China vai reprimir "estilos afeminados" na TV

Na rede social Weibo, popularmente conhecida no país, vários usuários criticaram a censura, afirmando se tratar de discriminação e pedindo respeito à diversidade

09:47 | Set. 04, 2021

Por: Mirla Nobre
A Agência Nacional de Rádio e TV (NRTA) descreve como "conteúdo insalubre" os "estilos afeminados" na programação chinesa (foto: Angela Weiss / AFP)

Na China, a agência reguladora de rádio de TV do país informou que vai banir a estética “afeminada” em programas de entretenimento, alegando que "influências vulgares" devem ser evitadas no país. A medida trata-se de tentativa em fechar o cerco que a Agência Nacional de Rádio e TV (NRTA) descreve como “conteúdo insalubre” na programação chinesa.

Conforme informações divulgadas pelo portal BBC News, a Agência declarou que critérios de conduta moral e política devem ser incluídos na seleção de pessoas que forem trabalhar nos programas.

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Defendendo a iniciativa da NRTA, as autoridades midiáticas locais também prometeram promover o que definiram como imagens mais masculinas de homens, criticando celebridades masculinas que usam muita maquiagem. Além disso, programas que promovam uma cultura tradicional, revolucionária ou "de socialismo avançado", ou que estimulem uma atmosfera patriótica, serão estimulados.

No último dia 27 de agosto, um artigo de opinião publicado no jornal estatal "Guangming Daily" alegava que algumas celebridades "afeminadas" são imorais e podem prejudicar os valores dos adolescentes chineses.

Criticando os posicionamentos, na rede social Weibo, popularmente conhecida na China, vários usuários criticaram a censura, afirmando se tratar de discriminação e pedindo respeito à diversidade. Na China, a homossexualidade não é ilegal, mas autoridades fazem, em geral, censura rígida do tema.

No país, referências gays foram tiradas de filmes, como a do Bohemian Rhapsody, sobre o cantor Freddie Mercury (embora referências similares tenham sido mantidas no filme Green Book – O Guia) e cenas de sexo e nudez também foram editadas em séries, como em Game of Thrones.

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Em 2019, a China chegou a borrar as orelhas de jovens popstars em suas apresentações na TV e na internet, para esconder seus brincos ou piercings. Tatuagens e rabos de cavalo em homens também já foram borrados em algumas ocasiões.

Indústria lucrativa

A tentativa de fechar o cerco dos conteúdos que a Agência Nacional de Rádio e TV (NRTA) descreve como “conteúdo insalubre” na programação chinesa é um esforço do Partido Comunista chinês em reforçar o controle sobre a indústria de entretenimento da China. Conforme um relatório recente da consultoria PwC, em 2021, a indústria deve faturar em torno de US$ 358 bilhões.

Para isso, o partido comunista pretende aumentar o controle sobre conteúdos, desde games à música e ao cinema, censurando o que supostamente viole os “valores socialistas” –, até combater os altos salários e a evasão fiscal nessa indústria.

O presidente da China, Xi Jinping, já reforçou o seu compromisso com o que chamou de "prosperidade comum". Para o professor de história e política da China moderna na Universidade de Oxford, Rana Mitter, a ideia de "prosperidade comum" foi uma forma de "criticar a imensa desigualdade que marca atualmente a sociedade" do país.