Até 60ºC negativos: conheça cinco animais adaptados ao frio

Com suas habilidades e adaptações, estes animais conseguem sobreviver em ambientes inóspitos ou temperaturas extremas, como o círculo polar ártico e as suas águas glaciais

09:00 | Jul. 19, 2020

Por: Leonardo Igor
A raposa-do-ártico é um dos selecionados entre estes animais únicos que vivem em temperaturas capazes de nos congelar (foto: Jonathan Pie/Wikimedia Commons)

Quando a temperatura cai, é hora de tirar o casaco do guarda-roupa. Tomar uma bebida quente, ligar um aquecedor. São medidas mais ou menos comuns adotadas pelos seres humanos para se proteger do frio que, a bem da verdade, para a maioria de nós, está longe de ser glacial. Por outro lado, certos animais precisam lidar com esse clima congelante, que pode chegar a 50 ou 60ºC negativos. Alguns deles chegam mesmo a nadar em águas gélidas. Porém, como eles conseguem suportar tais condições extremas?

De acordo com o professor do Laboratório de Evolução e Ecologia Comportamental da Universidade Federal do Ceará (UFC), Lorenzo Zanette, essas espécies continuam a viver nestes ambientes inóspitos porque evoluíram para lidar bem com estas circunstâncias. “Evoluir sob certas condições ambientais te prende, de certa forma, àquelas condições”, explica. “Seria muito difícil para essas criaturas viverem em outro ambiente”.

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Estes animais que criaram adaptações a condições extremas - de temperatura ou de pressão, por exemplo - fizeram um longo percurso de adaptação evolutiva. “Quem determina essa variabilidade? Uma série de fatores, tamanho da população, histórico evolutivo dela, de onde veio, como, estabilidade do ambiente em que ocorre”, discorre Zanette. E acabam ficando, de certo modo, reféns do território que habitam: “Espécies encontradas em ambientes muito quentes, por exemplo, variam, mas não variam o suficiente para colonizar um lugar frio. Ou seja, quanto menor variabilidade nas condições do ambiente, em geral menor será variabilidade adaptativa”, conclui o especialista.

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Confira a seguir uma lista de animais que, graças a suas habilidades, consegue sobreviver em ambientes inóspitos ou temperaturas extremas. As informações são do National Geographic, do site Animalia e da União Nacional pela Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).

 

Cinco animais adaptados ao frio extremo

- Urso-polar


O maior carnívoro da Terra vive em uma das regiões mais extremas no planeta: o círculo polar ártico. Por ali, as temperaturas são glaciais e já marcaram os mortíferos 60ºC negativos. Para isso, o urso-polar (Ursus maritmus) é bem preparado. Sua extensa pelagem é grossa e possui camadas, de modo a isolar a parte superior, em contato com o frio, da pele a musculosa. Há pelos inclusive na parte inferior das patas para ajudar a caminhada no gelo.

Além disso, possui uma camada grossa de gordura. Mas as adaptações ao frio extremo não param aí. Este animal, exímio nadador que se alimenta principalmente de focas, tem orelhas e cauda mais curtos que os outros ursos, de modo a evitar perda de calor. Conhecido pela pelagem aparentemente branca, o Ursus maritmus tem, na verdade, a pele negra - circunstância que facilita a absorção do calor do sol.

 

- Raposa-do-ártico


Também conhecida por raposa-polar, a raposa-do-ártico (Alopex lagopus) é pequena e branca - no inverno. No verão continua pequena, mas a pelagem muda a cor para um tom acastanhado. Essa adaptação é um efeito de camuflagem na vegetação da tundra, onde é encontrada. Ela se alimenta de pequenos mamíferos, como ratos, e é adaptada para viver no frio extremo, que pode beirar os 50ºC negativos na região.

Bastante felpuda, essas raposas também usam outros métodos para se proteger do frio. Elas cultivam, por exemplo, o hábito de viver em tocas na terra. Ali, ficam aninhadas em torno da própria cauda peluda e conservam o calor. Também costuma guardar alimento na toca, o que, no auge do rigor do inverno, evita que ela precise sair para caçar. Assim como o urso-polar, tem pelos embaixo das patas, o que facilita a caminhada no gelo. Seus membros, como focinho e orelhas, são pequenos, o que evita a perda de calor.

 

- Lontra-marinha


A lontra-marinha (Enhydra lutris) é o mais pesado entre os mamíferos pequenos marinhos. É carnívora e vive basicamente no Oceano Pacífico, nas zonas costeiras. Embora possa ser encontrada em regiões de clima mais ameno, como na Califórnia, a maior parte da população habita áreas como o Alasca, o norte do Japão e o extremo oriente da Rússia, regiões mais frias e para as quais está bem preparada. Isso porque ela possui um casaco natural: seus pelos.

Na verdade, a lontra-marinha é o animal com mais pelos do planeta! A pelagem de fios longos ainda se divide em duas camadas, com os subpelos. Os fios são tão densos que retêm bolhas de ar para isolar e mantê-la seca após o mergulho ou aquecida a despeito do frio. É verdade que no mergulho boa parte do ar acaba por vazar, mas este mamífero é prevenido: terminado o mergulho, o organismo secreta uma camada de gordura que volta a prender ar e manter seca a superfície da pele.

 

- Baleia-jubarte


Outros animais desta lista dos adaptados ao frio se aproveitam das dimensões diminutas de alguns membros para evitar a perda de calor. Para a baleia-jubarte (Megaptera novaeangliae), seguir esse preceito seria difícil. Isso porque o animal pode chegar medir extensos 17 metros de comprimento. Então, para combater o frio das águas geladas, ela aposta na… gordura. Uma camada de 15 centímetros de espessura de gordura para manter o corpo aquecido. É por isso que, mesmo nadando no Ártico, sua temperatura corporal costuma ficar em torno de 37ºC.

A jubarte está presente em todos os oceanos, mas passa boa parte do tempo em latitudes mais frias. Quando as temperaturas caem excessivamente e a gordura não basta, adotam outra técnica: migram para águas mais quentes. Como suas nadadeiras são enormes - chegam a um terço do comprimento da baleia -, a viagem é tranquila. Só uns 25 mil quilômetros por ano.

 

- Pinguim-imperador


Se toda lista de animais tem o seus famosos, os pinguins certamente são os astros desta. Seja roubando um navio no filme Madagascar (2005) ou surfando em Tá Dando Onda (2007), eles ganharam as telas. Mas foi em Happy Feet (2006) que pudemos conhecer mais dos pinguins-imperadores (Aptenodytes forsteri), os escolhidos da lista. Estes imperadores são os soberanos da Antártida e os maiores de sua espécie. Também são as aves com maior densidade de penas do mundo. Em torno de 90% de seu calor corporal é retido pelas penas. Mas o sistema de aquecimento ainda vai mais longe.

Em terra, as penas ficam eretas e funcionam como um isolante do vento glacial. Na água, as penas grudam à pele e agem como impermeabilizante. Quando o frio chega a extremos, a colônia de pinguins se reúne em grupo para compartilhar calor. Uma vez reunidos, eles se movimentam de modo que todos, em algum momento, passem pelo meio do ajuntamento, isto é, o ponto mais quente. É um verdadeiro trabalho em comunidade. Para coroar seu título imperial, estes animais também não têm tempo ruim para reproduzir - são a única espécie a procriar em temperaturas que chegam a 40ºC negativos.