Ciência para todos: entenda o que é o método científico e como aplicá-lo no cotidiano

A ciência está muito mais presente no dia-a-dia do que se imagina; veja como estimular crianças a aplicarem o método científico

08:39 | Out. 15, 2020

Por: Catalina Leite
FORTALEZA, CE, BRASIL, 06-09-2019: Entre os dois e quatro anos, a fase dos porquês, é quando as crianças mais precisam de estímulos para descobrir (foto: Alex Gomes/ Especial para O POVO)

Nunca se falou tanto nos jornais sobre vacinas, tratamentos e Ciência. No entanto, não faltam fake news circulando na internet vendendo soluções não científicas para o público. Parte disso é porque o Brasil não está alfabetizado cientificamente, ou seja, as pessoas não têm noção geral sobre conceitos científicos básicos, nem sobre a essência da atividade científica ou sobre a função social da Ciência e Tecnologia.

Ainda que faltem dados oficiais sobre essa relação, os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) 2015 refletem bem o cenário precarizado. No ano, a disciplina foco da prova foi Ciência. Entre 70 países participantes, o Brasil ficou em 63º lugar de proficiência na área.

Mas o Pisa 2015 também apontou que os adolescentes participantes são muito interessados em Ciência - principalmente quando tange assuntos sobre o Universo e o tratamento de doenças. E o que une essas áreas científicas (Exatas e Biológicas), assim como as Humanas e Sociais, é o método científico.

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O que é o método científico

 

O biólogo Vicente Vieira Faria narra a seguinte situação: imagine que você está indo ao trabalho e vai ligar o carro. Coloca a chave na ignição, gira, mas o carro não liga. O que pode ter acontecido? Bom, você pensa, talvez a bateria tenha acabado. Você sai do carro, levanta o capô e analisa.

Mas e se o problema for falta de gasolina? Nesse caso, você segue até o outro lado do carro, abre a tampa e checa para ver se tem algo. Balança o carro e confirma: realmente, sem gasolina. Todo esse processo, diz Vicente, é a aplicação pura do método científico.

Ao se deparar com um fato, começa-se a formular hipóteses. As hipóteses são palpites que respondem uma situação. Talvez o carro não ligue porque a bateria acabou. Talvez o problema seja a gasolina. Mas essas hipóteses precisam ser testadas até concluir o que é verdade e o que é falso. Então você vai, olha o capô, checa a tampa de gasolina, balança o carro - todos experimentos para recolher evidências e chegar a uma conclusão.

Nem sempre o método científico foi assim. Na década de 1930, o filósofo austríaco Karl Popper conseguiu definir um ponto essencial para o método ser como é hoje: “Ciência é o que pode ser falseado”. Isso significa que a Ciência se fortalece pela habilidade de testar, permitindo que os estudos avancem à medida que as possibilidades são gradualmente descartadas. Afinal, se algo é intestável, como garantir cientificamente que ele funciona/existe?

É por isso que questionar é tão importante. A partir do método científico, por exemplo, é possível reduzir o número de fake news circulando por aí. Receber uma informação publicada na internet não garante que ela é totalmente verdadeira. É necessário duvidar, pesquisar, comparar e levantar dados suficientes para só então concluir a veracidade do texto.

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“A Ciência recompensa quem duvida dos outros, mas é sempre importante lembrar que colocar uma dúvida sobre o conhecimento não significa invalidar o que se conhece”, explica o físico Antonio Gomes. De acordo com ele, aplicar o método científico no cotidiano é também aceitar que você pode estar errado.

“Por mais contraditório que possa parecer, o limite entre Ciência e qualquer outra visão de mundo é o fato de que a descrição científica da realidade, apesar de ser a forma mais isenta de ver o mundo, é falível. O absoluto não faz parte da ciência. O absoluto faz parte da crença!”, conclui.

Quando o fato tem vários porquês

 

Enquanto para as ciências exatas e biológicas 2+2=4, as ciências humanas sociais frequentemente analisam fenômenos em que a resposta não é tão “simples” (ainda que nada seja tão simples quanto parece). É o que a cientista social Danyelle Nilin Gonçalves define como “multicausalidade”. Ou seja, muitos elementos influenciam no fato.

