Presidente da Argélia renuncia após 20 anos no poder

Autor DW Tipo Notícia
Abdelaziz Bouteflika entrega carta de demissão após quatro mandatos à frente do país africano. Com isso, ele cede à pressão do chefe do Exército e da população, que protagonizou onda de protestos contra o governo.O presidente da Argélia, Abdelaziz Bouteflika, apresentou sua renúncia ao cargo com efeito imediato nesta terça-feira (02/04), segundo informou a imprensa estatal do país. Há 20 anos no poder, ele cede à pressão do Exército e das manifestações populares em massa."Tenho a honra de notificá-los formalmente sobre a minha decisão de encerrar meu mandato como presidente da República a partir de hoje, terça-feira", escreveu o líder argelino em sua carta de renúncia, revelada pela agência de notícias estatal APS."Esta decisão, que eu tomo com minha alma e consciência, é destinada a contribuir para o apaziguamento dos corações e mentes de meus compatriotas e a permitir que eles carreguem a Argélia em direção a um futuro melhor, ao qual eles legitimamente aspiram."Imagens exibidas pela televisão estatal mostraram Bouteflika vestido com uma túnica bege, sentado em sua cadeira de rodas, entregando a carta de renúncia ao chefe do Conselho Constitucional do país, Tayeb Belaiz.O anúncio foi seguido de comemorações nas ruas da capital do país, Argel, onde multidões de argelinos se reuniram e ergueram bandeiras, enquanto carros promoviam um "buzinaço".A presidência da Argélia já havia antecipado nesta segunda-feira que Bouteflika renunciaria ao cargo antes de 28 de abril, data que marcaria o fim de seu quarto mandato no comando do país.A decisão desta terça foi divulgada pouco depois de o chefe de gabinete do Exército e vice-ministro da Defesa da Argélia, general Ahmed Gaid Salah, ter exigido a demissão imediata do presidente e pedido uma "solução constitucional" para tirar o país da crise.Considerado um dos homens mais fiéis a Bouteflika, Gaid Salah sugeriu usar os artigos 7º, 8º e 102 da Constituição, que permitem destituir o presidente. Na semana passada, ele já havia defendido que o chefe de Estado fosse declarado incapaz de governar.É raro ver o Exército intervindo diretamente em crises políticas na Argélia, mas as centenas de milhares de pessoas que vêm pressionando Bouteflika a deixar o poder, enquanto aliados importantes o abandonam, levaram os militares a tentar restaurar a ordem.Segundo a Constituição argelina, assim que a renúncia de Bouteflika for formalizada, será o líder da câmara alta do Parlamento, Abdelkader Bensalah, quem assumirá interinamente a presidência do país durante um período máximo de 90 dias, enquanto são organizadas novas eleições.Presidente-fantasmaBouteflika, de 82 anos, assumiu em 1999 a presidência do país norte-africano. Em 2013, ele sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) que o colocou numa cadeira de rodas e o impediu de participar da campanha para as eleições presidenciais de 2014. Mesmo assim, venceu o pleito.Desde então, Bouteflika não fala em público. Suas aparições são raras, limitadas a imagens gravadas pela emissora estatal durante conselhos de ministros e visitas de líderes estrangeiros.Faz cinco anos que ele não viaja para compromissos no exterior. Chegou a cancelar de última hora, alegando recaídas de saúde, reuniões já confirmadas com líderes como a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman.Com preocupações crescentes, nos últimos anos, sobre se a saúde debilitada de Bouteflika lhe permite tomar decisões e agir de forma independente, os detalhes sobre a saúde do presidente vêm sendo tratados como segredo de Estado. Recentemente ele retornou ao país após duas semanas de internação num hospital na Suíça.A oposição argelina acusa Bouteflika de ser um presidente "fantoche de militares", que apenas dá rosto civil a um governo comandado pelas Forças Armadas há décadas, desde que o país conquistou sua independência da França, em 1962.O governo é também acusado de corrupção, de enriquecer às custas do país rico em gás e de não atender às preocupações dos cidadãos comuns, especialmente os jovens pobres.Manifestantes têm ido às ruas da Argélia desde o fim de fevereiro para exigir que Bouteflika deixe o poder. Em um primeiro momento, os protestos fizeram o presidente desistir de se candidatar para um quinto mandato nas próximas eleições presidenciais. O anúncio, contudo, não foi suficiente para acalmar a população, que seguiu indo às ruas.EK/afp/ap/efe/dw_______________A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube | WhatsApp | App | Instagram | Newsletter

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