Gleen Greenwald pede demissão do The Intercept e acusa veículo de censura

O jornalista é cofundador do The Intercept EUA e pediu demissão após alegar ser impedido de publicar uma matéria que denunciava a posição da mídia estadunidense sobre comportamentos do candidato à presidência, Joe Biden

11:44 | Out. 30, 2020

Por: Catalina Leite
O jornalista Gleen Greenwald anunciou o pedido de demissão do veículo The Intercept, do qual é cofundador (foto: EVARISTO SA/AFP)

O jornalista Gleen Greenwald anunciou o pedido de demissão do veículo The Intercept, do qual é cofundador, alegando ter sido censurado pelos editores. Segundo ele, os editores do The Intercept estadunidense impediram que Gleen publicasse um artigo crítico ao candidato a presidência dos Estados Unidos, Joe Biden.

"Os editores do The Intercept, em violação do meu direito contratual de liberdade editorial, censuraram um artigo que escrevi esta semana, recusando-se a publicá-lo a menos que eu removesse todas as seções críticas ao candidato democrata à presidência Joe Biden, o candidato apoiado veementemente por todos os editores do The Intercept de Nova York envolvidos neste esforço de supressão”, afirmou o jornalista em nota publicada em seu site pessoal

Gleen ainda insere na nota o e-mail enviado para Michael Bloom, CEO da First Look Media, empresa à qual o The Intercept está vinculado. Nele, o jornalista comenta como está, há um tempo, “extremamente desencantado e triste com a direção editorial do The Intercept sob sua liderança em Nova York”. De acordo com ele, o modelo atual do veículo é totalmente diferente do que era intencionado quando a publicação foi criada em 2014, “sem esses editores”, reforça.

Minha resignação do The Intercept [em português]

As mesmas tendências de repressão, censura e homogeneidade ideológica que assolam a imprensa norte americana de modo geral tomaram conta do meio de comunicação que eu co-fundei, culminando na censura.https://t.co/1T0wPWDUJs

— Glenn Greenwald (@ggreenwald) October 30, 2020


“Mas todo esse tempo, à medida que as coisas pioravam, concluí que, enquanto The Intercept permanecesse um lugar onde meu próprio direito de independência jornalística não estivesse sendo violado, eu poderia viver com todas as suas outras falhas. Mas agora, nem mesmo esse direito mínimo, mas fundamental, está sendo honrado por meu próprio jornalismo, suprimido por uma equipe editorial cada vez mais autoritária, movida pelo medo e repressiva em Nova York”, critica.

Em sua conta no Twitter, Gleen reforçou que o pedido de demissão e a crítica correspondem ao The Intercept dos Estados Unidos. Isso porque ele também é cofundador do The Intercept Brasil (TIB), responsável pela publicação de uma série de reportagens apontando a manipulação por trás da Lava Jato. “Pelo contrário: tenho muito orgulho do jornalismo que o TIB produz sob a liderança do Leandro Demori”, frisa.

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Após o pedido de demissão de Gleen, os editores do The Intercept publicaram um editorial no qual definem a narrativa do jornalista como “repleta de distorções e imprecisões - todas destinadas a fazê-lo parecer uma vítima”. Os editores afirmam que respeitam o jornalista “que Gleen Greenwald costumava ser”, mas que foi ele “quem se desviou de suas raízes jornalísticas originais, não The Intercept”.

Críticas a Joe Biden

Em uma postagem separada no site pessoal, o jornalista publicou o artigo não aceito pelos editores do The Intercept.  “Também irei publicar todas as comunicações que tive com os editores da Intercept em torno deste artigo para que vocês possam ver a censura em ação e, dadas as negativas da Intercept, decidam por si mesmos”, explica.

O título original da matéria de Gleen Greenwald é “O verdadeiro escândalo: a mídia dos Estados Unidos usa falsidades para defender Joe Biden dos e-mails de Hunter”. Nele, Gleen descreve e-mails de Hunter Biden, filho de Joe Biden, usando o nome da família para se favorecer em negócios com a China e outros países.

Hunter teria ainda induzido o pai a usar o antigo cargo de vice-presidente dos EUA para “tomar medidas benéficas para a empresa de energia ucraniana Burisma, em cujo conselho dos diretores, Hunter recebia um pagamento mensal de US $ 50.000”. Os e-mails já eram de conhecimento público após publicações do New York Post, há duas semanas.

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