“Vamos pegar o tema pobreza, por exemplo, a partir do fator meritocracia. Os cientistas sociais vão analisar as gerações, o acesso ao estudo, a renda da família, o capital cultural… Para mostrar se esse fator meritocrático é plausível ou não”, exemplifica.

Ainda que o tipo de dados e a forma de consegui-los sejam diferentes, o método científico é o mesmo: o fato é a pobreza, a hipótese é que ela é causada pela meritocracia e o experimento é a análise de uma sociedade. Não é necessário um laboratório para se fazer Ciência.

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Mas esse não é o principal desafio que as ciências humanas sociais precisam enfrentar. “Os cientistas sociais estão refletindo, colocando seus achados em pesquisas e muitas vezes são ignorados”, lamenta Danyelle. A sociedade ainda confunde a área como opinião, mesmo que ela siga todo o rigor científico.



Como estimular o uso dos método científico pelas crianças

 

Embora o método científico faça parte constante da rotina, são nas crianças que mais o percebemos em prática. Por que o céu azul? Por que os gatos miam? Por que o papai tem “pipi” e a mamãe não? Por que as pessoas se abraçam?

A fase dos porquês, comum dos dois anos e meio até os quatro anos de idade, é o momento em que as crianças começam a se entender como sujeitos e querem entender o mundo em que vivem. Segundo a psicóloga e doutora em Educação, Ticiana de Sá, é nessa fase que as crianças mais precisam de estímulo para investigar.

“É importante que não só o adulto acolha o interesse da criança e instigue ela a responder, como também não dê muitas respostas prontas. Tente ver qual é a versão de sentido que a criança tem [da pergunta]”, orienta a especialista. É uma oportunidade de desenvolver o senso crítico e científico das crianças, além da capacidade de exploração.

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Para isso, é possível criar experimentos com ela. “Você pode fazer pequenos experimentos no dia-a-dia, com cores, tamanhos, sabores, com objetos cotidianos. Também com lupas, revistas, livros”, sugere. Essa interação é saudável em todos os sentidos para os pequenos, já que há mais contato com os pais e há desenvolvimento de habilidades e da autoestima.

Por outro lado, às vezes os próprios pais desconhecem as respostas ou não sabem como experimentar. De fato, por muito tempo construiu-se a imagem de que os adultos precisam saber de tudo e ter todas as respostas, o que colabora apenas para constranger os pais quando eles não sabem.

Nesse caso, a recomendação de Ticiana é atuar junto com a escola e se permitir experimentar. Procure em sites, revistas ou canais do YouTube que inspiram a experimentação e a curiosidade. Veja algumas dicas:

Revista Ciência Hoje para Crianças

A revista digital é desenvolvida pela renomada Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A revista Ciência Hoje para Crianças existe desde 1986 e já recebeu o prêmio José Reis de Divulgação Científica. Na aba Experimentos, a publicação ensina a fazer diversas brincadeiras que instigam o método científico.

Laboratório da Educação

A Organização Não Governamental foi fundada em 2012 e tem o objetivo de sensibilizar os pais sobre a importância deles no processo de aprendizagem das crianças. Na aba Explorar e Questionar, as educadoras fundadoras Beatriz Cardoso e Andrea Guida Bisognin orientam a como se comunicar com as crianças e como agir em situações específicas. O que você diria se seu filho perguntasse o que acontece quando as pessoas morrem? Elas ajudam!

Manual do Mundo

O canal do YouTube Manual do Mundo foi criado em 2008 pelo jornalista Iberê Thenório e pela terapeuta ocupacional Mariana Fulfaro. Ele tem todos os tipos de experiências físicas, químicas e biológicas, ótimas para a criançada fazer com a supervisão dos adultos. Segundo o Guinness Book, esse é o maior canal de Ciência e Tecnologia em Língua Portuguesa do mundo. Eles também têm um site.