Os ecos do Maio de 1968 nas lutas políticas do Brasil e do mundo
A busca pelos direitos civis, igualdade, liberação sexual e diversidade cultural marcaram a militância de massa e as lutas cujos efeitos seriam vistos pelas próximas décadas
13:14 | Mai. 21, 2018
Período de reviravoltas, maio de 1968 é marco histórico. A agitação social, política e cultural iniciada nos arredores de Paris foi prenúncio (ainda em março daquele ano) do que ecoaria em outros países - por razões divergentes, inclusive. Cinquenta anos depois, a onda de protestos, greves e enfrentamento a autoridades ainda influencia lutas marcantes para os movimentos negro, feminista e trabalhista.
[FOTO1]
O que começou com manifestações estudantis para pedir reformas no setor educacional culminou em greve trabalhista, chacoalhou e desestabilizou o então presidente da França, general Charles de Gaulle. Foi a maior greve geral da Europa, com adesão de mais de 9 milhões de pessoas.
[QUOTE2]
No dia 3 de maio de 1968, universitários saíram em passeata sob o comando do líder estudantil Daniel Cohn-Bendit, que futuramente seria deputado no Parlamento Europeu. A polícia reprimiu os estudantes com violência. A reação do governo estimulou o apoio do Partido Comunista Francês.
LEIA AINDA | 1960: Entre paus, pedras e "bilas", a década de resistência no Ceará
Pressionado, De Gaulle convocou eleições para junho. Mas a manobra política desmobilizou os estudantes e promessas de aumentos salariais conseguiram fazer os operários voltarem às fábricas. As eleições foram vencidas por aliados de De Gaulle.
“Em 1965, uma mulher casada tinha que pedir permissão ao marido para abrir uma conta bancária. Hoje você tem uma aceitação da autonomia da homossexualidade, apesar da Igreja ainda ter seus problemas. Há uma aceitação da diversidade dos indivíduos. Uma ideia de direitos humanos e democracia”, declararia Cohn-Bendit à agência de notícias AFP, décadas depois.
[FOTO2]
Saiba Mais: Na época, eram instrumento de luta slogans irônicos e anti-autoritaristas como "Imaginação ao poder", “Abaixo o realismo socialista. Viva o surrealismo”, “Ceder um pouco é capitular muito”, “Consuma mais, viva menos”.
Brasil
A socióloga e historiadora Dulce Pandolfi, em entrevista ao O POVO Online, concorda que os movimentos de maio de 68 marcaram o século XX. “Foi emblemático. Você ainda tem nesse ano manifestações nos EUA e em países da América Latina, incluindo o Brasil. Mas no contexto local, era decorrente do golpe de 1964. A ditadura era nosso plano de fundo”, explica.
[FOTO3]
No País, a luta se assemelhava por envolver jovens e abranger questões contrárias ao tradicionalismo moral, além de reivindicações estudantis. A repressão militar também era acentuada, devido ao endurecimento do regime militar e à censura política instaurada.
[QUOTE3]
“A grande inquietação da juventude brasileira também englobava questões estudantis, como o corte de vagas, recursos e de autonomia das universidades. De 1945 a 1964, houve crescente no ingresso ao ensino superior. O golpe corta isso tudo. Foi um massacre cultural com efeitos enormes na sociedade”, completa Dulce.
No período, a busca pelas liberdades era comum aos movimentos, mundialmente: a tentativa de rompimento com conservadoras estruturas políticas e morais. Para o feminismo, foi a época de defesa da pílula anticoncepcional, direito ao divórcio e minissaia, por exemplo.
“Tivemos avanços, a gente não retrocedeu desde então. A luta deixou sementes no mundo, como a participação popular e a cidadania”, finaliza Dulce.
[FOTO5]
Panorama
Os Estados Unidos estavam mergulhados na Guerra do Vietnã. A opinião pública passou a rejeitar a guerra após as imagens que a TV mostrava da ofensiva do Tet, momento em que os vietcongs atacaram tropas norte-americanas, a partir de janeiro. O movimento hippie fazia questionamentos similares aos dos jovens franceses. Soma-se a luta pelos direitos civis, encabeçada por nomes como Malcom X, Panteras Negras e o líder negro Martin Luther King Jr., assassinado naquele ano.
[FOTO4]
Na Tchecoslováquia, tropas soviéticas impediram a implantação do “socialismo humano” proposto por Alexandre Dubcek durante o período que ficou conhecido como Primavera de Praga.
No México, centenas de estudantes foram agredidos durante um protesto às vésperas da realização dos Jogos Olímpicos no país.