Escândalo na Petrobras não deve afetar Dilma, avaliam analistas
Nova denúncia de corrupção na Petrobras só teria efeito eleitoral se nome da presidente aparecesse nas denúncias, comentam especialistas. Já Aécio Neves pode se beneficiar, mas deve ter cuidado ao explorar o caso.
A menos de 30 dias do primeiro turno das eleição presidencial, o depoimento de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras, à Polícia Federal, sobre políticos beneficiados por um esquema de corrupção na estatal, acendeu a luz vermelha nas campanhas da presidente Dilma Rousseff e da ex-senadora Marina Silva. Mas, segundo especialistas, o caso não deve provocar uma grande guinada no panorama eleitoral brasileiro.
O depoimento do ex-diretor, divulgado pela revista Veja no sábado passado (06/09), deixou os coordenadores das campanhas do PT e do PSB apreensivos, já que Costa denunciou políticos do PT, PMDB e PP que formam a base aliada do governo Dilma e também o ex-governador de Pernambuco e presidenciável Eduardo Campos, que morreu num trágico acidente aéreo no último dia 13 de agosto.
"De imediato, não há nada que ligue o escândalo diretamente ao nome de Dilma e, portanto, o potencial da denúncia não é tão destrutivo para a campanha dela", afirma o sociólogo Rodrigo Prando, do Mackenzie. "Mesmo com o envolvimento de gente graúda do PT, se não houver citação nominal da presidente, acho improvável uma guinada na intenção de voto dos eleitores."
Ele afirma, ainda, que o eleitor já está "anestesiado" por conta dos casos de corrupção nos últimos anos. Como exemplo, cita o Mensalão, que teve grande repercussão na mídia e, mesmo que integrantes do primeiro escalão do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenham sido presos, este conseguiu ser reeleito e, ainda, eleger sua sucessora, a presidente Dilma Rousseff.
Christina Peters, diretora do escritório regional da Universidade Livre de Berlim em São Paulo, argumenta que as alegações feitas no depoimento não são conclusivas e agora cabem às instituições democráticas a investigação e o esclarecimento das suspeitas. Para a historiadora, novos esclarecimentos, portanto, devem ser aguardados.
"É normal numa campanha em estágio avançado haver a tentativa de acentuar escândalos políticos", afirma Peters. "Por isso, não acredito que as denúncias necessariamente terão um impacto tão forte sobre o comportamento do eleitor na atual fase da campanha."
Possível chance para Aécio
O novo escândalo envolvendo a Petrobras pode dar um fôlego à candidatura de Aécio Neves, que está na terceira colocação segundo a última pesquisa do Datafolha, divulgada em 30 de agosto, com 15% das intenções de voto. Na mesma sondagem, Dilma e Marina estão empatadas, com 34% cada.
Para o cientista político Leonardo Paz, professor do Ibmec/RJ e coordenador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), o candidato do PSDB pode se beneficiar com as denúncias, mas deve ter cuidado ao exercer críticas, principalmente ao ex-governador Eduardo Campos, que morreu há menos de um mês.
"Essa seria uma estratégia perigosa para Aécio, pois ele poderia ser criticado por acusar quem não pode se defender. Dessa forma, acho que Marina não deve ser muito impactada por conta das denúncias que foram dirigidas a Eduardo Campos", cita Paz, para quem é necessário ainda esperar que as investigações apresentem fatos mais concretos em relação ao suposto envolvimento do governo federal e de Campos.
O especialista lembra, também, que informações mais comprometedoras não viriam de Aécio, mas da Justiça ou da Polícia Federal. Para Paz, o tucano deve se restringir apenas a relembrar aos eleitores o que os jornais estão divulgando. Assim seria difícil dizer se ele poderia mesmo se beneficiar com as denúncias.
"Até o momento, a sua coordenação de campanha não conseguiu usar quase nenhum dado negativo do governo a seu favor", ressalva.
Delação premiada
Segundo a reportagem da revista Veja, Costa denunciou pelo menos 25 deputados federais, seis senadores e um ministro. Os políticos denunciados teriam recebido uma comissão de 3% sobre o valor de cada contrato firmado durante a gestão de Costa na estatal, que foi nomeado por Lula em 2004 e ocupou o cargo até 2012, segundo ano do governo Dilma.
O ex-executivo da estatal resolveu fazer uma delação premiada no dia 22 de agosto, depois que a Polícia Federal realizou buscas nas empresas de suas filhas, genros e de um amigo dele e encontrou indícios de que Costa tem contas no exterior. Sem a delação, Costa poderia ser condenado a mais de 30 anos de prisão. Com a colaboração, porém, a Justiça poderá reduzir a pena do ex-diretor em até dois terços ou até mesmo livrá-lo de todas as acusações.
De acordo com a publicação, Costa citou, entre outros políticos, os nomes da governadora Roseana Sarney (MA) e dos ex-governadores Sérgio Cabral (RJ) e Eduardo Campos (PE); do ministro das Minas e Energia, Edilson Lobão; dos senadores Renan Calheiros (PMDB-AL), Romero Jucá (PMDB-RR) e Ciro Nogueira (PP-PI); e dos deputados Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), Cândido Vacarezza (PT-SP), Mário Negromonte (PP-BA) e João Pizzolatti (PP-SC).
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