Europeus desafiam EUA e avançam em sistema que burla sanções ao Irã
Países europeus colocaram em operação um sistema de pagamentos que permite burlar parte das sanções americanas ao Irã. A república islâmica, entretanto, considera a iniciativa insuficiente para impedi-la de voltar a enriquecer urânio em patamar que viola o pacto nuclear firmado em 2015 e abandonado pelos EUA no ano passado.
O Irã até reconheceu ontem que "progressos" foram feitos para auxiliar o país a superar o efeito das sanções americanas, mas não se mostrou satisfeito. "Não acredito que o progresso que alcançamos hoje (ontem) seja considerado suficiente para deter nosso processo, mas a decisão não é minha", afirmou o vice-ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, após uma reunião com diplomatas em Viena.
Alemanha, China, França, Reino Unido e Rússia forneceram mais detalhes sobre o sistema batizado de Apoio à Troca Comercial (Instex, na sigla em inglês), mecanismo que permitirá operações econômicas entre países europeus e o Irã, contornando as sanções dos EUA.
Segundo Araghchi, o Instex já está em operação, mas países europeus ainda não voltaram a comprar o petróleo iraniano, principal produto de exportação duramente afetado pelas sanções americanas. "Para que o Instex seja útil para o Irã, os europeus devem comprar petróleo ou considerar uma linha de crédito para este mecanismo", disse Araghchi.
Apesar de anunciar um novo encontro "para as próximas semanas", o representante iraniano frisou que a decisão de aumentar o nível de enriquecimento de urânio e a quantia produzida "já foi tomada" por Teerã, e o processo será mantido, a menos que se cumpram expectativas iranianas. Teerã exige poder exportar seu petróleo para permanecer no acordo nuclear de 2015 e restabelecer o nível de venda anterior a maio de 2018, quando os EUA saíram do pacto.
Ao final da reunião de ontem, a China disse que continuará a importar petróleo iraniano. "Não aceitamos a chamada política de tolerância zero dos EUA", disse à imprensa Fu Cong, diretor-geral de controle de armas do Ministério das Relações Exteriores da China. "Nós rejeitamos a imposição unilateral de sanções."
Em meio às tensões entre EUA e Irã, a intenção dos iranianos de violar o acordo nuclear é considerada preocupante pelos diplomatas europeus. O pacto obriga Teerã a produzir no máximo 300 quilos de urânio, enriquecido a 3,6%, utilizado para geração de energia. Em 17 de junho, o governo iraniano afirmou que dentro de um prazo de dez dias - vencido na quinta-feira - estaria com estoque maior do que o permitido.
O governo iraniano assinalou que se encontra a poucos quilos de superar o patamar, o que ainda deverá ser confirmado pelos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Diplomatas que acompanham o trabalho dos inspetores da ONU afirmaram à Reuters que os dados adquiridos por eles sugerem que o Irã ainda não havia ultrapassado o limite do estoque no prazo do dia 27, mas alcançaria sua meta neste fim de semana.
Outro prazo estabelecido para o dia 7 de julho pelo Irã é para que a produção seja feita a um nível de enriquecimento de urânio maior do que o estabelecido pelo acordo, de 3,6%. O país pretende enriquecer urânio a 20%, o que o deixaria mais perto da produção de material para armas atômicas. (Com agências internacionais)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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