Afeganistão tem primeiro dia de trégua antes de possíveis negociações
11:15 | Jul. 31, 2020
Um cessar-fogo de três dias entre o governo afegão e os talibãs começou nesta sexta-feira, 31, uma situação incomum que muitos esperam que possa preparar o caminho para negociações de paz históricas. A trégua, que deve durar os três dias da festa de Aid al Adha, é a terceira em quase 19 anos de guerra.
O presidente afegão, Ashraf Ghani, e os talibãs deram a entender que os diálogos podem começar após a Aid al-Adha. "Queremos um cessar-fogo permanente da parte dos talibãs, já que são eles os que permitem a outros grupos terroristas operar no Afeganistão", disse à AFP o taxista Mohamad Tahir.
Centenas de afegãos comparecem às mesquitas nesta sexta-feira na capital do país, Cabul, onde vários passaram por controles de segurança para evitar possíveis atentados.
Nenhum confronto foi registrado durante o dia, mas o risco persiste em um país devastado por 40 anos de guerras. Na quinta-feira, poucas horas antes do início da trégua, 17 pessoas morreram em um atentado com carro-bomba, em mais um exemplo da violência que determina a vida dos afegãos.
As negociações deveriam ter começado em 10 de março, mas a data foi adiada, porque uma troca de prisioneiros permaneceu estagnada e os rebeldes exigem a conclusão do processo antes do diálogo.
A libertação por parte das autoridades afegãs de 5.000 insurgentes e de 1.000 membros das forças de segurança pelos talibãs deve terminar em breve.
Ontem, 30, os rebeldes anunciaram que cumpriram sua parte e libertaram 1.005 prisioneiros, enquanto Cabul já soltou 4.400 detentos vinculados aos talibãs. O governo afegão advertiu, porém, que alguns prisioneiros talibãs são muito perigosos para recuperarem a liberdade.
Apesar da interrupção dos ataques contra os americanos desde a assinatura de um acordo com os Estados Unidos, os talibãs intensificaram os atentados contra as forças afegãs e também mataram vários civis.
O presidente Ghani afirmou que mais de 3.500 membros das forças de segurança afegãs e quase 800 civis morreram desde a assinatura do acordo.
A Missão das Nações Unidas no Afeganistão (Manua) responsabilizou os talibãs pela maioria das mortes de civis durante o primeiro semestre de 2020. Cansados da violência, os afegãos afirmam que a trégua de três dias não é suficiente.
"Queremos um cessar-fogo permanente por parte dos talibãs, para não ver mais nenhum afegão morto nesta guerra", declarou à AFP o estudante Ahmad Jawed. Após as tréguas anteriores - em 2018 e em maio de 2020 -, os talibãs retomaram os ataques imediatamente.