OMS explica mudanças de parecer técnico sobre hidroxicloroquina: "Esse é o processo normal da ciência"
A entidade insiste que ainda não existem evidências científicas que comprovem eficiência do remédio contra o coronavírusMesmo após retomar estudos com a hidroxicloroquina, a Organização Mundial da Saúde (OMS), até o momento, não incluiu o medicamento entre os produtos recomendados para tratamento ou para prevenção da Covid-19. Para Soumya Swaminathan, cientista-chefe da OMS, as idas e vindas em relação ao remédio são um "processo normal da Ciência".
A entidade insiste que, por enquanto, não existem evidências científicas que comprovem eficiência do remédio contra o novo coronavírus. Na última sexta-feira 5, Soumya disse que o atual ritmo de consideração não é o tradicional para o desenvolvimento e uso de um remédio. Ela indicou ainda que a cobertura diária da imprensa sobre o assunto pode confundir o público leigo. "Por isso que precisamos de mais um teste. É normal ter vários testes", esclareceu.
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Michael Ryan, diretor executivo da OMS, também negou que existam mensagens dúbias. "Esse é o processo normal da Ciência, que podem parecer confusos", disse. "Pedimos desculpas por mensagem confusas, mas seguimos a Ciência", afirmou.
Nessa segunda-feira, 8, Ryan voltou a ser questionado sobre os estudos com hidroxicloroquina. Durante entrevista coletiva, ele afirmou que a OMS continua a monitorar os números de seu estudo clínico "Solidariedade", e também outras investigações sobre o medicamento.
Ryan acrescentou que os números do estudo da OMS continuarão a ser avaliados, para determinar se o uso da hidroxicloroquina continuará a ser testado ou não. O diretor executivo completou ainda que a OMS avaliará os dados do ensaio clínico Recovery, do Reino Unido, que deve interromper os estudos com a hidroxicloroquina, como citado na semana passada pela própria organização.
Ele lembrou, de qualquer modo, que sempre há diferenças entre os estudos. "É desapontador, quer dizer, é sempre desapontador quando um teste não é bem-sucedido, porque é uma oportunidade potencial perdida. Mas temos de continuar a avaliar as evidências, um estudo não é nunca suficiente em termos de sinais clínicos positivos ou negativos. Grupos de pacientes podem diferir, as situações, as indicações terapêuticas e os resultados podem diferir", comentou.
Cloroquina e hidroxicloroquina
A cientista-chefe da OMS, Soumya Swaminathan, garantiu que a cloroquina jamais foi incluída nos testes realizados pela entidade, em seu programa que envolve dezenas de hospitais pelo mundo.
A OMS iniciou uma avaliação sobre quatro potenciais remédios para o tratamento da Covid-19. Ainda em abril, no momento de selecionar os produtos, porém, Soumya explicou que a opção foi por incluir a hidroxicloroquina.
Conforme ela declarou, os testes iniciais deram uma certa vantagem ao produto, sobre a cloroquina. "No início, ambas foram consideradas. Mas considerando eficiência, segurança e potencial de ter mais benefício, hidroxicloroquina foi selecionada", explicou.
Segundo ela, o remédio parecia ter uma vantagem sobre a cloroquina e, por isso, os especialistas recomendaram apenas um produto. Ainda que protocolos iniciais levassem o nome dos dois remédios, apenas um foi mantido. Os protocolos oficiais acabaram sendo logo modificados.
As polêmicas
O remédio tem sido alvo de ampla polêmica. No Brasil, a cloroquina é defendida amplamente pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e teria sido pivô da saída de dois ex-ministros da Saúde, que não concordavam com a ampliação do uso do medicamento. Em maio, porém, o Governo Federal anunciou mudanças no protocolo do medicamento, incluindo a possibilidade de uso por pacientes em quadros leves.
Uma semana depois, diante de evidências de falhas graves no estudo, a revista retirou o texto do ar. Na quarta-feira, 4, a Organização Mundial da Saúde anunciou que os ensaios clínicos com hidroxicloroquina seriam retomados, depois de serem suspensos para uma revisão de segurança.
Na sexta-feira, 5, pesquisadores de Oxford ainda publicaram os resultados iniciais de um novo estudo em que confirmam que a hidroxicloroquina não traz benefícios para evitar a mortalidade.
O resultado foi alvo de uma reunião entre os especialistas no Reino Unido e a OMS. Mas a agência de Saúde ainda vai esperar pelos dados de seu próprio estudo para tomar uma decisão definitiva. A cientista Soumya Swaminathan, da OMS, contudo, admitiu que os resultados de Oxford vão ser considerados na análise final.