Morte de George Floyd: Trump ameaça mobilizar Exército se protestos contra o racismo continuarem
Estados Unidos vivem momento de ebulição social desde que George Floyd, um homem negro, foi asfixiado e morto por um policial branco em Minneapolis. Trump teria chegado a se refugiar em um bunker
23:32 | Jun. 01, 2020
O presidente americano, Donald Trump, prometeu nesta segunda-feira, 1º, restaurar a ordem nos Estados Unidos após a maior explosão de protestos em décadas pela morte de um homem negro nas mãos de um policial branco, ameaçando os estados com a mobilização de militares se a violência não ceder.
Uma semana depois da morte de George Floyd, um homem negro de 46 anos que foi asfixiado por um policial branco que o imobilizou em Minneapolis, os protestos se espalharam de costa a costa do país e as manifestações, a maioria pacíficas, degeneraram em distúrbios na noite de domingo. Foram registrados atos até em países europeus.
Na capital, Washington, foram registrados distúrbios nas imediações da Casa Branca, com destroços, incêndios provocados pelos manifestantes, bandeiras americanas em chamas e muros grafitados com palavras de ordem contra a polícia. A Casa Branca ficou às escuras e o presidente teve que se abrigar em um bunker.
"O que aconteceu na cidade ontem à noite é uma desonra absoluta", disse Trump em discurso proferido na Casa Branca, ao mesmo tempo em que a Polícia dispersava um protesto a poucos metros da sede do Executivo americano.
Trump anunciou que mobilizará militares na capital para conter "os distúrbios, os saques, o vandalismo, os ataques e a destruição gratuita da propriedade".
"Estou enviando milhares e milhares de soldados fortemente armados", afirmou Trump, ameaçando as outras cidades com a mobilização do exército para "arrumar rapidamente o problema" se não tomarem decisões para frear os protestos.
Pouco depois de a polícia dispersar os manifestantes reunidos do lado de fora da igreja de Saint John, um edifício histórico perto da Casa Branca, danificado no domingo à noite à margem do protesto, Trump dirigiu-se ao local levando uma Bíblia em uma das mãos.
Nesta segunda, a prefeita de Washington antecipou em quatro horas o início do toque de recolher, que começou às 19 horas locais (21 horas de Fortaleza). Em Nova York, as restrições à circulação vão começar às 23 horas locais (1 hora de terça-feira em Fortaleza).
Durante o dia, Trump responsabilizou a "esquerda radical" pelas mobilizações e criticou os governadores, chamando-os de "fracos" e exigiu que "se imponham".
Protestos durante crise do coronavírus
Estes protestos ocorrem em um momento em que mais de 100.000 pessoas morreram nos Estados Unidos pelo novo coronavírus e em que as medidas tomadas para mitigar a pandemia acertaram um forte golpe na economia americana em um ano eleitoral.
A epidemia teve um impacto devastador na comunidade negra e alguns estudos mostram que esta população corre até três vezes mais riscos de morrer da doença do que os brancos.
"Temos filhos negros, irmãos negros, amigos negros e não queremos que morram", disse à AFP na localidade de Saint-Paul Muna Abdi uma manifestante negra de 31 anos.
"Estamos cansados de que isto se repita, esta geração não vai permiti-lo", afirmou.
Autópsia aponta homicídio
A família de George Floyd divulgou nesta segunda-feira os resultados de uma segunda necropsia, que apontaram que o policial provocou-lhe asfixia mecânica, contradizendo as conclusões de um exame preliminar.
Os resultados definitivos entregues pelas autoridades do condado de Hennepin também se alinharam a esta tese e determinaram que Floyd morreu vítima de "homicídio", devido a uma "compressão no pescoço".
Também revelaram que a vítima tinha consumido fentanil, uma poderosa droga sintética.
As imagens da morte de George Floyd, depois de ser imobilizado pelo policial que pressionou o joelho contra seu pescoço durante nove minutos, causaram indignação na opinião pública. Trump condenou a morte de Floyd, mas também se referiu aos manifestantes como "pistoleiros".
Minneapolis: entre a dor e a revolta
Em Minneapolis, o irmão do falecido visitou um memorial improvisado no local do crime. Terrence Floyd pegou um megafone e disse: "Parem de pensar que nossas vozes não importam e votem" e pediu o fim da violência.
No centro da polêmica está o tratamento judicial que o policial Derek Chauvin, que está preso, terá pela morte de Floyd. Ele foi denunciado por homicídio culposo e deveria ter se apresentado a um tribunal nesta segunda-feira, mas a audiência foi adiada pra 8 de junho.
Depois de exibido um vídeo mostrando que outros policiais também mobilizaram o tronco e as pernas do falecido, os manifestantes pedem que os outros três agentes também sejam detidos.
Em muitos protestos, os manifestantes ficaram de joelhos, repetindo um gesto popularizado por esportistas para denunciar a violência policial contra os negros nos Estados Unidos. O jogador de futebol americano Colin Kaepernick iniciou com o protesto e, desde então, não conseguiu contrato novo na NFL;
Vários vídeos mostraram policiais em Santa Cruz, Califórnia, Nova Jersey e Michigan fazendo o gesto para dialogar com os manifestantes.
Mas em outra dezena de cidades, a tônica foi o envio de unidades da tropa de choque e efetivos da Guarda Nacional. Esta resposta esteve acompanhada do uso de blindados para transportar as tropas, assim como bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha.
Joe Biden, que provavelmente será o candidato democrata para enfrentar Trump em novembro, reuniu-se nesta segunda-feira com líderes comunitários negros em uma igreja e prometeu a eles combater o "racismo institucional".
Biden é o único concorrente democrata para enfrentar Trump nas eleições de 3 de novembro, mas ainda precisa ser nomeado formalmente na convenção de seu partido.