Trump e Kim Jong-un: o que está em jogo no aperto de mãos que mexe com o mundo

O encontro histórico entre os líderes norte-americano e norte-coreano pode suavizar tensões nesta região da Ásia. A desnuclearização da Coreia do Norte, negociada pelos Estados Unidos, torna a área mais estável e menos propensa a conflitos

13:09 | Jun. 06, 2018

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[FOTO1]O mundo não podia esperar um aperto de mãos entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, após a longa troca de críticas e até insultos na mídia e nas redes sociais. No entanto, o encontro anunciado no último dia 8 de março teve data e lugar marcados na última segunda-feira, 4, após Trump cancelar e depois voltar atrás. Os líderes devem se reunir na próxima terça-feira, 12, às 9 horas (20 horas do dia 11, no horário de Brasília), em Singapura. As negociações que podem ser travada nessa histórica reunião definem contornos na política internacional.

Um dos principais pontos da discussão é o programa nuclear e balístico da Coreia do Norte. Desde 2006, o país já realizou seis testes nucleares, que se tornaram cada vez mais avançados com o passar do tempo. O quinto e o sexto já tinham potencial explosivo estimado da ordem de duas a três vezes mais do que as bombas  que os Estados Unidos usaram contra Hiroshima e Nagasaki nos últimos dias da 2ª Guerra Mundial. Em 2017, a Coreia do Norte testou sua arma nuclear mais poderosa e lançou três mísseis balísticos intercontinentais que seriam, supostamente, capazes de alcançar o continente americano.

[FOTO4]O governo norte-americano tem sido incisivo em relação à negociação com o país: não existe acordo sem desnuclearização. “Temos sanções, elas são muito poderosas e não vamos retirá-las, a menos que a Coreia do Norte seja desnuclearizada”, anunciou a porta-voz dos Estados Unidos, Sarah Sanders, na ocasião do anúncio da data e local da reunião entre os líderes. 

As sanções, inclusive, são grande parte do motivo de Kim querer entrar em uma negociação agora, após tanto tempo de atrito. Com a economia norte-coreana afetada pelos entraves impostos pelos Estados Unidos e pelo Conselho de Segurança da ONU, um acordo com Trump e a desnuclearização do país seria melhor que a perda do poder no regime ditatorial. Com a jogada, a Coreia do Norte perderia poderio militar, mas ganharia politicamente.

Para o presidente do instituto Casa Política, Márcio Coimbra, a mudança de comportamento e a abertura para um acordo também se dá devido à imprevisibilidade de Trump. “Trump elevou a temperatura da discussão, quando a Coreia do Norte falava grosso, Trump falava mais grosso ainda”, compara. O medo de uma possível invasão também pode ter sido motivo para o regime norte-coreano “colocar as barbas de molho”, segundo ele.
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O que muda caso a reunião seja bem sucedida
A desnuclearização da Coreia do Norte deve evitar conflitos, e mesmo guerras. A região entre as Coreias e proximidades é tensa, com outros países como China e Japão tendo envolvimento nesse tabuleiro. A retirada de armas químicas deixa a área mais estável. “Pode ser o início de um processo que torna a região mais segura”, considera o também especialista em direito internacional pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

A transição, no entanto, deve ser lenta. Márcio estima que a desnuclearização deve demorar entre três e cinco anos, para que seja possível completar um cuidadoso processo de maturação. Durante esse tempo, os Estados Unidos já se declararam dispostos a  fornecer garantias de segurança ao regime de Pyongyang, que sempre considerou o seu arsenal nuclear uma espécie de seguro de vida. 

A Coreia do Norte já afirmou querer "avançar para uma desnuclearização da península coreana", rejeitando um desarmamento unilateral. A mudança aumenta a probabilidade de, enfim, haver paz na região, dividida desde a Segunda Guerra Mundial. A reunião entre os dois líderes não resolve todos os problemas de imediato, mas é um começo para um processo longo de pacificar a área. 

[FOTO2]Um acordo entre Trump e Kim também pode diminuir a presença militar dos EUA entre as Coreias e no Japão. Márcio Coimbra aponta que isso diminui tensões entre os dois países e é benéfico para a China, que tem influência na região e observa as negociações de perto, planejando ações a longo prazo. O comércio na Coreia do Norte também deve melhorar, recuperando a economia abatida do país. “Todos ganham com isso”, diz o especialista.

A desnuclearização é possível?
Márcio Coimbra acredita que sim. “O mínimo que a Coreia pode entregar é a desnuclearização”, afirma. A mudança é benéfica para o país e permite que o regime norte-coreano possa manter o controle, então, Kim deve ceder. Esse é o objetivo principal da reunião segundo Márcio, que rejeita que o encontro seja uma jogada de marketing para ambos países. “Os dois podem lucrar, mas um fracasso teria efeito contrário. Eu vejo disposição de tentar chegar a um acordo”, esclarece.

A conversa entre os dois países é inédita, pelo menos se levando em consideração líderes em exercício. Durante toda a Guerra Fria e mesmo depois dela, nunca um dos presidentes dos EUA se encontrou pessoalmente com um mandatário norte-coreano. Em 1994, delegações de funcionários dos dois governos firmaram um acordo nuclear entre Washington e Pyongyang, a capital norte-coreana. 

[FOTO3]Outra tentativa de aproximação também ocorreu em 2000, quando a então secretária de Estado dos EUA, Madeleine Albright, viajou para Pyongyang e chegou a tratar de um encontro entre Clinton e o ex-líder norte-coreano Kim Jong Il, pai de Kim Jong-un. O acordo, no entanto, não se firmou antes da eleição de George W. Bush. A negociação fracassou depois que agências de inteligência dos EUA descobriram que a Coreia do Norte estava buscando por outras formas de produzir bombas, usando o enriquecimento de urânio.

Os resultados das tentativas de reuniões anteriores nunca foram profundos, já que não havia encontros de alta cúpula. A situação deve mudar no dia 12 de junho. “A grande chance de chegar a algum lugar é agora”, crê Márcio.