Mulheres na Ciência: conheça as vencedoras de nobéis de Física e Química na história

Em 119 anos de existência, o Nobel só premiou quatro mulheres na Física e sete na Química; machismo estrutural dificulta o avanço de mulheres nas carreiras científicas

11:54 | Out. 08, 2020

Por: Catalina Leite
Emmanuelle Charpentier e a professora norte-americana de Química e de Biologia Molecular e Celular, Jennifer Doudna (foto: AFP)

 

O Nobel de 2020 é muito significativo para as mulheres cientistas. No Nobel de Física, a americana Andrea Ghez foi premiada pela descoberta de um “objeto compacto e extremamente pesado no centro de nossa galáxia". Ela liderou a pesquisa. No de Química, duas mulheres: as geneticistas Emmanuelle Charpentier (França) e Jennifer Doudna (EUA). Em 119 anos de premiação, Emmanuelle e Jennifer são a sexta e sétima mulheres a vencer um Nobel de Química. Já Andrea é a quarta a receber um Nobel de Física.

Vale ressaltar que a primeira mulher a receber tanto o Nobel de Física, quanto o de Química, foi a cientista polonesa Marie Curie. Ela também se tornou a primeira pessoa a ganhar o prêmio duas vezes e permanece como a única a ser laureada por duas áreas científicas distintas.

O sobrenome Curie ainda detém outro Nobel, dessa vez para a filha de Marie Curie, Irene. Irene Joliot-Curie era química e foi premiada junto com o marido, Frédéric Joliot-Curie, pela descoberta da radioatividade artificial e do nêutron. Conheça um pouco mais sobre a história de Marie Curie:

No entanto, a astrofísica Roberta Duarte frisa como o número de laureadas é ínfimo em relação à idade do prêmio. Para ela, a razão disso está no machismo estrutural e nas dificuldades que as mulheres enfrentam para manter carreiras em pesquisa.

“Quando eu fiz faculdade [de Física, na Universidade Federal de São Carlos], eu e outra amiga éramos as únicas mulheres em uma turma de 40 pessoas. Na época, o departamento tinha uns 50 professores e apenas duas eram mulheres”, conta.

Essa desigualdade aumenta junto com a hierarquia científica. Ainda que a divisão entre mulheres e homens na graduação seja meio a meio, elas vão sendo “tiradas” aos poucos da especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado. Quem afirma é Fábio Cafardo, também astrofísico: “Na pandemia, todo mundo teve uma queda de produtividade. Mas a proporção de artigos publicados por homens em relação aos por mulheres aumentou muito. É claro que isso tem uma série de razões de que a mulher, quando está em casa, é responsável por todas as tarefas, por cuidar dos filhos…”, reforça.

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Para Roberta, o prêmio de Andrea Ghez é extremamente simbólico. “Para você olhar e perceber que você também pode ser cientista, que também é o seu lugar. Ver uma mulher ganhando o Nobel de Física é uma sensação que você fala: ‘Nossa! Eu posso chegar lá também”, comemora.

Em entrevista por telefone ao Nobel, Andrea descreveu o recebimento do prêmio como uma “oportunidade e uma responsabilidade de encorajar a próxima geração de cientistas que são apaixonadas” pela astronomia. “Para mim sempre foi muito importante encorajar jovens mulheres a entrarem no ramo da Ciência”, afirmou.

Conheça as outras mulheres a receberem os nobéis de Física e Química: