundo o Registro Nacional de Exonerações, feito pelas universidades Califórnia Irvine e Michigan, cerca de 2.500 pessoas que foram absolvidas pela Justiça nos EUA nos últimos 30 anos passaram uma média de 13,9 anos na prisão, com um máximo de 47 anos e dois meses.

Strickland foi declarado culpado em um segundo julgamento, depois que o primeiro foi considerado nulo, pelo assassinato de três pessoas que foram amarradas e fuziladas em 25 de abril de 1978. A única sobrevivente da chacina, Cynthia Douglas, identificou Strickland como um dos quatro homens responsáveis pelo crime, mas depois corrigiu seu testemunho.

Dois dos condenados pelos assassinatos disseram que Strickland não estava envolvido no crime e identificaram outros dois homens como participantes. Tampouco havia evidência que vinculasse Strickland à chacina, e ele também apresentou um álibi de onde se encontrava no momento do crime.

"Strickland foi condenado somente pelo testemunho de Douglas, que posteriormente se retratou de suas declarações", afirmou o juiz. "Nestas circunstâncias únicas, a confiança do Tribunal na condenação de Strickland está tão abalada que não se sustenta, e a sentença condenatória deve ser anulada [...] O Tribunal ordena a libertação imediata de Strickland", acrescentou.

Por sua vez, o procurador do condado de Jackson, Jean Peters Baker, louvou a decisão do juiz. "Isso traz justiça, finalmente, para um homem que tragicamente sofreu muito como resultado desta condenação injusta", disse Baker em comunicado.

A organização Midwest Innocence Project, responsável pela defesa no caso de Strickland, lançou uma campanha de arrecadação de fundos na internet para ajudá-lo a começar uma nova vida. Strickland revelou em uma entrevista anterior ao Washington Post que, assim que estivesse livre, gostaria de visitar o túmulo de sua mãe, que faleceu neste ano, e ver o mar pela primeira vez.

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