Coreia do Norte: conheça o país mais fechado do mundo

Setenta anos após o armistício, a tensão na península coreana continua intensa. Saiba mais sobre a Coreia do Norte e o porquê do país ser considerado o mais isolado do globo

A Coreia do Norte carrega o título de país mais fechado do mundo, e não sem motivo. Desde a assinatura do armistício da Guerra das Coreias, em 1953, a Coreia do Norte está totalmente isolada do resto do mundo, e especialmente de sua vizinha e “irmã” - a Coreia do Sul.

Em um mundo que está mudando em velocidade exponencial, cada vez mais acelerado, o isolacionismo norte-coreano evita que o país seja exposto à inovação, ao crescimento e até ao melhoramento das condições de vida de seus habitantes.

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Como surgiu a Coreia do Norte?

A Coreia do Norte surge, ainda como área ocupada da península coreana, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial. Durante o conflito, a Coreia estava ocupada por forças japonesas, que foram forçadas a se retirarem após perderem a guerra. Assim, a porção norte da península foi ocupada pelos soviéticos, e a sul pelos americanos.

Os conflitos internos já surgem aí. Como forças diametralmente opostas, que só haviam se unido para derrotar o fascismo, Estados Unidos e União Soviética se autodeclararam os justos representantes do povo coreano, reivindicando a posse de todo o território. Em 1950, tem início a Guerra da Coreia, que só teria um fim três anos depois, em 1953.

Coreia do Norte e Coreia do Sul: quais as origens do conflito?

Com o fim da guerra, se formam dois países distintos: a Coreia do Norte “comunista” e a Coreia do Sul “capitalista”. Na verdade, nenhum dos termos pode ser utilizado de forma completa, pois as diferenças entre os dois países são mais profundas e complexas do que ideologias econômicas.

Após a assinatura do armistício, em 27 de julho de 1953, criou-se uma área desmilitarizada entre os dois países, demarcando os limites entre as duas nações. Assim têm início as tensões entre Coreia do Norte e Coreia do Sul, que persistem até hoje.

Ao longo do tempo, a cultura dos dois países foi se diferenciando mais e mais, por diversos fatores, mas principalmente as divergências em influências.

A Coreia do Sul é mais direcionada ao Ocidente, mantendo as raízes culturais coreanas mas com uma indústria cultural prolífica, longeva e superpopular. Já a Coreia do Norte, desde a época da ocupação soviética, rejeita quaisquer influências ocidentais, principalmente a norte-americana.

Características da Coreia do Norte

A Coreia do Norte é um país muito diferente dos outros, não somente dos vizinhos Coreia do Sul e Japão, mas de outros que passaram por processos semelhantes de isolacionismo no século XX, como Cuba. Fortemente militarizada, com inúmeras restrições de comportamento, saiba mais sobre as características da Coreia do Norte.

Força militar

A força militar da Coreia do Norte é conhecida como EPC, ou Exército Popular da Coreia. O nome vem da denominação oficial do país, que se chama República Popular Democrática da Coreia, apesar de ser uma ditadura. O oficial de mais alta posição é o líder de estado, Kim Jong-un.

O exército nortecoreano é dividido em cinco ramos: o Exército, a Marinha, a Força Aérea, a Artilharia e um departamento especial, chamado de Força de Operações Especiais. Na Coreia do Norte, a política institucional é conhecida como Songun (), traduzido literalmente para “exército primeiro” ou “exército em prioridade”.

A política de Songun determina a primazia do Exército nortecoreano em todos os aspectos da vida no país. Como o Comandante Supremo das forças militares, Kim Jong-un lidera o Exército e a sociedade.

Língua coreana

O coreano é falado em ambas as Coreias, com algumas especificidades: o dialeto do norte é baseado nas gírias e cultura da capital, Pyongyang; já o dialeto do sul é baseado nas da capital sulista, Seul. Ambas as falas fazem uso da língua escrita por meio do alfabeto unificado, chamado Hangul. As diferenças regionais não são grandes, porém, os coreanos de ambos os países conseguem entender-se entre si.

Até o século 15, a língua coreana era escrita com caracteres chineses; a complexidade da escrita dos ideogramas acabava fazendo com que grande parte da população não soubesse ler ou escrever, apesar de falarem a língua. Com o intuito de combater o analfabetismo, o rei Sejong (1397-1450) promulgou o novo alfabeto coreano.

