Após publicações polêmicas, J. K. Rowling posiciona-se no debate sobre gênero

A autora de Harry Potter tem sido acusada de sustentar comentários transfóbicos no Twitter desde 2019

14:22 | Jun. 11, 2020

Por: Redação O POVO
JK Rowling recebeu críticas nas redes sociais (foto: Reprodução/Facebook/J.K. Rowling)

A escritora J. K. Rowling tem se envolvido em polêmicas por publicar e apoiar comentários transfóbicos no Twitter desde 2019, época em que curtiu um tweet que chamava mulheres trans de "homens de vestido". Em maio deste ano, a autora de Harry Potter voltou a curtir uma publicação de um dos ativistas da organização "LGB Alliance" - que exclui o T da sigla -, e propagava fake news sobre outra mulher trans.  

Já no último domingo, 7, Rowling usou a rede social para comentar sobre uma matéria que falava sobre “pessoas que menstruam”, insinuando que o texto deveria ter dito apenas mulheres. A fala foi considerada transfóbica por ignorar que homens trans também menstruam, assim como mulheres trans não menstruam. A frequência dos comentários mobilizou a comunidade LGBTQI+ e apoiadores a tecer críticas à autora, com alguns chamando-a de TERF - uma sigla em inglês para o termo feminista radical trans-excludente.

Na tentativa de explicar seus posicionamentos, J. K. Rowling fez uma longa postagem em seu site oficial.  No texto, ela se diz interessada pelo debate de gênero há pelo menos dois anos antes de curtir o primeiro comentário polêmico, em dezembro de 2019. “Conheci pessoas trans e li vários livros, blogs e artigos de pessoas trans, especialistas em gênero, intersex, psicólogos, especialistas em salvaguardas, assistentes sociais e médicos, e segui o discurso on-line e na mídia tradicional”, defende-se.

LEIA TAMBÉM | Daniel Radcliffe responde aos tuítes de J. K. Rowling sobre identidade de gênero "Mulheres trans são mulheres"

Posicionamento

Basicamente, Rowling diz que está preocupada que o ativismo trans, pelo menos no Reino Unido, "ponha em risco a segurança de mulheres e meninas". De acordo com a escritora, “a atual explosão de ativismo trans está exigindo a remoção de quase todos os sistemas robustos pelos quais os candidatos à reatribuição sexual eram obrigados a passar”. Na concepção de futuro dela, o movimento fará com que “apenas” por se afirmarem transgênero, as pessoas receberão um “certificado de reconhecimento de gênero” do Governo.

Para exemplificar os “riscos”, Rowling diz que as “portas dos banheiros e vestiários” estariam abertas para “qualquer homem que acredite ou sinta que é mulher e deseje entrar”. Para as pessoas trans, no entanto, ser impedido ou impedida de utilizar o banheiro desejado é apenas um dos muitos momentos de violência simbólica vividos cotidianamente. 

Em nenhum momento do artigo a escritora pondera sobre as dificuldades e violências que a comunidade vive ao se assumirem trans. Pelo contrário, analisa que há uma tendência a mais mulheres quererem transicionar para fugir das violências do sexismo.

LEIA TAMBÉM | Brasil é o país mais violento para travestis e transexuais no mundo, revela estudo

O que explica a recusa em reconhecer a transexualidade?

A escritora finaliza o texto dizendo que seria mais fácil publicar “as hashtags aprovadas”, para ser bem vista aos olhos do público. “Tudo o que estou pedindo - tudo o que quero - é que uma empatia e um entendimento semelhantes sejam estendidos a milhões de mulheres cujo único crime é querer que suas preocupações sejam ouvidas sem receber ameaças e abusos”, conclui.