Bilionário vende participações na empresa depois de polêmico tuíte. Porém, tudo indica que ele não está seguindo a decisão de seus seguidores, mas apenas fazendo caixa para pagar impostos.O presidente da Tesla, Elon Musk, vendeu esta semana ações da empresa pela primeira vez desde 2016, após ter prometido, no fim de semana, que venderia participações na fabricante de veículos elétricos se obtivesse o aval de seus seguidores no Twitter. De acordo com documentos apresentados nesta quarta-feira (10/11) ao órgão regulador do mercado, a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC), o homem mais rico do mundo vendeu no total 4,5 milhões de ações da Tesla, em torno de 3% do que detinha, por mais de 5 bilhões de dólares. No fim de semana, Musk havia sondado seus seguidores na rede social Twitter sobre a eventual venda de 10% do que possui na empresa, o que lhe poderia render mais de 20 bilhões de dólares. Quase 58% dos 3,5 milhões de seguidores que responderam foram a favor da venda. Na segunda-feira, diante de uma eminente superoferta de ações da Tesla no mercado, elas caíram quase 5%, o que eliminou cerca de 60 bilhões de dólares do valor de mercado da empresa. O valor se torna inexpressivo ser for considerado que as ações da Tesla se valorizaram mais de 50% apenas este ano e que o valor de mercado da fabricante gira em torno de 1 trilhão de dólares. Depois das transações desta semana, Musk ainda detém em torno de 170 milhões de ações da Tesla, ou 17% do total. Ele é o maior acionista da Tesla, e poderá deter ainda mais, pois tem, ao todo, opções de compra de mais 71 milhões de ações, que expiram nos próximos anos. E ele terá ainda mais dessas opções se a Tesla continuar a crescer e alcançar suas metas financeiras. Impostos e não tuíte Os documentos mostram que Musk vendeu quase 3,6 milhões de ações da Tesla pelo valor de 4 bilhões de dólares e também vendeu mais 934 mil ações por 1,1 bilhão de dólares para pagar impostos que recaíram sobre o exercício de uma opção de compra de 2,15 milhões de ações da empresa. O fundador da Tesla exerceu essa opção de compra de 2,15 milhões de ações nesta segunda-feira, pela bagatela de 6,24 dólares por ação, menos de 1% do valor atual, que fechou em 1.067,95 dólares na quarta-feira. Os documentos também mostram que a venda das 934 mil ações fora acertada em 14 de setembro (bem antes, portanto, do tuíte de sábado passado), para pagar o imposto de renda resultante justamente do exercício da opção de compra das 2,15 milhões de ações. Ou seja, Musk comprou 2,15 milhões de ações pelo valor unitário de 6,24 dólares e logo em seguida vendeu 934 mil delas por mais de 1.000 dólares a unidade para pagar os impostos. A opção de compra lhe fora concedida pela Tesla em 2012, como parte de sua remuneração na empresa. Nesta segunda-feira ele exerceu apenas uma pequena parte dessa opção, o correspondente a 9% do total de ações que, pelo acerto de 2012 com a Tesla, ele pode comprar pelo valor de 2012 até agosto de 2022, quando a opção de compra expira. Em 2012, Musk recebeu a opção de compra de 22,9 milhões de ações da Tesla pelo valor de então, de 6,24 dólares a unidade. Essa opção expira em 13 de agosto de 2022. Analistas calculam que a compra de todas essas ações vá gerar um imposto de renda entre 11 bilhões e 16 bilhões de dólares. "Veja, eu não recebo um salário ou bônus de ninguém. Eu só tenho ações, então a minha única maneira de pagar impostos é vendendo ações", escreveu Musk no sábado passado. Legisladores propõem taxar bilionários O polêmico tuíte seguiu-se a uma discussão pública entre Musk e o chefe do Programa Alimentar Mundial da ONU, David Beasley. Na discussão, Musk afirmou que venderia ações da Tesla para ajudar a combater a fome no mundo se Beasley pudesse mostrar como esse dinheiro seria aplicado para resolver o problema. A declaração foi dada depois de Beasley desafiar Musk, o presidente da Amazon, Jeff Bezos, e outros bilionários numa entrevista à emissora CNN, afirmando que eles poderiam contribuir para acabar com a fome no mundo. Beasley disse que fundos adicionais de pouco mais de 6 bilhões de dólares poderiam salvar 42 milhões de pessoas de morrer de fome. O debate entre Musk e Beasley se deu no momento em que legisladores americanos discutem a criação de um imposto para bilionários para ajudar a pagar o pacote social do presidente Joe Biden. A ideia é que cerca de 700 bilionários, entre eles Musk, paguem impostos sobre lucros não realizados em ativos como ações. No caso, lucro não realizado designa a valorização de uma ação que ainda não foi vendida, ou seja, a ação vale mais do que quando foi adquirida, mas o lucro com a venda dela ainda não ocorreu. A riqueza de bilionários costuma estar muito mais atrelada a ações do que a salários e remunerações. Mas a riqueza obtida da valorização de ações não é taxada diretamente — apenas quando as ações são vendidas. as/lf (Reuters, AP, DW, ots) Autor: Alexandre Schossler