Presidente François Hollande participa de cerimônias nos locais onde há um ano ocorreram os ataques terroristas em Paris. Jornal satírico lança edição especial com críticas aos fundamentalistas e ao governo.
O presidente François Hollande, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, e familiares das vítimas dos ataques terroristas de janeiro de 2015 participaram nesta terça-feira (05/01) de cerimônias em memória dos mortos nos ataques ao jornal satírico Charlie Hebdo e em outros pontos de Paris. Uma série de homenagens está programada até o fim da semana.
Uma placa com os nomes das 11 vítimas do Charlie Hebdo foi inaugurada em frente à antiga sede do semanário, com os dizeres "em memória das vítimas do ataque terrorista contra a liberdade de expressão".
Os atuais funcionários do periódico se mudaram recentemente para um novo local de trabalho, em endereço desconhecido.
Após a cerimônia, o presidente e demais autoridades estiveram num local próximo à antiga sede do jornal para a inauguração de outra placa, na rua onde a 12ª vítima daquele dia o policial Ahmed Merabet foi morta pelos dois terroristas durante uma perseguição.
Hollande compareceu também a outra cerimônia no mercado judaico Hyper Cache, onde quatro pessoas foram assassinadas, num atentado que reacendeu as preocupações sobre o antissemitismo na França, país que abriga a maior comunidade judaica da Europa.
O presidente conversou com alguns dos sobreviventes, incluindo o imigrante do Mali Lassana Bathily, funcionário do mercado que escondeu um grupo de reféns em um depósito no subsolo. Ele conseguiu sair do local durante o cerco e ajudou a polícia na operação que libertou 15 reféns e matou o sequestrador. Bathily foi condecorado como herói e recebeu a cidadania francesa.
Edição especial do Charlie Hebdo
Chega às bancas nesta quarta-feira uma edição especial do primeiro aniversário do atentado contra a redação do semanário satírico Charlie Hebdo. A capa traz a manchete "Um ano depois, o assassino ainda está à solta" e a caricatura de um deus correndo com a barba e as vestes ensanguentadas e um fuzil nas costas.
A edição especial inclui um caderno com desenhos dos cartunistas mortos há um ano Cabu, Wolinski, Charb, Tignous, Honoré e de colaboradores externos, entre os quais a ministra francesa da Cultura, Fleur Pellerin, atrizes como Isabelle Adjani, Charlotte Gainsbourg e Juliette Binoche, intelectuais como Élisabeth Badinter, Taslima Nasreen (Bangladesh) e Russell Banks (Estados Unidos) e o músico Ibrahim Maalouf.
O Charlie Hebdo acusa tanto os fundamentalistas islâmicos quanto o governo hesitante pelos atos de violência ocorridos na França em 2015, que culminaram no massacre do dia 13 de novembro, quando 130 pessoas morreram em ataques perpetrados em diferentes pontos de Paris.
No editorial da edição especial, o cartunista Riss, que foi gravemente ferido no atentado e é o atual diretor do semanário, afirma que, desde a publicação das famosas caricaturas do profeta Maomé, em 2006, "muitos esperavam que nos matassem". Ele inclui nesse grupo "fanáticos embrutecidos pelo Alcorão" e também seguidores de outras religiões que "nos desejavam o inferno em que creem por termos nos atrevido a rir da religião".
Riss diz ainda que nunca teve tanta vontade de seguir adiante com a publicação como após o atentado de janeiro. "Nunca tivemos tanto desejo de quebrar a cara daqueles que sonharam com o nosso desaparecimento. Não serão uns idiotas encapuzados que vão destruir o trabalho de nossas vidas e todos os momentos formidáveis que vivemos com aqueles que morreram."
"As convicções dos ateus e dos laicos podem mover ainda mais montanhas do que a fé dos crentes", conclui o cartunista.
A França continua em estado de emergência após os ataques de 13 de novembro. A segurança foi reforçada em torno da data do aniversário do ataque ao Charlie Hebdo.
RC/afp/ap/edp