O Hangul é especial pela sua representação fonética, mas por meio de símbolos, e não letras. A simplicidade e facilidade de aprendizado do novo alfabeto permitiu o aumento notável das taxas de alfabetizados no país, provando o êxito do rei coreano.

País fechado

A Coreia do Norte é considerada o país mais fechado do mundo, por sua aversão a influências externas, e especialmente as advindas do Ocidente e dos Estados Unidos. Ninguém de fora tem contato com quem está dentro, e vice-versa. Pessoas que entram no país não podem tirar fotos, fazer contato com civis nortecoreanos ou trazer produtos de fora para dentro do país.

Família Kim

Desde a partição da Coreia e Norte e Sul, a família Kim está intimamente envolvida com a história da Coreia. O primeiro homem da família Kim a governar a Coreia do Norte, Kim Il-sung (cujo nome significa, literalmente, “torne-se o sol”) era o líder das guerrilhas coreanas que lutaram contra a ocupação japonesa ao fim da Segunda Guerra Mundial, ao lado das forças soviéticas.

A partir da vitória dos Aliados na guerra, e a divisão do território coreano entre a dominação dos Estados Unidos e da União Soviética, Kim Il-sung se tornou o líder maior da Coreia do Norte, como presidente do Partido Comunista Coreano e apoiado pelos soviéticos.

A história da família Kim continua ainda hoje. Após a morte de Kim Il-sung, em 1994, seu filho, Kim Jong-il, assumiu a liderança do país, do partido e do Exército. O atual líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, subiu ao posto em 2011, aos 29 anos, após o falecimento do pai. Fã da liga de basquetebol americana, a NBA, e de testes com bombas nucleares em ilhas do Pacífico, Kim Jong-un é o símbolo da longevidade da dinastia Kim na Coreia do Norte

Turismo

Mesmo com a imensa curiosidade internacional sobre a vida e o cotidiano na Coreia do Norte, o turismo no país asiático ainda é pequeno, devido às inúmeras restrições impostas pelo governo. Todos os turistas que entram no país são acompanhados, durante toda a viagem, por guias que facilitam a comunicação entre idiomas e monitoram os visitantes.

A Coreia do Norte recebe cerca de 70 mil turistas ao longo do ano. Existem áreas especificamente designadas para o turismo, como a região das montanhas Kumgangsan, administrada pela empresa automobilística Hyundai.

O turismo na Coreia do Norte é visto como uma boa oportunidade também para quem reside nos países dos arredores, como China, Rússia, e Japão. O clima é mais ameno, o custo de viagem é relativamente baixo, e o governo nortecoreano vem facilitando a entrada de estrangeiros nos últimos anos.

Os donju movimentam o mercado de luxo de Pyongyang.
Os donju movimentam o mercado de luxo de Pyongyang. (Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal )


Proibições da Coreia do Norte

As restrições na Coreia do Norte não se referem somente à importação de influências ou de produtos. No país, o comportamento também é vigiado e restringido. Veja alguns exemplos de proibições na Coreia do Norte:

Fotografia

O forte controle exercido pelo governo nortecoreano em relação à imagem do país no exterior resulta em restrições quase absolutas sobre fotografias. O fotógrafo francês Eric Lafforgue fez seis visitas à Coreia do Norte, e registrou imagens do país jamais vistas pelo resto do mundo; a consequência foi o banimento eterno do país, ao qual não poderá mais retornar.

As imagens divulgadas por Lafforgue quando voltou ao seu país de origem retratavam a pobreza, a miséria e os símbolos opressores que caracterizam a vida cotidiana na Coreia do Norte; mas também mostravam beleza, sorrisos e a identidade de um povo isolado e desconhecido no resto do mundo.

Calça jeans

A calça jeans é vista como um símbolo do imperialismo americano, e portanto é proibido usar a vestimenta na Coreia do Norte.

Internet

O acesso à internet é intensamente vigiado e funciona de forma limitada, até pela falta de serviço de distribuição elétrica na maior parte do país, que é quase inteiramente rural.

