Guerra no Afeganistão hoje, 18: últimas notícias do país tomado pelo Talibã

O Talibã assumiu o controle da capital Cabul e tomou o governo do Afeganistão; confira as últimas notícias da guerra no país hoje, quarta-feira, dia 18 de agosto (18/08)

00:00 | Ago. 18, 2021

Por: Redação O POVO
Combatentes do Talibã montam guarda do lado de fora do Ministério do Interior em Cabul, no Afeganistão; confira as últimas notícias da guerra hoje, dia 18/08 (foto: JAVED TANVEER / AFP)

O Afeganistão chega hoje, quarta-feira, dia 18 de agosto (18/08/2021), em mais um dia de guerra. Confira abaixo as últimas notícias do país que foi tomado pelo Talibã.

Notícias do Afeganistão: 17 de agosto

Afeganistão: Talibã assume governo do país; entenda o conflito 

A última semana tem sido de intensos conflitos no Afeganistão. Em maio deste ano, o governo dos Estados Unidos anunciou a retirada das tropas restantes no país asiático. Com a movimentação, o grupo extremista Talibã iniciou uma série de ataques a diversas províncias do país, capturando todo o território afegão. Neste domingo, 15, a capital Cabul foi tomada pelo grupo.

Veja o momento em que pessoas tentam embarcar para fora do país:

Contando apenas o conflito mais recente, iniciado em 2001, a Guerra do Afeganistão durou duas décadas. As origens do conflito e o surgimento do Talibã, porém, remontam a 40 anos atrás. O POVO reuniu as principais informações abaixo, confira:

 

O que é o Talibã? Quando e como ele surgiu?

O Talibã é um grupo fundamentalista que atua no Afeganistão desde os anos 1990. Com uma visão extremista da religião islâmica, a agremiação atua tanto de forma política quanto militar.

A origem do Talibã se deu após a Guerra Afegã-Soviética, que aconteceu de 1979 a 1989. Neste conflito, a União Soviética e o governo do Afeganistão, de orientação marxista e que havia chegado ao poder com um golpe de Estado em 1978, enfrentaram milícias ligadas ao Paquistão e à Arábia Saudita.

Estes grupos paramilitares, chamados mujahidins, tinham também apoio logístico e treinamento dos Estados Unidos e da Inglaterra. Esta foi uma das chamadas "guerras por procuração", comuns no embate entre Estados Unidos e União Soviética, em que os dois países nunca entravam em conflito direto.

Entre as tropas que receberam treinamento, dinheiro e armas dos Estados Unidos, estavam nomes como Mohammed Omar, Akhtar Mansour e Hibatullah Akhundzada. Os três são fundadores do Talibã, que começou como um grupo de estudos do islã ("talib", no idioma afegão).

Em 1994, Omar, com cerca de outros 50 estudantes, decidiu criar uma organização que militasse pelo endurecimento das leis no Afeganistão segundo uma interpretação extremista da Sharia, código de conduta islâmico. Com amplo apelo em escolas religiosas do Afeganistão e do Paquistão, em 1995 o Talibã já tinha cerca de 15 mil membros.

Entre os posicionamentos de Omar estavam a oposição tanto à invasão soviética, que trouxe costumes ocidentalizados ao Afeganistão, quanto às milícias que governavam partes do país após o fim do conflito. À época, diversas facções de mujahidins disputavam o vácuo de poder deixado pelos soviéticos, em uma guerra civil que durou de 1992 a 1996. Na visão do Talibã, os conflitos geravam sofrimento ao povo afegão, e aconteciam porque a população não seguia as interpretações mais rígidas da Sharia.

O Talibã já governou o Afeganistão antes?

Já em seu princípio o Talibã tinha sua própria milícia, devido às armas e treinamentos recebidos de Paquistão e Estados Unidos, durante a guerra contra a União Soviética. Lançando, em dezembro de 1994, em um ataque na cidade natal de Omar, Kandahar, o grupo tomou o poder na região. Nos meses seguintes, as investidas militares continuaram: em setembro de 1996, o Talibã havia conquistado Cabul.

Entre 1996 e 2001, o Talibã foi o governo de fato do país, com o nome de Emirado Islâmico do Afeganistão. Após duas décadas de conflitos, entre a invasão soviética e a guerra civil, todavia, a região estava destruída, e acesso a itens básicos como água potável, comida e eletricidade dependiam de ajuda humanitária. Com uma política de desconfiança em relação a não-muçulmanos, o Talibã dificultou ou impediu ações de organismos internacionais no país.

Durante seu governo, o Talibã firmou parceria com a organização terrorista Al-Qaeda. O grupo criado por Osama Bin Laden teve grande integração com as forças de segurança do Afeganistão no período, auxiliando o governo do Talibã a manter a autoridade no país mesmo com o colapso social.

O Talibã é uma organização terrorista?

