Sentiu vontade de fazer xixi? Agradeça ao recém-descoberto gene Piezo2
Pesquisadores acreditam que o gene Piezo2 pode ser essencial para células medirem expansão da bexiga e alertar ao corpo quando é hora de urinar
Quando a vontade de fazer xixi vem, o corpo todo fica alerta e foca em segurar a urina. Apesar de ser uma das sensações mais comuns, os pesquisadores ainda não sabiam que mecanismo, substância ou organismo é primariamente responsável por avisar ao corpo que é hora de urinar - até agora.
Em uma pesquisa com camundongos e pacientes, cientistas estadunidenses identificaram o gene Piezo2 como possível encarregado de avisar às células sensoriais que é preciso fazer xixi. Para isso, o gene tanto identifica a expansão da bexiga - ou seja, ela se enchendo de líquido -, quanto ativa neurônios e células uroteliais, que alertam o cérebro.
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A descoberta pode ser essencial para avaliar as implicações clínicas da deficiência de Piezo2 em humanos. No artigo científico publicado na revista Nature, os pesquisadores entrevistaram 12 pessoas com deficiência de Piezo2 para compreender como o gene contribui para a micção entre eles.
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As idades variaram entre 5 a 43 anos, mas todos relataram diminuição da frequência de micção, às vezes urinando apenas uma ou duas vezes ao dia, independente do estado de hidratação. Segundo o artigo, a frequência saudável de micção é de cinco a seis vezes por dia.
Como os entrevistados sentiam pouca ou nenhuma vontade de fazer xixi, a técnica utilizada pela maioria era ter um cronograma urinário. Seguindo-o, muitos conseguiam satisfazer a necessidade, mas qualquer atraso na micção poderia resultar em acidentes urinários.
Dois indivíduos relataram enurese noturna ocasional (fazer xixi na cama à noite), enquanto outros quatro tinham incontinência ao rir, tossir e/ou ter alterações posturais. Um dos casos foi tão grave que precisou de tratamento. Outros pacientes afirmaram que tinham a sensação de não ter esvaziado toda a bexiga, além de ter um “jato urinário irregular”. Ainda, todos relataram que precisavam fazer xixi inclinando-se ou pressionando a parte inferior do abdômen.
Estudo nos camundongos
No entanto, a entrevista com os pacientes com deficiência de Piezo2 foi uma pesquisa mais exploratória. A análise de como o gene funciona envolveu testes em camundongos. Os pesquisadores inseriram um marcador neuronal nos ratinhos, responsável por iluminar ou colorir determinados neurônios no organismo dos animais.
Assim, eles identificaram que dos 95 neurônios que inervam a bexiga, 75 expressaram o gene Piezo2 - o que corresponde a 81,5%. Além de expressar-se nesses neurônios, o gene também surgiu em 64% de células sensoriais chamadas guarda-chuva. Do total, 12,6% das células guarda-chuva mostravam “alta expressão” de Piezo2.
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“Esses resultados mostram que Piezo2 é expresso em dois tipos distintos de células no trato urinário inferior e pode funcionar na detecção de estímulos mecânicos relevantes”, escrevem os autores principais Ardem Patapoutian e Alexander Chesler, do Departamento de Neurociência do Instituto Médico Howard Hughes, nos Estados Unidos da América. A partir de agora, a equipe estudará como as células uroteliais e os neurônios sensoriais cooperam para controlar a função urinária.