Religião

Na Coreia do Norte, é proibido professar qualquer religião que não a adoração aos grandes líderes nacionais, Kim Il-sung e seu filho e neto. Por isso, não existem templos, festas ou costumes religiosos; a única coisa que se assemelha à religião é o culto aos líderes e a celebração do Dia do Sol, também conhecido como o aniversário de Kim Il-sung: 15 de abril.

Todos os anos, o festival da Kimilsungia e Kimjongilia, duas flores nomeadas em homenagem à dinastia Kim, acontece na mesma época do Dia do Sol, que é um feriado nacional de três dias de duração, criado para celebrar o nascimento do primeiro líder do país. Durante o festival, os cidadãos nortecoreanos ocupam as ruas festejando o nascimento do “eterno presidente da Coreia do Norte”.

Falar com estrangeiros

Como falado na seção sobre turismo na Coreia do Norte, todos os turistas que entram no país são acompanhados por guias locais, que servem tanto para viabilizar a comunicação quanto para vigiar os visitantes e os civis, impedindo que exista contato entre as partes. Até pessoas de fora que residem no país vivem separadamente dos cidadãos locais.

Ligar para o exterior

A comunicação entre quem está dentro da Coreia do Norte e quem está fora é quase nulo. O governo, de acordo com a revista Veja, confisca telefones celulares e chips telefônicos, para impedir os cidadãos nortecoreanos de falarem com pessoas de fora.

Ter o mesmo nome do líder da nação

É uma tradição na Coreia do Norte que o nome do atual líder da nação seja unicamente dele, ou seja, quaisquer outras pessoas com o mesmo nome são orientadas a “mudar voluntariamente de nome”, incluindo “mudanças em documentos oficiais, como documentos de segurança social e diplomas escolares,” de acordo com o jornal britânico The Guardian.

A prática já virou costume: os nomes dos dois antecessores de Kim Jong-un, Kim Il-sung e Kim Jong-il (seu avô e pai, respectivamente), também foram restringidos ao assumirem a liderança do país. Com isso, nenhuma criança nascida até o dia da morte de Kim Jong-un pode ser registrada com esse nome.

Conteúdos culturais estrangeiros

Conteúdos vindos de fora da Coreia do Norte são proibidos aos cidadãos. As restrições à internet, por exemplo, são uma das formas do governo nortecoreano de impedir o acesso a conteúdos culturais estrangeiros.

Dirigir

Na Coreia do Norte, as mulheres não podem dirigir. Mas mesmo os homens têm pouco acesso a automóveis, devido ao alto custo que possuem e o baixo poder aquisitivo da grande maioria da população.

Mesma mesa onde foi assinado o armistício de paz. Leonardo Lopes está do lado da ONUl, enquanto o turista chinês está do lado da Coreia do Norte.
Mesma mesa onde foi assinado o armistício de paz. Leonardo Lopes está do lado da ONUl, enquanto o turista chinês está do lado da Coreia do Norte. (Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal )


Mitos e verdades

Em agosto de 2019, o empresário Leonardo Lopes, em entrevista ao OPOVO, contou vários detalhes sobre sua viagem à Coreia do Norte, e o que pôde compreender sobre a cultura dos norte coreanos. Acompanhado pela esposa, Lopes visitou a capital, Pyongyang, e registrou os monumentos, locais históricos e cenas rurais do país.

Leia mais sobre a experiência de visitar a Coreia do Norte, e descobrir por si mesmo quais são os mitos e as verdades sobre o país mais fechado do mundo, no link.


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Conclusão

A Coreia do Norte é como um ponto fora da curva entre países da Ásia. Uma área que conta com nações que, conjuntamente, são chamadas de “Tigres Asiáticos” (Hong Kong, Cingapura, Coreia do Sul e Taiwan), também é integrada por países avessos aos avanços da tecnologia não-bélica.

Apesar das percepções globais sobre o regime ditatorial de Kim Jong-un, a Coreia do Norte é mais do que o atual governo; é um país cujo território viveu, por muitos anos, uma história e uma cultura rica, diversa e complexa, florescendo em momentos como a dinastia Joseon, de 1392 a 1897. Estudar e conhecer a historiografia da península da Coreia é se aprofundar na história do continente e dos povos asiáticos, além do Ocidente.

 

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