Cientistas acham galáxia "gêmea" da Via Láctea a 320 milhões de anos-luz

Chamada de UGC 10738, galáxia se assemelha à Via Láctea por ter dois discos distintos de estrelas com composições diferentes; formação "gêmea" era apontada como rara em simulações

23:58 | Mai. 27, 2021

Por: Bemfica de Oliva
Vista da Terra, a Via Láctea parece um arco de nuvens e estrelas que pode ser achado no céu, longe de centros urbanos; galáxia gêmea foi encontrada a 320 milhões de anos-luz (foto: AstroAnthony)

Uma galáxia "gêmea" da Via Láctea foi descoberta por cientistas australianos. Com o pouco atraente nome de UGC 10738, ela está a 320 milhões de anos-luz da Terra.

Conforme explicado em uma publicação por dois dos astrônomos que participaram do estudo, Jesse van de Sande e Nicholas Scott, a Via Láctea se assemelha, em sua maior parte, a outras galáxias espirais, que são as mais comuns do universo. No entanto, um detalhe importante a torna diferente do resto: quando vista horizontalmente por equipamentos especializados, é possível discernir dois "discos" diferentes na formação da galáxia.

O maior deles, mais fino, é visível à noite, a olho nu e pode ser notado em locais de céu aberto, longe de centros urbanos, como um arco de nuvens e estrelas. Ele tem cerca de 1.000 anos-luz de espessura e 100 mil anos-luz de diâmetro.

O segundo precisa de telescópios para ser enxergado, e por isso só foi descoberto em 1983. Ele é consideravelmente mais grosso, com "alguns milhares" de anos-luz de espessura, segundo os pesquisadores, tendo diâmetro menor que o disco mais fino. Ambos têm o mesmo centro.

A diferença entre essas formas é que o disco fino é habitado por estrelas mais jovens, que possuem elementos químicos mais pesados em sua composição, e tem uma densidade muito maior, com mais estrelas. O mais espesso, por sua vez tem estrelas mais antigas, com cerca de 100 vezes menos materiais pesados, e é muito menos "populoso".

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Formação "gêmea" indica que galáxias como a Via Láctea são comuns


Em simulações de computador feitas em anos anteriores, cientistas haviam chegado à conclusão que este tipo de formação com dois discos distintos provavelmente aconteceria pelo choque entre duas galáxias, o que seria extremamente raro.

Essa percepção mudou com o estudo da UGC 10738. Os astrônomos começaram pesquisando diversas galáxias similares à Via Láctea, e se detiveram nesta por sua posição: vista da Terra, ela está de lado, o que permite distinguir com facilidade os discos fino e espesso.

Analisando a composição da galáxia, eles descobriram que os elementos químicos presentes nela são extremamente similares aos da Via Láctea, inclusive a diferença de materiais e a densidade de estrelas nos dois discos. Outro ponto importante é que a NGC 10738 não tem nenhum indicativo de que tenha sofrido grandes colisões no passado, implicando que esse tipo de formação ocorreu de maneira natural.

A descoberta é importante porque indica que a Via Láctea não é uma galáxia "especial", com características raras, como anteriormente se imaginava. Isso é importante porque, como ela é a mais próxima da Terra e mais fácil de estudar, a possibilidade de usar a Via Láctea como "modelo" para compreender a formação de galáxias diversas é maior.

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