A princípio, o foco do Talibã não era atuar como grupo terrorista. Embora tenha posicionamentos similares ao de grupos como Al-Qaeda e Daesh (Estado Islâmico), o objetivo inicial do Talibã era o estabelecimento de um governo sob uma visão extremista do islã.

Diferentemente destas organizações, que realizam ações como o atentado às Torres Gêmeas, em 2001, e diversos ataques a bomba, em países como Inglaterra, Espanha, Iraque e Indonésia, o Talibã focava em ações de política interna, primariamente no Afeganistão e em partes do Paquistão. Após a queda do governo, devido à invasão estadunidense em 2001, o Talibã passou a usar táticas de terrorismo, como homens-bomba.

Há, ainda, relações próximas do Talibã com grupos terroristas. A Al-Qaeda, por exemplo, atuou durante anos dentro do governo afegão, na época que este era comandado pelo Talibã. A filha de Mohammad Omar, fundador do Talibã, se casou com um dos filhos de Osama Bin Laden, em um estreitamento dos laços entre os dois grupos.

Apesar de não ter sido sempre considerado um grupo terrorista, por não realizar habitualmente ataques e atentados como organizações do tipo, o Talibã é conhecido por usar de extrema violência. Entre suas ações há a execução de opositores, coerção e ameaças.

A ativista paquistanesa Malala Yousafzai, por exemplo, ficou conhecida por sua resistência às políticas do Talibã, que proíbe mulheres de estudar nas regiões que ocupa. Em 2012, ela foi atacada por um atirador do Talibã em retaliação a seu ativismo.

Como o Talibã retomou o Afeganistão?

Após o ataque da Al-Qaeda às Torres Gêmeas, em 2001, o governo dos Estados Unidos, em conjunto com outros países, invadiu o Afeganistão, dando início à chamada "Guerra ao Terror". A ofensiva foi intensa e, em cerca de dois meses, o governo do Talibã havia sido deposto.

Ao longo das duas décadas seguintes, tropas estadunidenses se mantiveram na região, além de realizar incursões em outros países próximos, como Iraque (resultando na Guerra do Iraque), Síria e Iêmen. Apesar de ter gasto mais de 1,5 trilhão de dólares nestes conflitos, sendo mais de US$ 1 trilhão somente no Afeganistão, o governo dos Estados Unidos nunca conseguiu remover totalmente a influência do Talibã no país.

Até 2014, as tropas estadunidenses estavam envolvidas diretamente em combates com remanescentes do Talibã no Afeganistão. Em outubro daquele ano, porém, o papel do exército dos Estados Unidos se tornou de treinamento e apoio logístico às forças armadas do Afeganistão, reunidas em 2011.

A partir de então, o Talibã passou a se reorganizar para não apenas reagir em combate contra as tropas estadunidenses, voltando a usar táticas políticas e militares para se reerguer. Além da reestruturação das milícias, o Talibã passou a atuar no interior do Afeganistão, argumentando que a ocupação dos Estados Unidos e os governos de transição impediam que o nível de vida da população melhorasse.

Com um contingente renovado, o Talibã aproveitou as negociações de retirada das tropas internacionais para retomar de forma significativa diversas províncias do Afeganistão. Em fevereiro de 2020, já com controle territorial significativo no país, o Talibã e o governo dos Estados Unidos assinaram um acordo de paz que previa o fim da ocupação estrangeira no país.

Apesar da transição entre os governos de Donald Trump e Joe Biden ter gerado atrasos no planejamento inicial, em maio de 2021 as últimas tropas estadunidenses começaram a retirada. Conforme as forças armadas do Afeganistão eram deixadas como única linha de defesa em diversas regiões do país, o Talibã avançou na captura de mais regiões.

No começo de agosto, havia apenas cerca de 650 soldados dos Estados Unidos no Afeganistão. Conforme o Talibã capturava mais regiões do país, o exército afegão permaneceu com apenas dois pelotões, ambos na capital Cabul. Com pouca resistência, o Talibã aumentou a intensidade e a agressividade das ações, chegando a Cabul nesse domingo.

O presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, fugiu do país algumas horas antes das tropas do Talibã avançarem sobre Cabul. O grupo, que chegou aos limites da cidade na manhã de domingo (horário local), afirmou que não tomaria a capital antes de negociar uma transição pacífica do poder.

Com a fuga de Ghani, porém, o Talibã decidiu entrar na cidade. Em comunicado, o grupo afirmou que a mudança de posição aconteceu para "evitar o caos e os saques", uma vez que a polícia local abandonou os postos.

Na incursão, as tropas do Talibã capturaram prisões em Cabul e na cidade vizinha de Bagram, libertando milhares de prisioneiros. Entre os libertos, há membros do Daesh e da Al-Qaeda. Na noite de domingo, o Talibã chegou ao palácio presidencial, e declarou a retomada do governo deposto em 2001 (Bemfica de Oliva).

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